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Elevados e minhocões

Sérgio Roxo da Fonseca *
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O jornalista e historiador Élio Gaspari, no jornal Folha de S. Paulo de 3.7.11, registra que no Brasil ainda se propõe a construção de elevados e minhocões numa época em que não somente são condenados nos países desenvolvidos, como até mesmo são demolidos como em Nova York e em Boston. Os melhores urbanistas do passado e do presente lançaram graves condenações contra as construções de elevados e minhocões, responsáveis pela implantação de mais problemas do que por inaugurar boas soluções. Há dois exemplos esclarecedores.

O minhocão da cidade de São Paulo, fazendo reverência à civilização do automóvel, matou uma das mais belas áreas urbanas, o entorno da Avenida São João. Na época de sua construção, o secretário de defesa norte-americano Robert McNamara condenou o projeto, recomendando ao Prefeito Paulo Maluf a aplicação da monumental verba na implantação de transportes coletivos, como no metrô. Estava certo, mas não foi ouvido. Gastaram-se trinta e sete bilhões de cruzeiros. A batalha disputada entre o metrô e o automóvel venceu o automóvel. O privado derrotou o público!

O minhocão de Santiago do Chile, muito melhor, é subterrâneo, daí resultando a desnecessidade de desapropriações, tendo o mérito de não contribuir para a favelização da zona urbana.

O exemplo rural é o da Ferrovia do Aço construída para ligar Belo Horizonte-Rio-São Paulo com o quadrilátero do ferro de Minas Gerais. O primeiro contrato, celebrado durante o regime militar, portanto em 1976, consumiu 262 milhões de dólares. Seu traçado veio cortando as montanhas mineiras, em linha reta, sobre elevados e túneis. Um desses túneis e o mais extenso de nossas ferrovias, com quase nove quilômetros. A obra está inacabada. Provavelmente nunca será terminada. Nenhum trem até hoje cortou a agônica ferrovia. Trata-se do mais silencioso escândalo da República.

Há autores que se julgam levados a examinar nossos elevados com obras semelhantes edificadas no passado remoto, em contraste com as obras edificadas pelos romanos na época em que estes últimos dominavam a Península Ibérica com os elevados que recentemente desabaram em São Paulo.

Vários elevados foram construídos pelos romanos. Um dos mais famosos é o Aqueduto de Segóvia que foi construído nos primeiros anos da Era Cristã. O edifício alcança a altura de um prédio de cinco andares dos nossos tempos. Trata-se de uma obra majestosa que nasceu há dois mil anos.

Mas, no Brasil não temos obras semelhantes? Com certeza que sim, como, por exemplo, o enorme viaduto que liga o centro da cidade do Rio de Janeiro com o Morro de Santa Teresa.

Há enormes diferenças entre uma obra e outra: a técnica operada. De qualquer maneira, as duas não desabaram. Uma usando metais para sua segurança e a outra, não.

Daí se aproxima de uma pergunta até hoje sem resposta. Se o Aqueduto de Segóvia suportou chuvas e trovoadas durante 2.000 mil anos, qual seria o fator que tem autuado para a destruição dos viadutos paulistanos construídos há menos de 100 anos?

A investigação demonstra que a nossa técnica permanece envolta em fantasmas. Assim estão alguns elevados da cidade de São Paulo.

Para que temos ferrovias desocupadas como elevados que desabam?

Os gregos afirmam que em seus domínios há um túnel aberto pelos pitagóricos com poucos centímetros de diferença entre a entrada e a saída.

Posta a questão num plano mais estarrecedor indaga-se: a nossa geração tem o dever de examinar os elevados os elevados e os túneis construídos pelos romanos antes de Cristo, transportando a técnica para obras como a do “minhocão” da cidade de São Paulo?

* Advogado, professor livre-docente da Faculdade de Direito da Unesp de Franca e procurador de Justiça aposentado

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