O método de administração empresarial muitas vezes é reclamado para ser repetido na administração pública.
No entanto, há a diferença substantiva entre uma e outra. Na empresarial o objeto é o lucro, sem poder ignorar sua dimensão social. Na administração pública não existe lucro, porque o objeto prevalecente é o interesse público, é o bem comum. Tanto que nas finanças públicas, quando há resultado negativo fala-se em déficits, e quando esse resultado é positivo fala-se em superávit.
Esse assunto não exclui que do mundo empresarial há e surgem motivos e ações, que possam ganhar a dimensão de política pública, mais próxima de uma realização de justiça.
Esse singela reflexão está provocada pelo conhecimento revelado pela dimensão humana, social e cívica que a empresária Luiza Helena Trajano (Magazine Luiza) tem disseminado pelo país, e particularmente no programa Roda Viva, da Televisão Cultura.
Se sua formação universitária foi da Faculdade de Direito, a verdade é que sua visão aberta e larga, global dir-se-á, está na esfera do conhecimento intuitivo, que apresenta a vibração do caminho, para depois ela cuidar das letras e teses que possam ilustrar a sua comunicação.
Empresária aberta à inovação fez com que sua rede de lojas se esparramasse pelo país, sem perder a sensibilidade humana, já que não distingue idade, sexo, cor no governo de seu conglomerado de lojas.
Tem o verbo de assumir a carga discriminatória trazida pelo patrimônio acumulado por trezentos e cinquenta anos de escravidão, registro da verdade histórica, que serve à política de sua empresa.
A crise pandêmica não foi causa de desemprego. Reclama corajosamente a falta de unidade na coordenação nacional da política sanitária, inclusive. E ensina, sem o querer, aos políticos, aos civis e aos militares, primeiramente, sua devoção à democracia, e à certeza de que “ninguém salva esse país sozinho”.
Sua delicada saída para não entrar no jogo sujo da política atual, é proclamar claramente que é preciso de união, o que sugere um projeto nacional, que pode acontecer até com a formulação de um programa mínimo, que unisse as formas políticas e representativas da sociedade civil brasileira.
Fica claro sua intransigente devoção à democracia, a tolerância e ao respeito de outro. E o seu Movimento de Mulheres, que reúne setenta e cinco mil, professa a simplicidade de como se constrói mais um degrau para maior tranquilidade na vida privada, e esperançosa certeza na vida pública.
Vejam a clareza dessa consciência militante, que serve de modelo aos dinossauros de nossos governos atuais: “O Brasil precisa de um plano estratégico de dez anos”.
Sua entrevista televisiva ocorreu no começo da semana, antecipando o sinal de uma consciência que se expande, já que no final da mesma semana, o suplemento do jornal Valor -Eu & Fim de Semana (9/10) veiculava matéria sob o título “Empresários em alerta”, diante do fato de que “No Brasil até o passado é incerto”.
O presidente do Grupo Ultra, Pedro Whongtschowski, é categórico – “No Brasil há um empobrecimento das instituições, por causa de (presidente Jair) Bolsonaro”. Enquanto Pedro Passos, da Natura – “As instituições democráticas ainda estão em pé, mas sob constante ataque. O governo atual dá clara indicação de que não valoriza os princípios democráticos”, e ainda – “Há pouco diálogo do governo com a sociedade. Espero que as elites, a academia, as associações da sociedade, fiquem alertas para não deixar esse processo evoluir”.
E, dentre outros, Horácio Lafer Piva, acionista da Klabin e ex-presidente da Federação das Industrias – “…o Brasil está em momento muito delicado de sua trajetória democrática, isso porque Brasília desconhece a gravidade das crises simultâneas que acometem o país, de ordem sanitária, ambiental, política, social e econômica”.
Com um plano estratégico, o Brasil não se entregaria como vassalo a interesses geopolíticos.
Essa simples e incrível mulher, que não se cansa de atuar pelo Brasil, pode ser vista nesse plano como semeadora de um sentimento de nação.
Luiza Helena Trajano, eis o justo motivo de nossa homenagem.