O governador João Doria (PSDB) disse nesta quinta-feira, 3 de dezembro, que apresentará no dia 7 um programa de imunização no Estado de São Paulo para aplicação da CoronaVac. O tucano disse estar “indignado” com a previsão do governo federal de que iniciaria a aplicação do imunizante apenas em março, uma vez que, segundo ele, a vacina estaria pronta para uso já em janeiro.
“Não serei irresponsável como está sendo o governo federal ao colocar para março vacinação que deveria começar em janeiro. Um ato de absoluta irresponsabilidade do governo federal”, disse Doria. Para o governador, um “atraso de 90 dias” equivale à morte evitável de quase 60 mil brasileiros por “irresponsabilidade de um governo ideológico”.
São Paulo recebeu ontem 600 litros a granel da vacina CoronaVac, correspondente a um milhão de doses. Com esta remessa já são 1.120.000 doses enviadas pela farmacêutica chinesa Sinovac Life Science ao estado. Esta é a segunda remessa a chegar ao país, sendo a primeira de 120 mil doses prontas recebida no dia 19 de novembro.
Ao todo serão 46 milhões de doses, sendo seis milhões já prontas para aplicação e 40 milhões em forma de matéria-prima para produção, envase e rotulagem em fábrica própria do Instituto Butantan. O embarque dos insumos aconteceu na quarta-feira (2) em Pequim, em um voo comercial da Swiss Air Lines que fez escala em Zurique, na Suíça, antes do desembarque no Brasil, na manhã desta quinta-feira, no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
A vacina a granel foi acondicionada em três bags de 200 litros cada, colocados em um equipamento refrigerado a temperaturas de 2 ºC a 8 ºC. A matéria-prima será envasada pelo Butantan em frascos multidoses, conforme a configuração utilizada nas campanhas de vacinação do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
O processo de envase desta primeira remessa de insumos deve levar de quatro a sete dias e envolverá, diretamente, cerca de 40 colaboradores do Butantan. A produção será ininterrupta. “Estamos cumprindo mais uma etapa fundamental para disponibilizar a vacina em tempo recorde aos brasileiro”, diz o diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas. Ele ressalta que os testes estão em fase final e deve pedir o registro definitivo da vacina à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e não o de uso emergencial.
“A tecnologia e expertise do Butantan já nos permitem realizar parte do processo produtivo em nossa própria fábrica, e estamos trabalhando para muito em breve podermos produzir integralmente a vacina, mediante processo de transferência de tecnologia por parte da Sinovac”, afirma. O secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, acompanhou a chegada do novo lote ao lado de Doria e Dimas Covas.
O lote ainda passará por testes que vão aferir e validar a qualidade do produto e também do processo produtivo. As demais remessas chegarão no decorrer das próximas semanas. Já a disponibilização para a população ocorrerá somente após a comprovação da eficácia, que deverá acontecer após a conclusão da terceira fase dos estudos clínicos e posterior aprovação e registro por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O imunizante se encontra na fase final de testes clínicos em humanos no Brasil e deverá ter os resultados de eficácia anunciados na primeira quinzena de dezembro. No momento estão sendo analisados 74 voluntários que se infectaram com o coronavírus. O número ultrapassou o mínimo necessário, de 61 casos, para a abertura dos estudos e análise.
Os dados extraídos desta análise serão enviados pelo Comitê Internacional Independente para a avaliação e aprovação da Anvisa. Coordenado pelo Instituto Butantan, os testes envolvem 13 mil profissionais de saúde em 16 centros de pesquisa de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.
Na região, participam dos testes o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP/USP) e o Hospital do Amor, em Barretos. O HC já finalizou a primeira fase de testes da nova vacina contra o coronavírus. Foram selecionados 300 voluntários.
Segurança e eficácia
No último dia 19 de outubro o governo de São Paulo e o Butantan anunciaram que a CoronaVac é a mais segura entre as vacinas que estão em etapa final de estudos clínicos no Brasil. Do total de voluntários que receberam vacina ou placebo, apenas 35% apresentaram algum tipo de reação adversa, mas todas elas classificadas como leves, como febrícula ou dor no local da aplicação.
Nenhuma reação adversa grave foi registrada. Já em novembro a revista científica Lancet, uma das mais importantes no mundo, publicou os resultados de segurança da CoronaVac na fases I e II, realizados na China, com 744 voluntários. A publicação mostrou que a vacina é segura e tem capacidade de produzir resposta imune no organismo 28 dias após sua aplicação em 97% dos casos.