Já tem muitas pesquisas sobre o assunto e que sempre atestam o mesmo resultado; no mundo, mesmo em países desenvolvidos, mulheres gastam quase o dobro do tempo que os homens em serviços domésticos e trabalho não remunerado (faxinar e cuidar de filhos seriam dois desses trabalhos sem remuneração que as mulheres fazem a mais que os homens).
E as mulheres fazem isso mesmo tendo uma jornada de trabalho remunerada similar à dos homens: homens trabalham oito horas em média e mulheres sete horas e 45 minutos. A diferença é que desse conjunto de horas os homens trabalham 02 horas e 21 minutos sem remuneração e as mulheres 04 horas e 30 minutos (dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE).
No Brasil, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) essa diferença é ainda maior; as mulheres brasileiras gastam em média 26,6 horas semanais com trabalho doméstico enquanto os homens dedicam apenas 10,5 horas.
O que tem de novidade nisso? A pandemia.
A pandemia aumentou o peso na balança para o lado das mulheres. Foi o que apurou pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizada com mais de 40 mil pessoas que responderam a um questionário pela internet sobre as mudanças vividas durante o isolamento social no período da pandemia.
As mulheres relataram mais problemas no estado emocional. As que se sentem tristes ou frequentemente deprimidas foram 50% das entrevistadas, enquanto para os homens esse percentual chegou a 30%. O índice de quem disse ter sentido ansiedade ou nervosismo no período foi de 60% para as mulheres, chegando a 43% entre os homens.
Esses resultados podem ser explicados, entre outros fatores, pelo excesso de trabalho desempenhado pelas mulheres durante a pandemia: 26,4% das mulheres afirmam que o trabalho doméstico aumentou muito durante a pandemia, percentual mais de duas vezes maior que o dos homens, 13,1%. E esse aumento de trabalhos domésticos implica em dificuldades maiores também para a execução de atividades relacionadas ao emprego de forma geral, em especial quando há trabalho remunerado desempenhado em casa.
É uma mãe, uma filha, uma avó, uma neta, uma tia, uma sobrinha, uma vizinha, uma amiga, uma colega de trabalho, sempre é possível ver esse desgaste, esse desequilíbrio na balança, essa injustiça, essa, é dizer, também, essa exploração.
É, sim, injustiça e exploração. Dentro de uma casa, de um lar, em que pessoas convivem coletivamente, o casal, ascendentes, descendentes e ou outros parentes, todos sabem que os afazeres de uma casa não se realizam por si, para isso é necessário que alguém os execute, e se não é a própria pessoa que está fazendo, oras, é a outra, claro. E por que quem não faz se acha no direito de não fazer e acha justo que só a outra pessoa faça ou faça bem mais?
Meninos e homens, crianças e adultos, não são capazes de limpar a casa, cuidar da roupa, fazer comida e auxiliar as pessoas idosas da família? Por que essas tarefas só cabem às mulheres e as meninas das famílias?
Se meninos e homens não são capazes disso, também não estão capacitados para ir para a vida, viver e crescer, porque a vida, lá fora, seja em relações pessoais, seja em relações profissionais, muito mais do que o ambiente familiar, pede pessoas que saibam viver de maneira coletiva, fraterna, solidária, dividindo tarefas, compartilhando conhecimento e somando forças. A vida faz essa seleção naturalmente, assim como está demonstrando que esse modelo de família, desde sempre errado, é visto cada vez mais como arcaico e anacrônico.
Só quem saiba viver assim vai conseguir viver minimamente bem nas relações e em paz consigo, e construir boas relações. Não haverá paz, e nem progresso, com relações injustas e desequilibradas. Nem mais, nem menos, apenas tratamento igual entre meninos e meninas, entre homens e mulheres. Ninguém acima de ninguém, apenas iguais em oportunidades e respeito.