Na edição deste domingo, o Tribuna conta a história do ciclo do café na cidade e a sua relevância no processo de transformação do município
O poema de Saulo Ramos musicado por Diva Tarlá que se tornou o Hino de Ribeirão Preto traz em um trecho: – “A minha terra é um coração. Aberto ao sol pelas enxadas. Sangrando amor e tradição. No despertar das madrugadas. História exemplo, amor e fé. Assim traçamos teu perfil. Ribeirão Preto, terra do café. Orgulho de São Paulo e do Brasil…”. O poema se refere, entre outras coisas, ao solo fértil e ao ciclo da cafeicultura que moldaram a cidade em que vivemos hoje. O especial #TribunaRibeirão25Anos desta edição aborda um pouco dessa história.
Antes da fundação de Ribeirão Preto, quando as terras férteis não exploradas estavam sendo ocupadas, a agricultura e a pecuária eram utilizadas como meio de subsistência. Estamos nos reportando à década de 1840. Essa exploração de terras provocava a abertura das primeiras fazendas do município. Posteriormente, em junho de 1856 ocorreu a fundação da cidade.
Tais terras férteis surtiram efeito rápido na economia local, regional e mundial. Em 1870, alguns motivos levaram o município ao protagonismo na chamada expansão cafeeira. Solos produtivos em outras regiões começaram a se esgotar, como no Vale do Paraíba (paulista e fluminense) e a queda na produção na região de Campinas.
Nesse cenário, duas famílias tradicionais desembarcam em Ribeirão Preto: Junqueira (Manoel Otaviano Junqueira e José Bento Junqueira) e Pereira Barreto (Luiz Pereira Barreto e Rodrigo Pereira Barreto). Junto com João Franco de Moraes Octávio, elas foram as pioneiras na cafeicultura local.
Luiz Pereira Barreto, que era cafeicultor no Vale do Paraíba Fluminense, trouxe para a região o café tipo Bourbon. Barreto investiu em pesquisas e comprovou que “as terras, o clima e a altitude do município eram excelentes para o cultivo do café”.
No final do século 19, além das famílias Barreto e Junqueira, outras se somaram ao agronegócio local. Foram as famílias Dumont (Henrique Dumont), Prado (Martinho Prado Júnior – Martinico Prado) e alguns imigrantes, como a família Schmidt.
Entre 1870 e 1900 o café produzido no município já era conhecido na Europa pelo nome das próprias fazendas que o produziam: Café Guatapará, Café São Martinho, Café Monte Alegre, etc.
Com o crescimento da cafeicultura houve necessidade de mão-de-obra, uma vez que a local não atendia a demanda. Há registros da vinda de trabalhadores de outras regiões e ainda um pequeno grupo de escravos. Tal demanda provocou um crescimento populacional.
Um marco importante aconteceu em 1883, quando foi inaugurada a primeira Estação da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro. O meio de locomoção não só foi necessário para o escoamento da produção, mas para a chegada de imigrantes.
Com isso, o munícipio teve sua estrutura influenciada pelo setor do café, considerando a ocupação da zona urbana, seu crescimento e a abertura de comércio diversificado. Outro detalhe, Ribeirão Preto se tornou ponto de referência e centro de distribuição para outros municípios aonde a ferrovia não chegava.
Consequentemente o município começou a arrecadar mais impostos. O que alavancou as obras de infraestrutura (pavimentação, redes de água e esgoto, praças, etc.). Nascia Ribeirão Preto, a “Terra do Café”. Também foram construídos exuberantes edifícios, como teatros, casarões e igrejas (alguns demolidos posteriormente).
A cidade se tornou a maior produtora de café do mundo inteiro até a quebra da bolsa de Nova York, em 1929. Marco importante para outro capítulo da história do município.
Fechados, museus contam a história do ciclo do café
Com o objetivo de contar a história do “ciclo do café” em Ribeirão Preto e no Brasil, Plínio Travassos dos Santos começou a recolher e colecionar objetos alusivos à cultura do “ouro verde”. Em 20 de janeiro de 1955, já com um número significativo de objetos, foi inaugurado o Museu do Café, instalado provisoriamente, em três salas e três corpos das varandas que circundam o edifício do Museu Histórico. O prédio do Museu do Café Coronel Francisco Schmidt foi inaugurado oficialmente em 26 de janeiro de 1957, no campus da Universidade de São Paulo (USP).
O Museu Histórico e de Ordem Geral começou a sair do papel em 1938, por iniciativa do seu patrono Plínio Travassos dos Santos. A criação foi oficializada em julho de 1949. Em 1950, o município recebeu por empréstimo a casa-sede (antigo Solar Schmidt) da Fazenda Monte Alegre. Este imóvel e a área circundante foram posteriormente doados (em regime de comodato) mediante autorização legal. Em 28 de março de 1951, instalado definitivamente no antigo Solar Schmidt, o museu foi inaugurado, com as seções Artes, Etnologia Indígena, Zoologia, Geologia e Numismática.
Os museus Histórico e do Café abrigam um dos mais importantes acervos relacionados ao café, formado por cerca de três mil objetos, dentre eles documentos históricos, fotografias, numismática, etnologia indígena, mineralogia, mobiliário, indumentária, além de obras de arte como pinturas e esculturas de artistas de renome como Victor Brecheret, Rodolfo Bernardelli, José Pereira Barreto, Tito Bernucci, Oscar Pereira da Silva, J. B. Ferri, Odete Barcelos, Colette Pujol, muitas com temática histórica.
Ambos estão fechados desde março de 2016, quando parte do teto do Histórico desabou. A Secretaria da Cultura informou que está sendo realizado um projeto executivo para restauro do Complexo. O projeto deve ser entregue em fevereiro de 2021. As obras de restauro da Casa do Colono finalizam-se em dezembro deste ano.
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