Em 20 de novembro de 1695 o Brasil perdeu um dos seus primeiros ícones de resistência negra, Zumbi dos Palmares. Apesar de sua importância, a data só se tornou parte do calendário comemorativo em 10 de novembro de 2011, quando foi promulgada a Lei nº 12.519. O marco foi idealizado pelo professor porto-alegrense Oliveira Silveira (1941-2009), que entendia o 13 de maio (Abolição da Escravatura) como uma data obsoleta para representar a conscientização do negro brasileiro, tendo em vista seus aspectos históricos.
Segundo último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2018), 56,10% pessoas se declaram negras no Brasil. Mas apesar desse grupo representar a maior parte da população brasileira, infelizmente, a história do povo negro e a reflexão sobre a Consciência Negra ainda são pautas para apenas duas datas do ano. A ampliação desse diálogo nas escolas, no sistema educacional e no debate público é urgente, não apenas no 13 de maio ou no 20 de novembro.
Porém, nos alegra perceber que em diversos pontos do país já temos pequenos núcleos de resistência, que cada vez mais lutam, assim como Zumbi, pela transformação social, porém, por meio da disseminação do conhecimento. Núcleos de Estudos Afro-brasileiros que nasceram nas instituições de ensino superior e que têm a imensa responsabilidade política e social de debater, estudar, pesquisar e esclarecer os fatores que levam a população negra brasileira, ainda hoje, a se posicionar estruturalmente na parte mais baixa da pirâmide social.
Talvez toda essa luta, conduzida pelo conhecimento, já esteja causando seus efeitos. Em 2018 comemoramos o marco histórico, em que a população negra representou a maioria de estudantes cursando ensino superior em faculdades públicas, sendo 50,3%. E em algumas instituições privadas esse índice ainda foi maior, chegando a 54%, como é o caso da Estácio.
Esses dados são um reflexo dos valores nutridos nesta rede de ensino, de proporcionar o acesso ao conhecimento para todos e se posicionar de maneira atuante nas questões étnico-raciais, apoiando, em 2020, a publicação livros, como a obra “Rosa Negra” de autoria de Ivone Ferreira Caetano, advogada formada pela terceira turma de Direito da Estácio que se tornou a primeira Juíza e Desembargadora negra do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e movimentos como o “Afropresença”, evento nacional realizado em outubro que abordou a inclusão social de jovens negros universitários no mercado de trabalho; o Prêmio Sim à Igualdade Racial 2020, que reconheceu pessoas, empresas, iniciativas e organizações que atuam em prol da igualdade racial no país nas áreas de empregabilidade, educação e cultura; o Ghettu Music Camp 2020, projeto que fomenta a música independente e promove ações voltadas para amplificação da potência criativa preta; e o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros, conduzido pelo campus Porto Alegre.
Hoje, parabenizamos às iniciativas e instituições espalhadas pelo país que são, cada uma, pequenos núcleos de resistência, mas que juntas lutam pela transformação social, formando uma grande rede de disseminação de conhecimento e consciência, não apenas no 20 de novembro. Conhecimento é resistência!