A tentativa de retirada da maria-fumaça estacionada na Avenida Mogiana, em Ribeirão Preto, em dezembro de 2017, que seria transportada para Itu (SP), gerou polêmica, virou caso de polícia e alvo de uma batalha judicial que tramita até hoje. A locomotiva ficou na cidade por meio de uma liminar. Passados quase três anos, o Citrem – Consórcio Intermunicipal do Trem Republicano, que envolve as cidades de Salto e Itu, conseguiu outra máquina para puxar os vagões e o seu projeto deve sair do papel, depois de 15 anos, no próximo mês. Por outro lado, a maria-fumaça de Ribeirão está no mesmo estado de abandono.
Representantes de entidade ligadas ao setor de turismo, que entraram com o pedido de liminar e conquistaram na Justiça que a locomotiva fique na avenida Mogiana até o julgamento do processo, esperam que o Citrem desista dessa batalha judicial. “Vamos conversar com os prefeitos de Salto e Itu, para que eles desistam, mas sabemos que a locomotiva não é do tipo Maria-Fumaça, é uma movida a diesel. Outro ponto é que estamos no final de um processo eleitoral, temos também de esperar para saber quem governará essas cidades”, disse um dos representantes que pediu para não ser identificado.
Se a maria-fumaça da Mogiana está abandonada, o projeto Trem Republicano ganhou corpo e data para entrar em atividade. Sem a locomotiva do acervo turístico de Ribeirão Preto, o Citrem buscou uma máquina, mais moderna, que estava em Campinas, e estavam sendo usadas na linha turística que faz o trecho Campinas-Jaguariúna. Outros carros de passageiros que estavam em Curitiba, em outra rota famosa que liga a capital paranaense à Morretes, também foram transportados à cidade paulista.
A composição chegou a Itu, após ser transportada por mais de 500 quilômetros pela BR-116. A locomotiva e um vagão foram descarregados nesta terça-feira (10), na Estação Ferroviária de Itu, que receberá ainda mais uma locomotiva e dois vagões até o fim do ano.
Projeto Trem Republicano
Iniciado há 15 anos, o projeto turístico do Trem Republicano passa a operar oficialmente na segunda quinzena de dezembro. A rota de aproximadamente oito quilômetros será percorrida entre os municípios de Itu e Salto. A Serra Verde Express, atual concessionária dos trens turísticos na ferrovia Paranaguá-Curitiba, é a responsável pelo serviço no interior de São Paulo.
O local escolhido para receber a composição do Trem Turístico será também o ponto de partida do passeio, a partir de dezembro. Na Praça Dr. Gaspar Ricardo, no bairro Liberdade, em Itu, a Estação Ferroviária foi inteiramente restaurada para receber os passageiros e operar o serviço. O imóvel sedia a Secretaria Municipal de Turismo, Lazer e Eventos e funciona ainda como central de informações turísticas.
O espaço foi escolhido por contar com uma oficina para a manutenção dos trens. A estação ferroviária em Salto, escolhida como destino final, também foi restaurada e está pronta para receber os turistas.
A atração é considerada uma das apostas para a retomada da economia regional no período de pós-pandemia e conta com um projeto arquitetônico arrojado, moderno e aconchegante, com arquitetura dos vagões assinada pela arquiteta Lucille Amaral. “Nos três vagões, o Trem Republicano vai transportar 132 passageiros em cada viagem e prevê ainda espaço para pets”, afirma Adonai Aires de Arruda, diretor presidente da Serra Verde Express. A composição restaurada deve levar aproximadamente uma hora para percorrer os 7,6 quilômetros do passeio.
O que é o Trem Republicano
O projeto turístico Trem Republicano busca o resgate da história da Companhia Ytuana de Estrada de Ferro. O nome é uma referência à Convenção Republicana realizada em abril de 1873, em Itu, considerado o primeiro passo efetivo para a proclamação da República no Brasil. A inauguração da ferrovia Ytuana coincidiu com o evento político.
Curitiba a Morretes
Além do Trem Republicano, a Serra Verde Express também é responsável pelo passeio ferroviário entre Curitiba e Morretes, que percorre a maior porção contínua de Mata Atlântica preservada no Brasil. Mais de três milhões de passageiros foram transportados durante os 22 anos de operação nessa rota, o que rendeu à empresa premiações nacionais e internacionais, além da nomeação pelo jornal The Guardian como um dos 10 passeios de trem mais espetaculares do mundo.
OUTRA MARIA-FUMAÇA DE RIBEIRÃO, A AMÁLIA ESTÁ SENDO REFORMADA
A locomotiva alemã Borsig foi retirada da praça Francisco Schimdt, na avenida Jerônimo Gonçalves, na região da Baixada, na divisa do Centro Velho com a Vila Tibério, em Ribeirão Preto, no dia 18 de julho, para ser restaurada. Todo o trabalho foi acompanhado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac), que aprovou o tombamento provisório da maria-fumaça.
Os trabalhos de restauração da locomotiva – batizada de “Amália” por causa da usina a que pertencia antes de ser doada ao município, o nome está gravado nas laterais do equipamento – foi feito com guinchos e caminhões munck. A prefeitura de Ribeirão Preto abriu licitação, em maio, no valor de R$ 808,33 mil, mas o serviço será feito por uma empresa de Campinas por cerca de R$ 805 mil
Os recursos para o restauro da locomotiva são oriundos do empréstimo feito pelo município por meio do Programa de Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa) da Caixa Econômica Federal. A recuperação da maria-fumaça obedece a várias etapas que incluem desde a retirada da locomotiva do local para ser restaurada em ambiente apropriado até seu retorno à praça Francisco Schimdt.
A locomotiva Phantom, popularmente conhecida como maria-fumaça, pertencia a Usina Amália e em 1912 foi doada para Ribeirão Preto pelas Indústrias Matarazzo. O modelo é uma das três remanescentes do fabricante alemã Borsig no Brasil. As outras duas estão em Itapetininga e Jaguariúna. Abandonada, a ribeirão-pretana serviu durante muito tempo como dormitório de pessoas em situação de rua e também de abrigo para usuários de drogas – a praça chegou a ser uma das “cracolândias” da cidade.
TENTATIVA FRUSTRADA
Tentativa de retirada da Maria-Fumaça, em dezembro de 2017, provocou polêmica e até a presença da Polícia Federal. A locomotiva de fabricação inglesa, modelo 4-6-0 Then Weeler, foi adquirida pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em 1893 e está exposta na cidade há mais de 40 anos.