De acordo com estudiosos da literatura paraguaia, a poesia, o teatro, as artes plásticas e a vida acadêmica do Paraguai do século XX são devedores da espanhola Josefina Plá. Nascida em 1903, na Ilha de Lobos, em Forteventura, Espanha, Plá, já casada com o ceramista Andrés Campos Cervera, 21 anos mais velho, internacionalmente conhecido sob o pseudônimo de Julián de la Herrería, emigrou aos dezoito anos para o Paraguai. Jornalista na imprensa escrita, também atuou no rádio e organizou diversas exposições de arte, renovando, com o marido, as artes plásticas do país. Em sua obra poética, trata da dor de se estar vivo, o que pode ser exemplificado nos seguintes versos do livro “Tiempo y tiniebla” (1982), “o vestido que veio demasiado cedo, que jamais caiu bem, o vestido, que chegou já tarde, para ir à festa, quando já tinha adormecido”. Seu primeiro livro de poemas, “El precio de los sueños” (1934), tendo sido seguido por “El polvo enamorado” (1968), “Antología poética” (1977), “Cambiar sueños por sombras” (1984) e “La llama y la arena” (1987).
Em 1934, estando na Espanha com Andrés, este vem a falecer e, sozinha, Plá visualizou, em seus pensamentos, o único lugar que, naquele momento, poderia chamar de casa: seu amado Paraguai. Voltando ao país, não tardou trabalhar ao lado do poeta Hérib Campos Cervera e de Augusto Roa Bastos, com estes formando a tríade célebre da chamada Geração dos 40 e, também como eles, tendo uma difícil relação com a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). Em 1940, nasce seu filho Ariel e Plá passa a se dedicar com afinco à literatura, seja como escritora, seja como crítica literária. Neste período, os periódicos argentinos “Cuaderno y Revista de Historia de América y México” e “Anales del Instituto de Arte Americano”, bem como, “Américas y Journal of Interamerican Studies”, dos Estados Unidos, e as revistas europeias “Cuaderno Hispanoamericanos” (de Madrid); “Humboldt” (da Alemanha) e “Cuadernos y Cahiers des Amériques Latines” (de París), entre outros, recebem suas colaborações. Dedicando-se a pesquisar o passado cultural praticamente desconhecido do Paraguai, fomentou iniciativas de artes plásticas e de literatura regionais, inovadoras nos aspectos plásticos e literários, as quais, em 1953, resultaram nas manifestações plásticas paraguaias intituladas “Arte Nova”. Estas, extremamente enriquecedoras e relevantes, levando-a a palestrar sobre diversos aspectos da cultura paraguaia no exterior, como, por exemplo, em Seattle, Alfred (New York), VI Bienal de San Pablo, Sociedade de Autores Argentinos, Instituto de Cultura Hispânica (Madrid) etc.
De acordo com especialistas, a modernidade e a cultura popular são os fios condutores da obra crítica, literária e artística dessa escritora hispano-paraguaia. Devido à profissão do pai, encarregado da manutenção dos faróis das ilhas, Plá teve uma infância de trânsitos entre uma praia e outra, principalmente em ilhas da região Canária, fato, este, que pontuou o mar em seus escritos, tornando-o responsável, segundo a mesma, por despertar sua sensibilidade artística. Em oposição ao rio, em seus contos, torna este último um representante dos impasses entre velho e novo e próprio e alheio, ocasionando a sensação de pertencimento versus exílio em sua obra. Tal experiência de mobilidade espacial, portanto, tornando-se conhecida, em análises de sua obra, como a estética do dilaceramento.
Por adição, é importante resgatar sua origem espanhola, uma vez que as vivências e leituras ocorridas na Espanha, antes de sua chegada ao Paraguai, influenciariam sua produção intelectual e artística. Neste contexto, segundo especialistas, os contos de Plá apresentam como denominador comum mulheres pobres vivendo papeis diversos e importantes na formação do processo identitário cultural paraguaio, principalmente mulheres guarani e mestiças. Neles, a tragédia e a violência, enquanto constroem suas personagens femininas, descortinam, no tempo e no espaço, a falta, a omissão, a carência, a inanição e o vazio dessas mesmas figuras em suas narrativas.
Adotando o Paraguai convicta do valor do país e de sua gente e cultura, Plá afirmou, mais de uma vez, que investigar o passado cultural de seus habitantes era, sem dúvida, uma forma de acompanhar e exaltar a relevância dos mesmos na construção identitária mundial. Por sua vez, tendo sua entrada no Brasil, a julgar pela crítica produzida, ocorrido principalmente pela narrativa, ainda são poucos os trabalhos que analisam sua produção crítica. Segundo o crítico Miguel Ángel Fernández, Assim se manifestou Plá acerca do mar, em seus deslocamentos e mobilidades espaciais e culturais: “Al mar de su sed, que no sabe ya si es el mar azul sueño mediterrâneo o el mar verde furia, loco de soledad, que sorteó en su remoto viaje de venida. Qué lejos está todo eso. Qué engreimiento el suyo, y cómo Dios usa a los hombres cuando ellos creen estar usando su albedrío”. Traduzindo, “No mar de sua sede, ele não sabe mais se é o sonho azul do mar Mediterrâneo ou a fúria do mar verde, louco de solidão, de que se esquivou em sua viagem remota que se aproximava. Quão longe está tudo isso. Quão vaidoso de sua parte, e como Deus usa os homens quando eles pensam que estão usando o arbítrio deles”. Falecida em 1999, recebeu o título de doutora honoris causa da Universidade Nacional de Assunção e prêmios em artes no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Madri. Integrante da Sociedade de Autores Argentinos, foi indicada em 1989 e em 1994 ao Prêmio Cervantes, tido como o mais importante da língua espanhola.