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O limite da consciência humana

A história nos conta que a escravidão negra no Brasil aconteceu no período de 1550 até 1888, quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea – foram mais de trezentos anos de escravidão. O longo período de escravidão criou na aristocra­cia brasileira um sentimento de ódio e desprezo por aqueles que com seu trabalho servil sustentavam o País. Esse ódio e desprezo que a aristocracia nutre contra os pretos se enraizou e contaminou o cotidiano até os dias de hoje.

O sofrimento físico e psicológicoque os negros sofreram durante vários séculos afetou de maneira diferente os seus comportamentos. Aqueles escravos que trabalhavam na casa grande e no seu entorno, achava a escravidão coisa natural, pois para sobreviverem aprenderam a dizer: “sim senhor, não senhor”, e com isso dificilmente sofriam castigos físicos. E essa convivência com a casa grande amaciou os instintos de liberdade que todo ser humano que é escravizado almeja – já os escravos da lavoura, que moravam na senzala lutavam para fugir daquela vida de sofrimento.

A suposta liberdade ocorrida em 1888, não trouxe os benefícios esperados. Liberto o escravo foi jogado no mundo, sem eira nem beira, pois como trabalhador livre, não inte­ressava ao seu senhor, que trouxe trabalhadores europeus brancos para substitui-los. O sonho da liberdade logo mos­trou a sua face cruel, e a sina da população negra se estende por cento e trinta e dois anos. Ficou livre dos açoites no velho tronco, mas a sua liberdade só lhe permite viver preso na miséria da favela.

Quando dizem que no Brasil não há racismo, que as igual­dades e oportunidades são para todos, no entanto a realidade cotidiana nos mostra a cisão racial e social que há no País. O ódio contra os negros, que foi construído pela aristocra­cia branca no período da escravidão, se incrustou em uma parcela da população, que mesmo dizendo que não é racista, pratica o racismo a todo o tempo.

Até a segunda metade do século 20, a maioria dos negros aceitava com naturalidade a condição de submissão que lhes era impingida, algumas frases racistas eram encaradas com naturalidade por todos, frases como dizer: “ele é preto, mas tem a alma branca”, ou “negro só é gente, quando está no banheiro, e batem na porta, e ele responde que tem gente”. Quando o movimento negro conseguiu trazer para o protago­nismo a figura de Zumbi dos Palmares, toda aquela tolerância que as elites brancas demostravam foi para o espaço, e o velho ódio aflorou novamente.

O racismo se expressa de varias maneiras, em Ribeirão Preto o dia da Consciência Negra era feriado, mas isso não agradou aos poderosos, que sob o argumento de prejuízos financeiros, pela proximidade de dois feriados arguiu junto ao STF a inconstitucionalidade da lei, e teve o pedido acatado. Mas o tempo mostrou que era falácia, pois pouco tempo de­pois foi decretado feriado no dia do Padroeiro da cidade, que não era feriado por uma lambança da Câmara Municipal, que escolheu o dia 19 de junho, para agradar a ditadura militar.
A consciência do ser humano não é para sermos iguais, pois esbarra na necessidade da servidão. Igualdade e fraterni­dade ficam apenas no papel.

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