Emergência é sinônimo de situação grave que pede uma ação imediata. Boas decisões, boas soluções e bons resultados advêm de diagnósticos acertados da realidade. E para fazer bons diagnósticos utilizamos a ciência que possui métodos precisos, na maioria das vezes, para constatar e predizer. Podemos lançar mão também de conhecimentos de comunidades locais, como por exemplo de povos indígenas. Nós mesmos, a partir da clareza das ideias, do discernimento, do silêncio, da vontade e da leitura, podemos ser fontes de conhecimento
O Planeta se aquece rapidamente. Os tempos históricos são períodos curtíssimos da vida perante os tempos biológicos, como descreveu o físico-químico italiano Enzo Tiezzi.
Sentimos nitidamente as mudanças nas temperaturas e no padrão de chuvas, por exemplo, nas duas últimas décadas. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) constata a partir de fartas evidências que já sofremos consequências do aquecimento global. Os episódios de incêndios no Pantanal, uma área essencialmente úmida, nesta década de 10, é uma evidência inequívoca das bruscas mudanças em curso.
O Acordo de Paris (2015), decisão conjunta dos países para o enfrentamento das mudanças do clima, instaura o “novo regime climático”, como denomina o sociólogo francês Bruno Latour. Segundo ele, esta decisão está impregnada de duas ideias. A primeira diz respeito ao fato de que o desenvolvimento deve se submeter a um outro poder, o científico, que constata que o limite é um acréscimo de no máximo 2ºC na temperatura média do planeta. E a segunda é a aceitação da teoria de Gaia, ou seja, de que a Terra é um sistema controlado por mecanismos de vida (geobiológicos) do qual somos parte.
A crise climática sintetiza todas as demais crises: econômica, sanitária, política e social. Como se percebe, não se trata apenas de remover o excesso de CO2 da atmosfera, mas de garantir as formas de existência com dignidade.
Mas uma parte da sociedade resolveu escapar da Terra como diagnostica Bruno Latour. O escapismo ou negacionismo ou distanciamento completo da realidade, é uma postura que supõe a existência de outro planeta para onde nossos irmãos migrarão com a ajuda dos seus deuses, caso no final, tudo dê tudo errado.
Também é uma maneira de se safar de responsabilidades quando essa turma é governo. Não havendo desmatamento, queimadas, racismo, pandemia, corrupção e miséria, então não é necessário fazer nada. “Você quer que eu faça o quê?”, respondeu um presidente da república de um distante país localizado na periferia do espaço sideral, quando perguntado sobre as milhares de mortes causadas por uma doença que atingia milhões de pessoas no longínquo ano de 2020.
Qual passo podemos dar agora diante das crises que se somam e que desenham um drama civilizatório? Minha sugestão é que saiamos da casinha para entrar de corpo inteiro neste planeta. Que coloquemos nossos corpos em contato direto com o prazer e o desconforto de estar lá fora, ao ar livre.
Que excursionemos pelas unidades de conservação do país. Que ocupemos praças, parques e ruas. Que a próxima conferência do clima, a COP 26, que ocorrerá em novembro de 2021 em Glasgow, seja realizada em temperatura ambiente. Que abandonemos, sempre que possível, o ar-condicionado. Que as escolas dos pequenos sejam revitalizadas com a presença marcante de árvores, de solo nu, de água e de ar puro.
Migrem para os roçados! Permitam que as plantas de seus pés recebam todos os estímulos que recebiam no Neolítico. O Brasil existe há pelo menos 15.000 anos. Resgatemos os outros 9/10 avos de nossa História.
A emergência climática nos convoca a lançarmos mão do melhor que temos para sofrer menos e nos salvar. Acabou o pudim.