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Martin Barre lança álbum com releituras de sucessos do Jethro Tull

Por André Cáceres

Fundado em 1967, o Jethro Tull é uma das maiores bandas da história do rock progressivo, unindo elementos de folk, blues, rock e psicodelia. Com 75 milhões de álbuns vendidos e um Grammy conquistado em 1988, entre as características mais notáveis do Tull está o casamento improvável entre a guitarra de Martin Barre e a flauta de Ian Anderson, dupla que se manteve à frente do conjunto de 1968 até 2011, quando a banda entrou em hiato.

Desde então, flautista e guitarrista se mantiveram afastados, para a tristeza dos ouvintes. Mas esses fãs têm finalmente um motivo para comemorar: se não há perspectiva de que os músicos reatem as relações, pelo menos Barre lançou na semana passada, nas principais plataformas de streaming, o álbum duplo 50 Years of Jethro Tull.

Contando com regravações e releituras de clássicos da banda, os discos são uma celebração aos maiores momentos do Jethro Tull, indo de hits como My Sunday Feeling e Songs from the Wood a músicas menos conhecidas, como Wond’ring Aloud e Life is a Long Song.

O guitarrista inglês falou em entrevista exclusiva por videoconferência ao Estadão sobre sua carreira, sua relação com Anderson e suas expectativas para o futuro. Leia abaixo trechos da entrevista:

Como foi a sensação de revisitar músicas clássicas com uma abordagem nova?

Eu me diverti muito gravando. Tinha de soar fresco, vital, ter essa vitalidade. Mas nós realmente aproveitamos. Muitas delas nós costumávamos tocar ao vivo.

Você já afirmou em entrevistas que Benefit é seu álbum favorito do Jethro Tull. Por quê?

Eu simplesmente gostei mais de gravá-lo. Todas as canções são muito boas, mas em Benefit nós tínhamos mais confiança. Foi um disco com boa aceitação por todo o mundo. Essencialmente, o melhor disco foi Stand Up, mas de modo geral gostei mais de gravar Benefit.

Na autobiografia de Tony Iommi, do Black Sabbath, ele dá alguns detalhes dos dias que permaneceu como guitarrista do Jethro Tull em 1968. Você chegou a tocar junto com ele?

Não, eu entrei na banda logo que ele saiu. Diversos guitarristas fizeram audições no fim de 1968 para entrar no Jethro Tull. Iommi, Mick Taylor e eu éramos alguns deles. Ele chegou a subir ao palco na gravação do filme The Rolling Stones Rock and Roll Circus, mas não tocou de fato, pois as músicas foram apresentadas em playback. À medida que Iommi foi sendo introduzido à música do Jethro Tull, ele percebeu que aquilo não era exatamente o som que ele queria produzir. Então, eu fui chamado logo antes do fim daquele ano e tive de explicar para os meus pais que não poderia passar o natal com eles porque havia me juntado a uma banda.

Você compôs por quatro décadas com a dicotomia entre guitarra e flauta em mente. Seu processo criativo mudou em sua carreira solo, sem a flauta?

Não mudou muito, porque a flauta toca uma linha melódica, um riff, mas a guitarra é muito mais expressiva musicalmente. Se há uma flauta passando pela música, nós podemos replicá-la com minha guitarra. No Jethro Tull, as músicas funcionam bem porque Anderson e eu sabíamos dar espaço um ao outro.

Quando começou sua carreira, o rock progressivo era sempre inovador. Como manter esse sentimento experimental após cinco décadas?

Se eu pudesse colocar esse sentimento em uma garrafa e vendê-lo, eu ficaria rico. Eu tenho isso em meu coração. Sempre que eu pego a guitarra para tocar, algo que faço todos os dias, penso que é a primeira vez que faço isso pelo resto da minha vida.

Nos anos 1970 e 1980, as bandas de rock precisavam arrastar multidões para se manter relevantes. Hoje, com o streaming, uma banda pode cativar um público mais fiel e capilarizado, sem precisar ser tão comercial. Essa mudança de dinâmica teve algum impacto em sua música?

Não, porque nós nunca nos importamos com modas. Poderíamos ter replicado fórmulas de sucesso, fazendo um Aqualung 2, por exemplo, mas nunca quisemos ser esse tipo de banda. A boa música sempre vai se sobressair, independentemente de ser tocada para 20 pessoas ou para 20 mil. Eu prefiro, é claro, tocar para 20 mil, mas não há diferença, a música é sempre a mesma.

Seu show em São Paulo este ano foi um dos últimos antes que a pandemia forçasse o cancelamento das apresentações ao vivo. Como você tem passado a quarentena e o que espera para o futuro?

Tenho composto músicas, provavelmente vou gravar um novo álbum solo no ano que vem. Pretendo lançar um DVD gravado ao vivo neste Natal também. Enquanto isso, tenho tocado guitarra diariamente, como sempre fiz, estou praticando mais a flauta… Adoro jogar tênis de mesa, então tenho uma máquina que arremessa bolinhas para mim. Estou frustrado por não poder tocar para meu público, mas espero que logo isso seja possível novamente.

Como enxerga a cena contemporânea do rock?

Não invejo os músicos mais jovens. Acho que fazer shows se tornou, em algumas áreas, menos importante do que manufaturar músicas em computadores.

Brasileiros e ingleses compartilham a paixão pela música e futebol. Mas não me recordo de muitas músicas inglesas sobre esse esporte.

Até há algumas músicas sobre futebol por aqui, mas elas tendem a ser muito ruins (risos). A paixão pelo futebol é muito mais contida na Inglaterra. No Brasil, parece que todos são muito fanáticos, enquanto na Inglaterra alguns preferem rugby, tênis, natação… Há uma variedade maior nos interesses.

Há alguma chance de uma reunião do Jethro Tull com você e Ian Anderson?

Não acredito que haja. Essa chance fica menor e menor, e o maior indício é que o aniversário de 50 anos da banda se passou e não houve qualquer iniciativa nesse sentido, nenhuma celebração ou álbum, nem uma reunião dos músicos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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