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Eleições: ontem e hoje

Sem ainda ter idade para votar, porém, já preocupado com os destinos do país, em Jacareí, cursando o terceiro ano do Ginásio Estadual no ano de 1945, estive num comício na Praça Paulo de Frontin, cortada em diagonal pela linha férrea da Estrada de Ferro Central do Brasil. Em palanque improvisado, eis que, achavam-se dentre outros, o Brigadeiro Eduardo Gomes e Adhemar de Barros, candidatos às eleições que se realizariam. De viva voz, sem marque­teiros, ambos, além de outros, expunham suas idéias caso fossem eleitos, seus objetivos, sem quaisquer ataques pessoais, num ambiente de cordialidade.

Passando pela multidão e subindo alguns degraus encontrei-me no palanque, com meu “Álbum de Pensamentos e Memórias” em mãos, onde na primeira página obtive as assinaturas dos candidatos acima mencionados – retirei-me satisfeito e feliz, pois, eu tinha simpatia cívica pelo candidato à Presidente da República, o Brigadeiro Eduardo Gomes. O eleito em 1945 foi o Marechal Eurico Gaspar Dutra.

Participando como cidadão, também em Jundiaí e Campinas estive em diversos comícios em diferentes momentos. Participei de Mesas Receptoras em dias de eleições, principalmente em São Paulo – numa delas no Colégio Machado de Assis, Seção do Jardim América, em 1954, em cuja urna só havia Marias.

Os candidatos a prefeito e a vice-prefeito em 1953, respectivamente Francisco Antônio Cardoso (médico e Secretário da Saúde do Estado de São Paulo no governo de Lucas Nogueira Garcez) e Fernando de Almeida Nobre Filho (titular do 10º Tabelionato de Notas em São Paulo), eram ambos, primos irmãos de minha progenitora Leonor, pelos dois costados, e que vieram a se conhecer na campanha eleitoral. Ao ser nomeado para o cargo de mesário inte­grando a Mesa Eleitoral, formalizei junto ao Juízo da Zona Eleitoral, pergunta sobre eventual impedimento aos serviços a serem prestados – em resposta, tive a afirmação e justificativa de que não haveria impedimento no Código Eleito­ral. Venceu a eleição para prefeito de São Paulo, Jânio da Silva Quadros.

Anos após, já em 1978, participei das apurações eleitorais no recinto do Clube Esportivo da Penha, em São Paulo, como escrutinador – eram cédulas de papel manuseados e contadas sobre uma grande mesa ao redor da qual nos achávamos por vários dias.

Passaram-se os anos, urnas eletrônicas viabilizando resultados em apenas algumas horas, surgiram as campanhas feitas sem palanques, com marquetei­ros maquiando os candidatos, transformando-os em verdadeiros ventríloquos.

O império da mediocridade prevalece dentre quase todos os candidatos, as dezenas de partidos foram reduzidos a meros balcões de negócios condenáveis, sem o mínimo escrúpulo. Não há tantas ideologias para justificar tal número. Transformaram-se em receptores de verbas bilionárias imorais, dinheiro dos contribuintes que carecem de serviços públicos de qualidade, de melhores hospitais, melhores escolas, melhor segurança, mais e melhores moradias – quase impossível mencionar algo que esteja bem, e a contento no país. Tal o banditismo, que não sabemos ao sair de casa, se voltaremos. A vida cada vês mais estressante, banalizada, elevando o número de suicidas.

Nas campanhas pré-eleitorais, se digladiam não mais como adversários, mas, sim como inimigos. O objetivo é destruir o opositor, até com falsida­des e mentiras em lugar de mostrarem suas próprias qualidades e virtudes. Dificilmente hoje podemos votar com convicção e alegria em candidatos de nossa preferência – surgem o voto útil, o votar no menos pior, em quem tenha maior chance de derrubar o outro.

Em matéria escrita e publicada há mais de vinte e dois anos, eu afirmei que “Tanto o comunismo como o capitalismo fracassaram, entretanto, está por surgir ainda outro sistema que os substituam – nos dois outrora aparen­temente antagônicos, as contradições sócio-econômicas, as desigualdades, os marginalizados, as concentrações de riqueza e poder, sempre existiram e ainda persistem”. Não será o “esta por surgir” daquela época, o que hoje acon­tece nos Estados Unidos, França, Suécia e noutros países, e quem sabe, agora neste querido Brasil?

Nada mais de direita e esquerda, ou comunismo e capitalismo – diante da atual balbúrdia todos se igualam, e por baixo.

Hoje estamos diante de, ou se manter tudo como está, corrupção sem limites com inversão total de valores, ou o retorno à ética e “A verdade como regra das ações”, como bem escreveu em 1905, Raymundo de Farias Brito, considerado o primeiro verdadeiro grande filósofo brasileiro.

Estamos em uma encruzilhada e teremos que escolher nestas eleições, entre os dois caminhos – amanhã poderá ser tarde demais.

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