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Ciência e Tecnologia

Medicamento Remdesivir não serve para tratamento da Covid-19, diz OMS

Um painel de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) analisou diversos casos do uso do medicamento Remdesivir, do laboratório Gilead, e constatou que ele não traz nenhum benefício especial no tratamento de pessoas infectadas pela Covid-19. Uma conclusão similar foi obtida em estudo feito no mesmo medicamento em outubro de 2020.

O medicamento é uma das drogas mais divulgadas na internet como um tratamento válido para pessoas acometidas pela doença, que deriva do novo coronavírus (SARS-CoV-2), mas após análise, a OMS afirmou que não há comprovação de que o Remdesivir faça alguma diferença prática, o que não é o mesmo que “ser contrário” ao uso dele. A organização admite que a droga pode até ser empregada, mas ela não trará um impacto muito notável.

Em outras palavras: mal não deve fazer, mas não pense que você será curado da Covid-19 por causa do Remdesivir.

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O medicamento Remdesivir, da farmacêutica Gilead, não traz nenhum benefício no tratamento à Covid-19, segundo a OMS. Imagem: digicomphoto/iStock

A utilidade do Remdesivir vem se tornando um ponto quente de discussão clínica, já que, ao final de outubro, a Food and Drug Administration (FDA – pense nela como a “Anvisa” dos EUA) reconheceu o medicamento como tratamento primário contra a doença, e os National Institutes of Health, também nos EUA, afirmaram após estudo que a droga atua na redução do tempo de recuperação dos doentes. Entretanto, alguns destes estudos, patrocinados pela Gilead, não consideraram o uso de placebos – uma parte vista como essencial para testes pela comunidade clínica.

Em outubro, o Remdesivir foi um dos medicamentos usados pelo presidente Donald Trump, quando o mandatário norte-americano contraiu a COVID-19.

“Um painel de experts concluiu que o Remdesivir não traz nenhum efeito significativo na mortalidade ou outras resultantes de importância para pacientes, tais como a necessidade de ventilação mecânica ou tempo de melhora clínica”, disse a OMS em seu estudo, publicado no jornal médico BMJ.

“Estes resultados levantam questionamentos sobre alguns dos benefícios registrados anteriormente, sobretudo no estudo do National Institutes of Health”, disse o Dr. Bram Rochwerg, professor associado de medicina na Universidade McMaster de Hamilton, Ontário, Canadá. O especialista também ocupa uma cadeira no painel da OMS.

“O painel ressaltou em seu documento que os testes com Remdesivir devem continuar, e podem sim existir populações específicas que tirem benefício dele”, continuou o médico. “Mas esta droga é cara e administrada por via intravenosa. Seu uso pode requerer recursos que poderiam ser empregados com maior eficácia em outro lugar”, ele finalizou.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tratou-se com Remdesivir quando contraiu a COVID-19, em outubro de 2020. Imagem: Foto oficial da Casa Branca / Shealah Craighead

No mês de outubro, a farmacêutica Gilead, dona do Remdesivir, disse ter gerado US$ 873 milhões (pouco mais de R$ 4,66 bilhões, na conversão direta) desde que o medicamento foi aprovado para uso emergencial em março deste ano. Vale lembrar que seu uso começou a ser feito antes mesmo da aprovação da FDA norte-americana – uma decisão que incomodou muitos especialistas.

A comunidade reagiu ao painel da OMS de forma positiva. O Dr. Peter Bach, que dirige o Centro de Práticas de Saúde e Resultados no Memorial Sloan Kettering contra o Câncer, disse que a decisão do órgão mundial foi a mais acertada, novamente dizendo que o preço do uso do Remdesivir pode não compensar a sua falta de ganhos: “O Remdesivir custa milhares de dólares, e os testes amplamente aleatórios que avaliaram seu uso contra a COVID-19 sugerem que ele pode não trazer nenhum tipo de benefício, sendo que o único estudo positivo dele é de uma época onde nós estávamos usando dexametasona para doenças severas”, ele disse em um e-mail enviado ao New York Times.

Vale lembrar: a dexametasona se mostrou viável para tratamento da Covid-19 em alguns estágios da doença, mas também não é vista como “cura”.

Fonte: The New York Times / BMJ (PDF do estudo)

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