Tribuna Ribeirão
Cultura

América Latina na 2ª Guerra

Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão

Setenta e cinco anos parece bastante tempo, mas ainda há sobreviventes da Segunda Guerra Mundial entre nós – um deles, combatente do grupo de mais de 25 mil soldados da Força Expedicionária Brasileira, derrotou também a covid-19. Muitos livros foram escritos e filmes foram feitos sobre um dos conflitos mais violentos da história, que deixou mais de 50 milhões de mortos e promoveu horrores como o Holocausto e os ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki. A participação da América Latina na guerra, porém, nem sempre é tão comentada. A minissérie em quatro episódios Segredos de Guerra, que está no ar no History Channel, com um capítulo novo toda sexta, às 21h30, pretende recuperar essa história.

“Esse projeto era muito importante porque estão se completando 75 anos do fim da guerra”, disse ao Estadão o historiador mexicano Alejandro Rosas, que é consultor e apresentador do programa ao lado do ator Juan Pablo Medina (A Casa das Flores). A guerra acabou na Europa em maio de 1945 e, no Pacífico, dia 2 de setembro daquele mesmo ano, com a rendição do Japão. “A ideia de falar da participação da América Latina na Segunda Guerra Mundial era fundamental porque é uma página esquecida”, completou Rosas.

E tem de tudo: espionagem, sabotagem, campos de prisioneiros, nazistas escondidos, participação de Hollywood no esforço de guerra e até a primeira batalha naval do conflito, em pleno Rio da Plata. “Em nível regional, não sabemos muito uns dos outros. O objetivo é dar um grande panorama do que foi a participação latino-americana”, contou Rosas. Entre suas histórias favoritas, está a da Força Expedicionária Brasileira. “É incrível que tenham mandado 25 mil homens. É uma quantidade enorme. O México mandou 30 pilotos”, disse Rosas, que procura buscar detalhes inusitados, como o fato de os brasileiros não conhecerem a neve e combaterem em meio a nevascas. “É importante mostrar o lado humano da história. Porque ganha uma dimensão mais rica. Quando falamos de intriga, espionagem, sabotagem ou uma batalha, é preciso colocar um rosto. O que essa pessoa gostava de beber? Como Ernest Hemingway e o mojito. Ele passava a tarde tomando mojito e ouvindo as conversas que depois ia relatar. Não podemos perder de vista que a história é feita por pessoas.”

Segredos de Guerra explora aspectos das diferentes fases e faces do conflito mundial. “Quase todos os países latino-americanos eram pró-Alemanha. Passaram todos pela neutralidade. Depois de Pearl Harbor, os EUA começaram a pressionar para que lutassem do lado dos Aliados. Todos entramos tarde na guerra”, explicou Rosas. O primeiro episódio explora a pressão comercial dos dois lados do conflito, de olho nos recursos naturais da região. O segundo foca na propaganda de guerra, destacando a presença de embaixadores culturais como Walt Disney e Orson Welles. O terceiro fala de espionagem e contraespionagem, enquanto o quarto retrata os refugiados e criminosos nazistas que se instalaram na área.

A pandemia quase atrapalhou os planos – Medina e Rosas iam gravar uma parte juntos em Buenos Aires, mas acabaram fazendo separadamente no México. “Gravei oito horas direto, mas fiquei feliz de ter participado”, disse o ator. Para o historiador, conhecer a história é fundamental. “Depois de um conflito tão violento – a pior guerra da história da humanidade, com 55 milhões de mortos, cidades destruídas, famílias devastadas -, era de se esperar que o ser humano tivesse aprendido algo. Mas não”, disse. “Termina a Segunda Guerra Mundial e vêm a Guerra Fria, Coreia, Vietnã, Bálcãs, o terrorismo no Oriente Médio. Então é importante contar essa história, porque a guerra não é o melhor caminho e não podemos permitir nunca mais um genocídio ou o uso de armas de destruição em massa, como as bombas nucleares. Não passou tanto tempo. Mas a humanidade não entendeu muita coisa. Não podemos achar que superamos.” Além dos novos episódios nas sextas 17 e 24, Segredos de Guerra está no aplicativo History Play, disponível para todos os assinantes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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