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Roberto Carlos e Helena dos Santos

Por viver de música desde minha juventude, e também por contar causos desta área povoada por artistas e cantores, recebo centenas de informações, histórias, fofocas… enfim, tudo que se refere a este nicho. Acompanho a carreira de Roberto Carlos desde quando ele surgiu. Fui vê-lo nos anos 1960 no auditório da PRA7, hoje Clube, ele e seu baterista Dedé.

Imagine só, eles vieram do Rio de Janeiro até aqui em um Fusquinha 1200. No teto, o bagageiro acomodava a bateria. Dentro iam as malas, amplificadores e a guitarra do Rei. Eu tinha 16 anos e ver meu ídolo, ao vivo, foi massa. A saída foi pelo portão que dá para a avenida Francisco Junqueira e ainda está do mesmo jeito, sempre que passo por ali as imagens voltam à minha memória. Até vejo as fãs gritando na sua passagem: “Boa viagem, Roberto!!!” Foi uma festa.

A vida seguiu, tudo que ele gravava era sucesso garantido. Compositores faturavam muito com direitos autorais, até porque seu disco vendia o ano inteiro. Eu sempre tive a mania de ler tudo nos LPs, ficha técni­ca, compositores, som etc. Em vários discos deles havia um nome de mulher que me intrigava: Helena dos Santos. Ficava matutando, quem seria esta Helena dos Santos de quem o Rei sempre grava suas composições?

Nesta semana recebi fotos dela e de sua história com Roberto e me encantei. Danei a pensar na presença de Deus organizando aquele encontro e tocando o coração do cantor. Veja só, em 1963 ele estava selecionando músi­cas para seu disco “Splish Splash” quando, nos corredores da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, cruzou com uma mulher muito simples, que procurava algum cantor pra gravar sua composição.

Timidamente, ela abordou Roberto que estava em início de carreira, mas já muito conhecido no Rio de Janeiro. Ali mesmo ele pediu para que ela cantarolas­se. Helena cantou “Na lua não há”. Nesse momento aconteceu o toque divinal, ele gostou e gravou a canção, e nascia ali uma linda amizade. A partir daquele espera­do LP anual, em quase todos havia uma composição de Helena dos Santos.

Houve uma reviravolta em sua vida que conto agora. Nascida em Conselheiro Lafaiete (MG), ficou órfã de mãe ainda criança, viveu com sua madrasta até os 11 anos de idade, com 12 foi para o Rio de Janeiro com a irmã e cunhado, trabalhando numa fábrica de tecidos. Sofreu um acidente e parou de trabalhar. Recuperada, passou a ser empregada doméstica.

Aos 17 anos, casou-se, e 12 anos depois ficou viúva, grávida do sexto filho. Bateu o desespero, passou a lavar roupas e costurar para as madames de Co­pacabana. Virava noites e madrugadas para cuidar de seus rebentos, aprendeu a rimar com seu falecido marido, passando a compor músicas com rimas per­feitas, sendo “Na lua não há” sua primeira composição. Sempre digo que Deus escolhe a estrela que tem de brilhar, e com ela não foi diferente. Roberto Carlos gravou dez músicas dela, sendo três em parceria com Getúlio Côrtez.

Com o dinheiro recebido pelos direitos autorais, passou a ter uma vida mais confortável, mudou-se para um apartamento no Horto Florestal. Em 1970, com a autorização do Rei, lançou um livro, “O Rei e eu”, em que conta detalhes de sua relação com Roberto, do qual era uma querida confidente. Sempre foi fiel a Roberto, só mandava canções para ele. Listo aqui mais algumas compostas por ela: “Meu grande bem”, “Sorrindo pra mim”, “Nem mesmo você”, “O astronauta”, “Do outro lado da cidade”, “Recordações”…

No dia 23 de outubro de 2005, aos 83 anos, na sua casa em Bangu, papai do céu a convidou para compor canções em outra morada… Missão cumpri­da, grande compositora.

Sexta conto mais.

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