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Os desafios de estudar o Amor (15): Similaridade versus Complementaridade

Certamente, você já ouviu se algumas pessoas convivem melhor com outras porque elas têm personalidades compatíveis, bem como, que não se dão bem com muitas outras devido a ambas terem personalidades conflitantes. No contexto da Psicologia do Amor, esta questão também é muito relevante, já tendo dito que duas pessoas se relacionam muito melhor por serem similares em personalidade ou por se complementarem entre si. Estudiosos da natureza do Amor investigam ambos os lados dessa desafiadora questão. De acordo com a visão da Similaridade, se você é extro­vertido, você, provavelmente, buscará um parceiro que também o seja. Por exemplo, se você gosta de festa, happy hour, cinema, futebol etc., você, provavelmente, buscará encontrar e interagir com pessoas que também gostam por demais dessas atividades prazerosas. Ao contrário, se você gosta de ficar em casa, no seu cantinho de leitura, escrita e silêncio, você, provavelmente, ficará muito infeliz, e frustrado, em se envolver com pessoas que não apreciam essas atividades. A teoria da similaridade supõe que você provavelmente irá querer estar com alguém que compartilha seus valores e seus interesses de modo que possam fazer as coisas juntos, e até ver coisas ao mesmo tempo. Já se você tem valores muito diferentes de outra pessoa, como, por exemplo, você gostar de brincar com crianças ou conversar com idosos e a outra pessoa se sentir infeliz em fazer isso, você pode experenciar uma grande frustração de conviver, e até mesmo planejar ter crianças, com essa pessoa. Mesmo em relação à atração física, similaridade pode ser importante. Um parceiro pode se sentir igual a um “patinho feio” do relacionamento enquanto o outro pode sentir-se merecedor de alguém muito mais atraente.

Por sua vez, a Teoria da Complementaridade entende que os parceiros sentirão muito melhor se eles forem complementares. Em outras palavras, se eles diferem em aspectos-chave. Considere, por exemplo, um indivíduo que seja extremamente consciencioso. Enquanto a Teoria da Similaridade sustenta que uma pessoa buscará um parceiro que seja exatamente tão consciencioso quanto ela, a Teoria da Complementaridade, ao contrário, sugere que duas pessoas, extremamente conscienciosas, poderiam entrar em conflito com cada uma tentando colocar a outra contra a parede. Talvez, um ho­mem muito consciencioso necessite estar com uma mulher que, eventualmente, descuide da aparência física. Talvez uma mulher menos conscienciosa também necessite estar com alguém que goste de estar vestido à vontade, sem preocupação com a etiqueta. Em ambos os casos, isso é possível.

Há considerável evidência sustentando o papel da similaridade e pouquíssima evidência sustentando a operação da complementaridade. Karin Sternberg, em Psychology of Love (2014), argumenta que diferenças são associadas com instabilidade e separação marital, acrescentando que, talvez, a temática da similaridade versus complementaridade venha sendo mal interpretada. De acordo com Karin, é possível que a evidên­cia para que a complementaridade seja fraca em comparação com a evidência para a similaridade porque tal hipótese não venha sendo testada adequadamente. Se similaridade ou complementaridade são bons preditores de sucesso de um relacionamento depende da História de Amor do casal ser compatível com aquela de cada um dos parceiros. Em outras palavras, nas histórias onde os papéis dos dois parceiros são similares, similaridade poderá melhor predizer o sucesso do relacionamento. Por sua vez, nas histórias onde os papéis são complementares, complementa­ridade poderá predizer melhor o sucesso deste. Karin ainda lembra que cada indivíduo não tem apenas uma história, mas, sim, uma hierarquia de histórias, algumas destas mais poderosas que outras. Desta forma, se similaridade ou complementaridade aplicam-se, depende da hierarquia de histórias para um dado conjunto de parceiros. Em diferentes relacionamentos, diferentes padrões de predições podem ser relevantes. Isso torna necessário, e imperativo, olhar cada par de parceiros e as Histórias de Amor que estão subjacentes e operantes.

Há outra teoria que não enfatiza tanto o papel da similaridade ou da complementaridade. De acordo com essa teoria, proposta por Robert Sternberg, um dos maiores teóricos acerca da Psicologia do Amor, afirma-se que as pessoas envolvidas em um relacionamento possuem diferen­tes estilos de pensamento. Por exemplo, algumas pessoas são legislativamente orientadas, ou seja, gostam de seus próprios modos de fazer as coi­sas, preferindo dar pouca estrutura e direção ao fazê-las, rebelando-se quando se sentem obrigadas a seguir um modelo. Por sua vez, há pessoas que são executivamente orientadas, preferindo algum grau de estrutura e direção, apreciando ter instruções para as tarefas que necessitam fazer. Por adição, há as pessoas judicialmente orientadas, que gostam de julgar as coisas e as demais pessoas. Estas tendem a fazer uma abordagem avaliativa para manejar o que elas encontram na vida.

De acordo com esta abordagem, proposta por Robert Sternberg, similaridade e comple­mentaridade têm, cada uma, vantagem e desvantagem num relacionamento. Por exemplo, duas pessoas legislativamente orientadas, provavelmente, acham, uma a outra, interessante e engajado­ra. Mas, se cada uma delas quer ser aquela que planeja as coisas e tomar decisões, as duas podem entrar em conflito. Duas pessoas executivas podem se sentir confortáveis, uma com a outra, pois nenhuma delas têm fortes convicções sobre como as coisas poderiam ser feitas, mas, sim, ambas precisam de orientação externa. O risco, neste caso, é que ambas ficariam insatisfeitas pelo fato de ninguém, no relacionamento, ser capaz de tomar para si a responsabilidade do relacionamen­to e as orientações de como fazer as coisas. Duas pessoas judicialmente orientadas podem gastar muito tempo refletindo sobre suas respectivas avaliações das outras pessoas, mas, se elas não assumem suas avaliações da outra pessoa, conflitos surgirão se essa outra pessoa não concordar com a avaliação que ela tem feito.
Em contraste, uma pessoa legisladora e uma pessoa executiva podem tornar-se um casal natural, pois uma tende a estabelecer a direção e a outra a segui-la. Mas elas podem se envolver em conflito se o legislador torna-se entediado com o executor, ou se o executor magoa o legislador querendo as coisas sejam feitas como ela quer que sejam. Concluindo, relacionamento íntimo ou marital é sempre um fenômeno multifacetado. Por isso, devemos sempre considerar os atributos particulares, especialmente aqueles de personalidade, que são inerentes a um particular de pessoas, a saber, o casal.

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