Tribuna Ribeirão
Artigos

Tim Maia só queria sossego

Quem conheceu Tim Maia na certa se lembra da sua fama de encren­queiro, dar cano em shows era com ele. Sua banda, a Vitória Régia, sempre se ferrava, que o digam seus músicos! Lembro-me de um show em Belo Hori­zonte em que a banda já estava na cidade e ele, no Rio de Janeiro. Tim estava naqueles dias de muito invocado, chegou ao aeroporto, andou um pouco até o alambrado e danou a observar os aviões decolando. Ele morria de medo de voar, sabe-se lá o que se passava na sua cachola. Só sei que ele deu meia volta, entrou em um táxi e vazou pra casa.

Na capital mineira, seus músicos estavam na maior aflição, temendo mais uma furada do cantor. A casa de shows estava lotadaça, o público impaciente e esse Tim não chegava nem mandava recados. Lá pelas tantas, o empresário conseguiu falar com ele: “Eu não vou, marque outro dia.” Estava pra lá de Bagdá. Restou ao corajoso empresário dar a notícia… Foi a maior quebra­deira, a casa de shows virou o maior auê e alguns fãs partiram pra cima da banda, que fugiu por uma portinhola nos fundos, senão os músicos seriam linchados no lugar do chefe (rsrsrs).

Bidin, trompetista da banda, hoje mora na nossa vizinha Jardinópolis e me contou essa. Os encartes dos antigos LPs do Tim trazem o nome do Bidin. Segundo o “Tremendão” Erasmo Carlos, numa entrevista ao Programa do Jô, Tim, desde menino, era do peru, era um fio desencapado, brigava com toda a molecada, que o temia. Eles moravam na Tijuca. Os pais de Erasmo trabalha­vam, então eles comiam de marmita. Quem fornecia as “quentinhas”, eram os pais do Tim Maia, cujo nome é Sebastião, que virou Tião e depois Tim.

Pela alça, ele pendurava as marmitas numa vara e fazia as entregas. Certo dia, os pais do Erasmo chegaram pro almoço e Tião deu o cano. A mãe mandou Erasmo procurar Tião, e no caminho havia um campo de futebol. Tião corria atrás da pelota, deixando as marmitas na lateral. Erasmo gritou: “Ô, Tião!” O gordinho olhou com cara de bravo, e Erasmo falou: “Pô, bicho, meus pais esperando a marmita e você as deixa aqui, cara!” Tião passou a mão naquela vara de carregar o rango e deu em cima de Erasmo, que vazou pra casa, reportou aos pais e o quiproquó foi resolvido.

Sócrates me contou uma história de quando jogava no Flamengo, com final triste. Castor de Andrade, famoso bicheiro carioca, presidente do Bangu F.C., patrono da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, convidou ele e vários jogadores para o aniversário de 15 anos de sua neta, no “Canecão”, casa de shows top no Rio de Janeiro. A música ficou a cargo de Tim Maia e sua banda Vitória Régia.

Lá estavam Sócrates, Zico, Leandro, Junior e outros craques, mais a nata da sociedade carioca. A banda mandando aquele som e nada do Tim apare­cer. Castor de Andrade, sabendo que Tim Maia dava suas mancadas, chamou seus seguranças e “determinou”: “Vocês vão buscar Tim Maia na casa dele e não me apareçam aqui sem ele, entenderam?” Tocaram a campainha, aparece o Tim de pijama, os caras disseram: “Pô, seu Tim, seu Castor pediu pra bus­cá-lo”..Tim respondeu: “Digam pra ele que eu não posso ir”. Eles insistiram numa boa: “Mas, seu Tim, o Canecão tá lotado, sua banda tá lá”.

Tim, nervoso, disse: “Já falei que eu não posso ir”. Aí, um dos seguranças, já meio que alterado, falou: “O senhor não pode ir por quê?” “Porque minha cachorrinha tá doente”, disse Tim. “Não tem problema, seu Tim, nós a deixa­mos no veterinário no caminho”. Tim retrucou: “Já falei que eu não vou”.

Os seguranças devem ter pensado: “Ou nós ou a cachorrinha”. Um deles falou: “Seu Tim, posso ver a cachorrinha?” Tim chamou a bichinha, que veio toda saltitante. O segurança sem coração sacou seu revólver e a eliminou. Depois disse: “E agora, o senhor vai ou não vai?”

Tim vestiu sua manjada roupa de shows e minutos depois balançava sua pança no palco do Canecão. A banda Vitória Régia atacou a introdução de “Sos­sego” e Tim, com seu vozeirão, entrou: “Ora bolas, não me amole, com esse papo de emprego, você está vendo, não estou nessa, o que eu quero é sossego”. Castor de Andrade jogou água no chope do Tim, que só queria sossego. Sobrou pra coitada da cadela, que não tinha nada a ver com o imbróglio do dono.

Sexta conto mais.

Postagens relacionadas

Descer do palanque

William Teodoro

O novo Plano Diretor de Ribeirão Preto

Redação 1

A inconstitucionalidade da redução do quórum para emenda à Lei Orgânica

William Teodoro

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com