João Camargo
Diante do incêndio que atingiu cerca de 460 hectares na região Sul de Ribeirão Preto, no dia 18 de setembro, e da grande quantia de focos que tem sido registrada nos últimos meses, moradores de condomínios têm se mobilizado para recuperar as áreas verdes devastadas pelo fogo.
Nesse sentido, foram criados grupos, sendo que um deles conta com cerca de 250 pessoas de várias regiões da cidade, que estão sensibilizados com a causa. De acordo com Lucas Miranda, presidente municipal do Partido Verde em Ribeirão Preto e que faz parte desse grupo, o foco principal é em centralizar as ações.
“Estão havendo muitas ações solitárias. Nós precisamos centralizá-las. Vamos conversar com o Ministério Público e com a Prefeitura para saber quais são as ações que devem ser tomadas. Ações que, inclusive, devem acontecer de forma continuada. Porque não adianta plantarmos árvores agora e, em novembro e dezembro, ninguém cuidar disso”, disse Miranda, que acredita que envolver a comunidade em ações como esta é importante para uma consciência ambiental.
Além de Miranda, Mariana de Moraes Olivio, também moradora de um condomínio de Ribeirão Preto, se reuniu com outros moradores para encontrar uma maneira de poder reflorestar a área perdida no incêndio.
“Em um primeiro momento, os moradores estão se organizando em grupos para ir até lá [local do incêndio] nos fins de semana e fazer uma busca por animais que possam ter sobrevivido ou que possam estar feridos. Além disso, vamos espalhar frutas e água pela área”, relatou.
Mariana informou que na quarta-feira, 23 de setembro, foi realizada uma reunião entre a Secretaria do Meio Ambiente, os moradores dos condomínios que foram mais atingidos e alguns representantes da Câmara dos Vereadores.
Questionada sobre essa reunião, a Secretaria do Meio Ambiente informou, por meio de nota, que está inicialmente identificando toda a região atingida e as devidas matrículas das áreas afetadas.
“A partir das informações quanto à propriedade e responsabilidade sobre as áreas, será possível fazer o planejamento da recomposição, em conjunto com os órgãos relacionados ao meio ambiente, como o Gaema, Ministério Público, Cetesb e Fundação Florestal”, completou a Secretaria.
Para quem se interessar em ajudar, foi criado uma página no Instagram (@amigosdafaunarp), na qual há o link para participar de um grupo do WhatsApp, onde são aceitas doações de mudas e frutas.
O incêndio
Na sexta-feira, 18 de setembro, um incêndio atingiu cerca de 460 hectares em uma área de cana-de-açúcar, APP e vegetação nativa, localizada próxima à Rodovia Prefeito Antônio Duarte Nogueira, o Anel Viário Sul, em Ribeirão Preto.
De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, na oportunidade, foram encaminhadas ao menos seis equipes para o combate das chamas. O clima seco e a alta temperatura podem ter auxiliado para que o fogo se espalhasse.
Diante da magnitude do incêndio, as chamas se aproximaram de condomínios daquela região e chegaram a causar pânico nos moradores. Segundo Juliana Oliveira, que reside nas proximidades, dentro de seu condomínio também ocorreu focos de incêndio, que podem ter sido provocados pelas faíscas do fogo na mata.
“Tivemos alguns lotes incendiados, mas, como a grama está baixa, foi só superficial. Tivemos a grama da APP incendiada e parte de nossas árvores da APP interna também”, comentou Juliana.
Por conta da gravidade do incêndio, o Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema) de Ribeirão Preto solicitou a abertura de um inquérito policial para investigar a autoria do início das chamas. De acordo com a promotora Cláudia Habib, do Gaema, a Polícia Ambiental e o Corpo de Bombeiros informaram que o incêndio tinha todas as características de ter sido criminoso.
Além do fato ocorrido no dia 18 de setembro, a promotora relata que moradores da região informaram terem visto uma pessoa, com as mesmas características, ateando fogo no local no sábado, 19 de setembro, e no domingo, 20 de setembro.
“Viram na sexta-feira e outros dois ataques, no sábado e no domingo. Nesses últimos dias, contidos pela população. A investigação da Polícia Civil busca por registros de câmeras de condomínios que possam ter flagrado essa pessoa”, disse Cláudia.
Em entrevista ao Tribuna, a promotora comunicou, ainda, que este crime pode acarretar pena de dois há quatro anos de reclusão, além da reparação do dano e de uma multa administrativa proporcional a extensão do incêndio. “São vários desdobramentos em relação à fauna, à flora e à saúde pública”, comunicou Cláudia.
Na quinta-feira, 24 de setembro, foram divulgadas imagens de uma pessoa colocando fogo, no dia 8 de setembro, em uma área na Avenida Francisco Gugliano, próximo ao local atingido pelo incêndio investigado. Diante desse registo, a Polícia Civil apura se essa pessoa tem relação com o caso do dia 18 de setembro.
No caso de a população ter informações de pessoas suspeitas de cometer esse tipo de crime, o Gaema pede para seja contatado para que estas sejam localizadas. O e-mail para contato é: [email protected].
Animais resgatados
O Bosque e Zoológico Dr. Fábio Barreto resgatou cinco animais vítimas do incêndio na zona Sul de Ribeirão Preto. De acordo com o bosque, foram resgatados um ouriço-cacheiro, uma jiboia-cinzenta, um tucano-toco, um choca-barrada e um periquito-rei.
Ainda segundo o bosque, o ouriço-cacheiro sofreu queimaduras em todos os espinhos, pelos, pés e focinho; o tucano-toco sofreu lesões superficiais em suas asas; a jiboia-cinzenta sofreu queimaduras em 90% do corpo; já o choca-barrada e o periquito não sofreram lesões.
Diante dessas lesões, os animais estão passando por avaliações diárias. Até o momento, eles permanecem no bosque, porém, dependendo de suas recuperações, podem ser destinados à reintrodução.
Distribuição de mudas
Relacionado a causa dos moradores e do replantio na área devastada, o Parque Ecológico Ângelo Rinaldi – Horto Municipal Florestal, em uma ação para comemorar o Dia da Árvore, celebrado em 21 de setembro, vai receber pedidos de munícipes e agendar a retirada de mudas.
No horto, há diversas espécies de pequeno, médio e grande porte, nativas e ornamentais. As doações, em razão da pandemia do novo coronavírus, estão sendo feitas mediante a solicitação prévia, com análise da proposta apresentada pelo interessado, para posterior orientação da doação.
As solicitações podem ser encaminhadas via ofício, ou por meio dos e-mails gabinete@meioambiente.pmrp.com.br e wecos[email protected]. com.br, com uma proposta de plantio que conste identificação individual ou coletiva do interessado, local do plantio desejado, quantidade de mudas, espécies pretendidas e acompanhamento do desenvolvimento do plantio.
Em nota, a Secretaria do Meio Ambiente ressaltou que, diante dessa comemoração, realizou vários plantios. Inclusive um simbólico na área que sofreu incêndio no dia 18 de setembro.