O número de brasileiros endividados diminuiu este mês, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). De agosto para setembro, após três altas consecutivas, caiu em 0,3 ponto percentual o indicador relativo ao número de brasileiros com dívidas em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal e prestação de carro e de casa.
O índice, que havia alcançado o maior percentual da série histórica em agosto, chegou a 67,2% neste mês. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). No comparativo anual, contudo, o indicador registrou aumento de 2,1 pontos percentuais.
Segundo o presidente da CNC, José Roberto Tadros, a primeira queda no endividamento das famílias desde maio reflete uma melhora na economia. “Indicadores recentes têm mostrado que a recuperação gradual da economia para os próximos dois trimestres está mais robusta do que as estimativas indicavam”, afirma Tadros, em comunicado da confederação.
Ele alerta que, embora tenha havido queda na margem, a proporção de consumidores endividados no Brasil ainda é elevada. “Para apoiar a retomada, é importante seguir ampliando o acesso ao crédito com custos mais baixos, mas, principalmente, possibilitar o alongamento de prazos de pagamento das dívidas para mitigar o risco da inadimplência no sistema financeiro”, diz.
A Peic revela ainda uma mudança nas trajetórias do endividamento. Entre as famílias que recebem até dez salários mínimos, o percentual caiu pela primeira vez desde maio, chegando a 69% do total – após ter alcançado o recorde de 69,5%, em agosto. Entre as famílias com renda acima de dez salários, esta mesma proporção teve o primeiro aumento desde abril, subindo a 59%.
Economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira afirma que a redução do endividamento entre as famílias de menor renda mostra que os benefícios emergenciais têm contribuído para elevar o consumo de bens e o pagamento de despesas. “Por outro lado, as famílias com renda mais alta, que estavam ampliando as suas poupanças, aparentemente iniciaram uma retomada do consumo via crédito”, explica.
O total de famílias com dívidas ou contas em atraso também apresentou a primeira redução mensal desde maio, caindo de 26,7%, em agosto, para 26,5%, em setembro. Em comparação com o mesmo mês do ano passado, a proporção cresceu 2 pontos percentuais. A parcela das famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e que, portanto, permaneceriam inadimplentes se manteve praticamente estável. No mesmo período de 2019, o indicador havia alcançado 9,6%.
A parcela média da renda comprometida com dívidas entre as famílias endividadas caiu para 29,9% da renda mensal. É o terceiro mês de queda apresentado pelo indicador desde janeiro de 2020, o que favorece a capacidade de pagamento.
Com relação aos tipos de dívida, o cartão de crédito segue sendo, em setembro, a principal modalidade de endividamento para 79% das famílias. Na sequência, aparecem os carnês (16,7%) e o financiamento de veículos (10,3%). Izis chama atenção para o fato de o cartão de crédito, que havia perdido espaço no endividamento de janeiro a junho deste ano, vir ampliando sua participação desde julho.