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As ‘Franciscas’ que carregamos em nós, mulheres!

Venho aqui contar a história de Francisca, mulher de 32 anos, casada há 3 anos e que está com seu primeiro filho, agora com 2 anos, diagnosticado como autista. Francisca é uma mulher como qualquer uma de nós, engravi­dando do seu primeiro filho, fez inúmeros planos enquanto grávida e também para após o nascimento da criança.

Depois do nascimento, ela ficava sempre observando reações diferentes em seu garoto enquanto ele crescia. Ele não falou no tempo esperado e gostava de ficar brincando com a colher de pau da cozinha, batendo no chão, sozinho, sempre parecendo alheio ao que se passava ao seu redor. Não olhava ela de frente. E, logo ela que, muito disponível sempre se dispôs a brincar com ele.

Nas consultas com o pediatra, Francisca falava de suas observações, no entanto sempre ouvia: “Seu filho tem um desenvolvimento próprio dele, você está muito ansiosa… primeiro filho é assim mesmo…”

Pois, bem, não é que ela estava certa em suas percepções de que algo estranho estava acontecendo com o seu filho? Francisca, levada pela sua suposta “ansiedade”, levou seu filho a um psiquiatra infantil e também na psicóloga. Ambos o avaliaram e assim ela recebeu a o diagnóstico de que seu filho está dentro do espectro autista, como se diz, ou seja, ele tem Transtorno do Espectro Autista (TEA).

E o que a Francisca sentiu? Uma enorme frustração de imediato tomou conta de si. E, em seguida, sentiu de até raiva do pediatra, era como se quisesse depositar em alguém a razão de ter um filho autista. Porém, o que ela observou em si, alguns meses depois do diagnóstico, foi que estava muito magoada por ter um filho autista, ou seja, um filho com necessidades especiais.

E por que? Ela começou a se perguntar: “O que eu poderia ter feito, para isso ser evitado e não fiz?”. E, claro ela não encontrou nenhuma resposta satisfatória. E assim, ela começou a se culpar pela forma “estranha” do seu filho. Ficava horas a fio, imaginando “E se eu tivesse feito algo diferente?” Mas, o que ela poderia ter feito de diferente? Por que seria ela quem tinha algo a ver com o fato de seu filho ter nascido como nasceu? Temos controle sobre isso…?

E assim Francisca se viu magoada consigo, com a vida, com seu marido, com quem teve esse filho. O processo que se seguiu foi a sua busca por ajuda para seu filho: psicóloga, psiquiatra infantil, terapia ocupacional, fonoaudió­loga e também encontrou vaga em um programa de equoterapia. Tudo o que lhe falavam que poderia ser bom para estimular o desenvolvimento de seu filho, Francisca fez e continua fazendo.

Um dia, ela se deu conta da sobrecarga emocional sobre ela mesma, pois que, deixou de trabalhar para poder se dedicar a seu único filho e autista. Seu casamento se abalou, pois ela não conseguia dar atenção ao marido e tam­bém não se sentia apoiada por ele, que, por sua vez, ficava cada mais ausente de casa, justificando-se pelo seu traba­lho. E Francisca sentia aquela mágoa dentro de seu peito apertado e ficava cada vez mais abatida emocionalmente…

A história de Francisca é fictícia, mas corresponde a muitas vidas que vivem situações semelhantes. A dela, como outras, ainda tem muitos capítulos… Francisca representa aqui aquela MULHER que não desiste da luta e continua firme, cuidando de sua vida, do seu filho e de sua família!

Almejo aqui trazer a revelação dessa mágoa que ela sentia. Ela conseguiu localizar o que doía em seu peito e pode se expressar: sentia a dor de ter um filho com muitas diferenças no desenvolvimento, se comparada a outras crianças e isso dá muito trabalho e exige todo um esforço especial em estimular o desenvolvimento psicossocial desse filho.
Francisca buscou fazer seu próprio trabalho pessoal, por meio da psicoterapia, o que muito lhe ajuda, ainda hoje, a lidar com seus fantasmas, medos, mágoas, frustrações! Mas também lhe ajuda a tomar contato com sua potência como pessoa, respeitando seus limites.

Mas, para que servia a comparação que ela fazia sobre seu filho e os demais? E para ela Francisca, quem estava olhando? Essas foram questões que, trabalhadas em seu processo psicoterapêutico, apoiava Francisca a continuar indo à luta, por uma vida melhor para ela e, consequentemente, para seu filho e sua família!! Aqui, uma esperança: poderemos ter um caminho para vencer a mágoa, quando conseguimos superar aquilo que nos magoou. Ou seja, no lugar da mágoa, poderá emergir a tristeza, que é um sentimento legítimo, que nos traz para dentro de nós mesmas e nos faz refletir e transformar aquilo que não conseguimos mudar!

E, olha, essa mágoa e culpa por questões relativas ao filho que nos traz seus problemas comprometedores do seu pleno desenvolvimento como pessoas, pode nos frustrar como mães em nossas expectativas, estando presente também em mães típicas, ou seja, mães que não tem filhos com necessidades especiais.

Pois aqui, trago 4 dicas importantes para que você mulher/mãe, que se por acaso sente-se magoada, comece a lidar com essa mágoa, buscando sua saúde mental:

1) Considere a possibilidade de sentir a tristeza, deixá-la vir à tona para que assim, você consiga ficar mais quieta consigo mesma, olhar-se e pensar: “O que vou aprender com isso?”

2) Perceba que a situação que você vivencia pode ter muito a lhe ensinar. Reflita: “O que preciso mudar em mim mesma?”
3) Observe que na lida com seu filho com necessidades especiais ou não, muitas situações podem produzir-lhe mágoas. Porém, não deixe que as mesmas absorvam seu ser.

4) Considere a possibilidade de pedir ajuda psicoterapêutica para você mesma, através do trabalho de um profissio­nal qualificado, como o psicólogo(a).

Assim, considere colocar-se em primeiro lugar. Você é a primeira pessoa que precisa de oxigênio para viver e conviver com tudo o que lhe acontece!

Oxigene-se, para poder oferecer a oxigenação necessária ao seu filho, ou filha.

Faz sentido?

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