Certamente o ano de 2020 será lembrado pela pandemia mundial, mas também por importantes fatos que impactaram a história. Nesta semana os protagonistas foram o jogadores da NBA, liga norte-americana de basquete, que resolveram não entrar em quadra pelos playoffs da competição, em sinal de solidariedade a Jacon Blake, um homem negro, que tentava apartar uma briga entre duas mulheres e foi injustamente alvejado com sete tiros covardemente disparados por policiais de Kenosha, no estado de Wisconsin. A cena ocorreu diante de seus três filhos menores e, segundo informações médicas, ele perdeu o movimento das pernas.
O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama e o piloto inglês Lewis Hamilton apoiaram o boicote feito pelos jogadores. As jogadoras da WNBA (liga feminina de basquete americano) também resolveram não jogar e vestiram camisas brancas com alusão às marcas de tiros, em vermelho, nas costas. Uma das poucas críticas ao movimento veio do atual presidente Donald Trump que disse que a NBA se tornou uma organização política e que isso não é bom. Curiosamente os americanos são mundialmente conhecidos por utilizar o esporte como forma promoção política e de patriotismo.
No Brasil, mais uma triste realidade foi confirmada pelo Atlas da Violência 2020 apontando que a taxa de homicídios de negros saltou de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2018, isso representa aumento de 11,5% no período. Por outro lado, os assassinatos entre os não negros tiveram uma diminuição de 12,9% (de uma taxa de 15,9 para 13,9 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes)no mesmo comparativo. Curiosamente, pouquíssimas vozes se ergueram para protestar ou adotar medidas objetivas em relação ao fato.
Iniciativas para mudar o atual estado das coisas merecem todo apoio, uma delas é do ex-jogador e atual técnico do Bahia, Roger Machado, que busca promover a negritude e a luta antirracista para além do esporte. Ele é o patrocinador de um projeto que lançará 50 livros de autores negros e indígenas nos próximos cinco anos. Já neste ano serão 10 livros da coleção Diálogos da Diáspora financiados pelo Projeto Canela Preta. Segundo ele‘negar e silenciar é confirmar o racismo’.
Timidamente o Comitê Olímpico do Brasil veiculou pelas redes sociais, um painel online com a temática igualdade racial no esporte, reunindo Etiene Medeiros, da natação, Aline Silva, do wrestling, Ygor Coelho, do badminton, e o ex-lutador Diogo Silva, do taekwondo. Na oportunidade debateram o racismo e outros tipos de preconceitos.
Na difícil missão de constituir uma sociedade mais igualitária, encontramos atletas que nos inspiram, mas também pessoas que pensam com Trump, inclusive lideranças políticas locais que têm a desfaçatez de afirmar que falar sobre racismo é vitimismo ou “mimimi”, raciocínio que demostra ignorância sobre a realidade cotidiana ou o desejo de manter o atual estado de injustiça social.
Ao realizarem o boicote, os atletas americanos poderiam perder os pontos da partida, o campeonato, parte do salário ou do patrocínio, mas conscientes do importante papel diante de todo sociedade, resolveram não se calarem. Ao comentar os protestos da NBA, Zora Stephenson, repórter do Milwaukee Bucks, fez um discurso emocionante que serve de reflexão para todos nós, onde questiona o que estamos disposto a perder para ver mudanças.
“Você pode falar, tweetar, protestar, doar, mas o que você está disposto a perder até ver aquela mudança realmente acontecendo?” Enquanto penso em minha resposta, repasso a pergunta para você. Diante das situações de desigualdade, desrespeito, racismo, preconceito, exploração, corrupção, abuso, enfim, todas as formas de injustiça, o que você efetivamente seria capaz de fazer ou de perder para mudar?