Poetas e pintores não ficaram cansados ao produzir obras, hoje históricas, dirigidas contra a escravidão africana. Essas obras receberam o nome de “Navio Negreiro”.
Quando os portugueses descobriram o mundo para o mundo, no início de suas navegações, acreditavam que a terra era plana, acabando no cabo do Bojador, na África. Ali o mar batia, como bate até hoje, nas pedras do Bojador, erguendo uma forte neblina que impedia ver o que havia além dela.
Nascia o horror filho da falsa crença segundo a qual a terra era plana. Daí, concluíam que naquele local o mar despencava no espaço até alcançar o inferno, cuja água atingida pelo calor do belzebu, transformava-se na grossa neblina. Aquele que se atravesse a atravessá-la, caia no beleléu.
O português Gil Eanes, em 1453, sem querer, atravessou a neblina e descobriu que a terra continuava além do Bojador, portanto, que o mar não despencava no inferno. A terra e a vida iam além da neblina.
O poema de Fernando Pessoa “Mar Português” documentou o fato: “Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor” por isso que “valeu a pena? Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. Com toda a experiência dolorosa dos portugueses, ali encerrada em 1453, ainda há autoridades brasileiras que creem que a terra é plana…
A América foi descoberta em 1492. O Brasil em seguida. Há quem diga que antes disso os portugueses já teriam estado no Canadá. Tanto que até hoje no Canadá há uma área enorme denominada “Labrador”, vocábulo usado pelos portugueses quando lá chegaram em busca de bacalhau.
Os homens viram que a terra era redonda, mas continuaramacreditando que era o sol que passeava ao redor dela. E não o contrário. Como em latim “nascer” é “orire”, o local do suposto nascimento do sol passou a se chamar “oriental”. Ao contrário, “morrer” em latim é “occidere”, daí “ocidental” passou a ser o nome do ponto no qual o sol todas as noites ia dormir.
Os africanos escravizados acreditavam que a América situava-se debaixo do mar, tanto que, de longe, viam os navios sumindo no horizonte como que mergulhados no mar! Não queriam conhecer o fundo do mar.
Os artistas documentaram aquela época, especialmente quando se dispuseram a lutar contra a escravidão. O poema “Navio Negreiro” de Castro Alves espanta o leitor tanto pela sua beleza como pela sua grandeza.
Rugendas, que visitou o Brasil com a Expedição Langsdorff, então cônsul russo, transformou em quadros suas visões, o que pode ser examinado no Museu Itaú Cultural. A sua obra mais notável é conhecida como “Navio Negreiro” ou “Negros no Fundo do Poço”, foi datada em 1835.
O pintor inglês Turner imortalizou um episódio ocorrido com o navio Zong que navegava da África para a Jamaica em 1793, transportando escravos.
Afirma-se que o comandante do Zong, tendo sido avisado que o seguro contratado pagava mais pela doença dos escravos transportados do que pela sua venda em território americano, manietou cerca de 130 homens, mulheres e crianças, lançando-os ao mar onde foram devorados pelos tubarões.
O quadro “Navio Negreiro” de Turner não registrou apenas uma posição da Inglaterra contra a horrível escravidão, como também inaugurou uma nova forma de lançar cores numa tela. Uma nova forma foi revelada por Turner. O seu extraordinário quadro encontra-se exposto no Museu de Belas Artes de Boston, que assim se transformou no principal centro cultural dos Estados Unidos. Não só pelo “Navio Negreiro” de Turner, mas também por ele.