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Orquestra de olho em 2021

Foto: Reprodução/TV Globo
Por João Luiz Sampaio, especial para o Estadão

A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais ainda não encerrou 2020. Hoje e amanhã, por exemplo, faz concertos no palco da Sala Minas Gerais. São apresentações adequadas à realidade da pandemia, ou seja, com restrição de público e no número de músicos no palco; e transmissão pela internet. Mas o grupo já olha para o ano que vem. Largou na frente e tornou-se a primeira orquestra brasileira a anunciar uma temporada para 2021 – adequada ao que se imagina que será o desenvolvimento da pandemia.

A programação vai se transformar ao longo do ano, “dançando conforme a música ditada pelo coronavírus”, nas palavras do maestro Fabio Mechetti, diretor artístico e regente titular da filarmônica. No primeiro semestre, o repertório ainda aposta em obras menores, que exigem a participação de número menor de músicos. No segundo, a ambição cresce. A razão é simples: a expectativa da chegada da vacina no começo de 2021 e de uma progressiva vacinação da população.

“Planejar com antecedência tornou-se muito difícil com a pandemia”, diz o maestro. “Mas nessas horas é preciso refletir sobre o que fazer e ficar atento acima de tudo às informações disponíveis. E ficou claro para nós que, no primeiro semestre, seria preciso manter o modelo atual, ou seja, com restrições tanto na presença do público quanto na escolha de obras, que precisam ser interpretadas por no máximo quarenta, cinquenta músicos. Mas a expectativa da chegada da vacina sugere a possibilidade de mudança no quadro ao longo de 2021.”

Mudança foi a palavra de ordem para a orquestra – e para todo o meio musical – ao longo de 2020. A temporada imaginada anteriormente precisou ser refeita. Mas o grupo manteve o foco principal da programação, a homenagem aos 250 anos de Beethoven. Em agosto, voltou a realizar concertos no palco, a princípio com no máximo seis músicos. Com o tempo, foi ampliando o tamanho da orquestra, passo a passo, até chegar aos cinquenta músicos atuais. Em novembro, as portas da Sala Minas Gerais foram reabertas ao público, com atenção à lotação máxima de 40% da casa.

Foi um caminho parecido ao da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Com uma diferença importante: todos os concertos, mesmo após a reabertura da sala, foram transmitidos ao vivo pela internet; no caso da Osesp, as transmissões foram encerradas com a volta do público, mas, após críticas pela decisão, o grupo as retoma esta semana.

Em Minas Gerais, havia uma vantagem: no ano passado, a filarmônica montou um estúdio em sua sede, com câmeras que podem ser controladas remotamente, com o maestro Leandro Oliveira como diretor de transmissão. A ideia original era de que, em 2020, o sistema fosse testado e aperfeiçoado. Mas a pandemia fez dele um dos principais ativos da orquestra durante este momento, chamando atenção da crítica pela qualidade não apenas das execuções musicais como também da filmagem e da exibição. O público também gostou: as quinze transmissões ao vivo já realizadas tiveram 74 mil visualizações e alcançaram 53.478 espectadores, número que corresponde a 36 Salas Minas Gerais lotadas.

“Ficou muito claro para nós que a internet é uma ferramenta fundamental para ampliar o escopo das atividades da filarmônica. Com ela, chegamos a um público grande e que não está apenas em Belo Horizonte, o que só ajuda na consolidação do projeto e nos reforça ainda mais a importância de se investir nele”, diz Mechetti. Para 2021, já estão previstas pelo menos onze transmissões – e a expectativa é de que o número cresça ao longo da temporada.

Homenagens

A programação 2021 vai celebrar aniversários importantes, como os 125 anos de morte de Carlos Gomes e os 50 de morte de Igor Stravinski – dele, a expectativa é interpretar, no encerramento do ano, os balés Petrushka, A Sagração da Primavera e O Pássaro de Fogo, um plano antigo da direção e dos músicos da orquestra, segundo o maestro.

Entre os solistas, haverá um espaço grande para os próprios músicos da filarmônica. E também a abertura para convidados, como os pianistas Arnaldo Cohen, Benedetto Lupo, Ricardo Castro e Jean-Louis Steuermann, e para símbolos da nova geração do instrumento no Brasil, como Juliana Steinbach, Cristian Budu, Ronaldo Rolim, Leonardo Hilsdorf e Lucas Thomazinho; o violoncelista Antonio Meneses; o violonista Fábio Zanon; a mezzo-soprano Luisa Francesconi e a soprano Camila Titinger, que vai repetir seu papel na ópera Cartas Portuguesas, de João Guilherme Ripper, estreada em agosto deste ano pela Osesp na Sala São Paulo.

Na série Fora de Série, com concertos que não integram as assinaturas, Mechetti aproveitou as restrições de palco para contar a história da orquestra sinfônica. “Ela começou no barroco, com formações pequenas, e foi crescendo ao longo dos séculos. Então, faremos o mesmo trajeto nos concertos dessa série, o que vai permitir à filarmônica abordar também um repertório mais antigo, que não costuma apresentar.”

A orquestra fará venda de assinaturas, como nos anos anteriores. Ela começa com renovação de planos daqueles que já são assinantes e segue para novos públicos. Mais informações podem ser obtidas no site www.filarmonica.art.br.

DESTAQUES

Brahms

Os concertos para piano serão interpretados por Arnaldo Cohen e Benedetto Lupo. Do autor, serão apresentados ainda a

Sinfonia nº 4, o Réquiem alemão e o Concerto para violino.

Ricardo Castro

O pianista e maestro será solista e regente em programa com

Mozart e Schubert.

Carlos Gomes

Nos 125 anos de morte do autor, a orquestra vai interpretar – e gravar para o selo Naxos – as aberturas de suas óperas.

Camargo Guarnieri

A orquestra vai executar o Choro para violoncelo e orquestra, com solos de Antonio Meneses.

Ópera

Cartas Portuguesas, de João

Guilherme Ripper, será interpretada com regência de Roberto Tibiriçá e direção de Jorge Takla.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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