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A complexidade do retorno das aulas na pandemia

Os países que alcançaram o desenvolvimento tecnológico e social nos últimos 50 anos cuidaram com carinho e abnegação da educa­ção básica – e colheram os bons frutos. A necessidade da retomada das aulas presenciais no meio de uma pandemia, que está longe de ser controlada, mostrou a diferença que há entre países que cuidam das suas crianças, e governos como o doBrasil, que não se importa com a vida e a saúde da sua população.

O negacionismo do presidente do Brasil coloca o país numa encruzilhada, quando ele estabelece um valor exponencial para aeconomia, em detrimento à vida. A educação básica pública, nunca foi tratada com o devido valor pelos governos brasileiros nos três níveis. O analfabetismo e a evasão escolar são os resultados desta política de Estado desastrosa. No entanto a pandemia desnudou o que os documentos oficiais produzidos pelas secretarias de Educa­ção escamoteavam.

A máxima que perdura entre os dirigentes do futebol brasileiro, que é: ”o que se combina sentado não vale em pé” é reproduzida com naturalidade nos meios políticos, e os dirigentes educacio­nais também pegam carona. O Plano São Paulo de retomada das atividades econômicas achou que a educação pode ser colocada no mesmo patamar das atividades comerciais e de serviços, não levando em conta as especificidades e complexidades – não pode ficar no mesmo balaio.

A retomada econômica em fases diferenciadas por cores, de acordo com o número de infectados e o os leitos de UTI disponíveis, minimizando a quantidade de mortos, não pode ser aplicado na educação por analogia, apesar da opinião destoante de alguns técni­cos da saúde, que acham que escolas e Shoppings são a mesma coisa. Nos países em que a pandemia foi levada a sério, a volta das aulas só está acontecendo no momento em que o nível de transmissão do Sars-CoV-2 (coronavírus) está muito baixo – não é o caso do Brasil, nem de Ribeirão Preto.

Uma peça só encaixa em outra, se suas dimensões estiverem de acordo com as tolerâncias estabelecidas – se as medidas estiverem acima do estabelecido, nem com marretada acontece o acoplamento – é o que está acontecendo com o Plano São Paulo, que quer fazer a educação encaixar no plano econômico nem que seja a marretadas. As fases coloridas do Plano São Paulo, não se aplicam a educação, principalmente a educação básica.

O estabelecimento de porcentagem de educandos para a reto­mada das aulas nas escolas da rede pública cria um problema de legalidade. Como serão selecionados os 35% dos educandos que re­tornariam primeiro, como vai ser o revezamento, e se a maioria das famílias exigir que seus filhos frequentem a escola todos os dias, pois a Constituição garante o acesso e a permanecia de todos – como serão resolvidas estas demandas? Vai haver uma enxurrada de ações judiciais para que se cumpra a lei.

Como um bom político, o prefeito de Ribeirão Preto usou a máxima dos dirigentes do futebol: “o que se combina sentado não vale em pé”. O governo municipal criou através de decreto, um Comitê Intersetorial, com especialistas em saúde, educação, assistência social e afins, para produzir um parecer que balizasse as decisões do gover­no dentro dos parâmetros da ciência e da pedagogia. No entanto o senhor prefeito, sem o Parecer do Comitê publicou na sexta-feira no Diário Oficial, o Decreto 223, que autoriza a abertura das escolas da rede privada a partir do dia 21de setembro, em todos os níveis.

Essa atitude do Executivo mostra que não há preocupação com a educação, nem com a vida dos educandos, dos profissionais da educação e de seus familiares. O resultado do Ideb mostrou que houve um retrocesso no aprendizado dos educandos durante o atual governo – e não havia pandemia.

Não entender a complexidade do retorno das aulas em plena pandemia, mostra o caráter deste governo.

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