Por Ítalo Lo Re
O Cine Belas Artes, um dos últimos cinemas de rua de Belo Horizonte, iniciou na segunda-feira, 28, um financiamento coletivo para manter suas portas abertas. Inaugurado em 1992 em um prédio próximo à Praça da Liberdade, na região centro-sul da capital mineira, o cinema está fechado desde o dia 19 de março por conta da pandemia do novo coronavírus e enfrenta dificuldades financeiras.
Criada no site Benfeitoria, a campanha SOS Belas Artes já arrecadou R$ 120 mil em dois dias. O valor foi doado por cerca de 1.300 pessoas e corresponde a mais de 60% da meta inicial prevista para um mês, que é de R$ 200 mil. Caso essa quantia seja atingida, o Cine Belas Artes poderá continuar funcionando. Mas o local ainda tem duas novas metas: de R$ 400 mil e R$ 500 mil, que possibilitariam, respectivamente, a compra de novas poltronas para as salas e a modernização sonora do cinema.
O diretor de programação do Cine Belas Artes, Adhemar Oliveira, exalta o papel do cinema de rua de dar espaço para filmes independentes. “O cinema fala sozinho. E ele, ao falar, está expressando a defesa de um tipo de programação e de um modelo de postura, que é estar na rua. Isso faz dele um cinema diferente, que é resultado de um trabalho de 28 anos de várias pessoas”.
Segundo Adhemar, exibir filmes independentes de diferentes regiões é um dos motivos que faz com que a campanha SOS Belas Artes esteja recebendo doações não apenas de moradores de Belo Horizonte, mas de todos os cantos. “O Cine Belas Artes ficou conhecido por dar guarida a filmes independentes brasileiros e internacionais. E tudo isso independentemente dos resultados que eles possam ter. É a vocação do cinema”, destaca.
Mas essa característica não foi suficiente para impedir as dificuldades financeiras. De acordo com o diretor, se já estava complicado antes, a pandemia tornou tudo ainda mais difícil, “principalmente porque não trabalhamos com delivery”, brinca. Em meio a isso, o financiamento coletivo surgiu como a última alternativa para manter o Cine Belas Artes na ativa, já que o cinema tem 17 funcionários e não tem previsão de reabertura.
Para Adhemar, o crowdfunding, outro nome dado ao financiamento coletivo, é uma forma do cinema respirar, já que mesmo depois da reabertura não será fácil. “A gente sabe que a dificuldade depois de reabrir será grande pelos protocolos, pela diminuição da ocupação das salas devido a esses protocolos e até pelo receio da população, que deve ficar mais tranquila em termos de circulação. Podendo voltar ao normal, em que normal voltaremos?”, diz.
Cine Belas Artes dá recompensas a quem contribui com o financiamento coletivo
Para atrair doadores para a campanha, o Cine Belas Artes definiu recompensas, que variam de acordo com os valores de contribuição Quem doa R$ 30, por exemplo, pode ter o nome em uma vinheta de abertura antes dos filmes. De acordo com cada faixa de doação, o cinema também irá disponibilizar ingressos gratuitos, enviar camisetas exclusivas e até bordar nomes em poltronas das salas.
O valor mínimo de doação para quem quer receber uma recompensa é de R$ 30, e vai até R$ 10 mil, faixa destinada a empresários que queiram anunciar nos telões. Mas também é possível doar sem contrapartidas. “Tem gente que está doando quantias mesmo sem tirar as recompensas, pelo simples desejo de participar”, destaca Adhemar, que não descarta a apresentação de novas recompensas ao longo da campanha.
Um dos últimos cinemas de rua de Belo Horizonte
Aberto em 1992, o Cine Belas Artes está instalado juntamente com um café e uma livraria, em um prédio que foi a antiga sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), instituição a qual o edifício ainda pertence. O projeto foi concebido pelo arquiteto Sylvio de Vasconcellos e está localizado na Rua Gonçalves Dias, 1.581, no bairro Lourdes.
De acordo com Adhemar Oliveira, se no começo de sua história o Cine Belas Artes ainda disputava espaço com uma quantidade relativa de cinemas de rua em Belo Horizonte, ao longo dos anos, ele foi se tornando um dos únicos remanescentes a oferecer uma programação independente – fator que talvez tenha até aumentado seu protagonismo. Atualmente, o espaço tem três salas para exibição de filmes independentes de diferentes países.
Saiba como participar da campanha ‘SOS Belas Artes’
Para contribuir com o cinema, basta acessar a página da campanha no site Benfeitoria e escolher uma das faixas de apoio ou optar por uma contribuição livre. Depois disso, é necessário fazer o cadastro e selecionar o meio de pagamento. Abaixo, o vídeo da campanha: