Por Camila Tuchlinski
Dalton Vigh sorri quando percebe que completou 25 anos de carreira em 2020. “Só me dou conta que já faz 25 anos quando as pessoas me falaram agora (risos). A sensação que eu tenho é que ainda estou começando. Para mim é tão recente! Não sei o que me faz ter essa sensação. Não sei se é porque eu gosto muito da coisa, então, talvez eu queria estar fazendo mais”, refletiu o ator, em entrevista ao Estadão, demonstrando aquela paixão de quem trabalha na carreira que ama.
Ele coleciona, até agora, 36 trabalhos em televisão, seja novela ou seriado, 12 filmes e 14 peças teatrais. Atualmente, está em duas novelas ao mesmo tempo: nas reprises de Fina Estampa, na Globo, e em O Clone, no canal Viva. “É sempre uma viagem no tempo. Algumas cenas eu lembro bem e outras me pergunto: ‘Eu gravei isso? Nem lembrava’. E é um exercício de autocrítica, teria feito algo diferente”, diz. Ele passou também por SBT, no mais recente sucesso de Poliana, Record TV e pela antiga TV Manchete. No ano passado, o ator esteve em cartaz com a peça Caros Ouvintes.
Apesar de sempre sentir paixão pela cultura e nutrir o desejo de ser ator, Dalton Vigh se formou inicialmente em publicidade. “Sempre tive esse sonho de ser ator, mas era um sonho tão relegado no ‘fundo da gaveta’ que eu mesmo nunca pensei que pudesse dar em algo. Era um segredo meu. Quando eu disse para amigos e família, foi uma surpresa pra todo mundo”, lembra.
E o momento que Dalton decidiu ingressar no teatro não poderia ser mais adverso. Ele decidiu largar um emprego para fazer estágio como publicitário, mas não deu certo e ficou sem trabalho em plena época em que o ex-presidente Fernando Collor confiscou a poupança dos brasileiros nos anos 1990. Para piorar a situação, o padrasto dele havia morrido. “Eu estava passando por uma crise financeira e emocional e decidi apostar todas as fichas nisso. Pensei: ‘Acho que a melhor coisa que posso fazer para cuidar da minha família é fazer algo que eu gosto’. Quando eu comecei a fazer escola de teatro, muitos amigos vieram me perguntar: ‘Cara, você tem certeza que vai fazer teatro? Sua família está precisando de você, precisa do seu apoio, de dinheiro’. Depois eles vieram e falaram que eu tinha razão”, conta Dalton, que avalia que teria se arrependido, se não tivesse tentado.
Ainda na escola de teatro, começaram a aparecer alguns trabalhos, como comerciais, uma peça profissional e logo depois disso foi convidado para participar da novela Tocaia Grande, o primeiro trabalho dele na antiga TV Manchete. Para dar vida a um personagem, Dalton busca referências nos mais diversos lugares e até em cenas do cotidiano. “Tudo pode servir de referência para compor um personagem. Um livro, uma música, uma pintura, mesmo não tendo nenhuma relação aparente, direta, pode te trazer uma inspiração. Já aconteceu de eu estar ensaiando duas peças ao mesmo tempo e surgir ideias. Às vezes, você está na rua e vê uma pessoa passando e pensa: ‘Essa pessoa pode andar como o personagem’. Quando fiz o papel do inquisidor, na Xica da Silva, na Manchete, o que me inspirava a fazer ele era a trilha sonora do Darth Vader, de Star Wars, porque ele usava aquela capa e, quando eu colocava o figurino, ficava pensando na música”, se diverte.
Com a experiência de 25 anos de carreira, Dalton Vigh consegue ver beleza no teatro, na TV e no cinema. “O teatro é o único trabalho com linearidade de emoções. Claro, algumas peças são contadas fora de ordem, mas você sabe onde começa e termina. No cinema e na TV, a gente faz isso, mas grava fora dessa ordem. O processo de composição do personagem é diferente. Sem contar que, em novela, a gente nunca sabe onde o personagem vai terminar, depende da aprovação do público. O teatro tem o lado de você se sentir seguro, já ensaiou bastante e tudo o mais. E a televisão tem o lado do ‘trapézio sem rede’, pode ir para um lado ou outro”, explica.