Tribuna Ribeirão
Ciência e Tecnologia

Brasileiro descobre estrela ‘vapt-vupt’

RODRIGO CASSARO/OBSERVATÓRIO NACIONAL

Uma equipe de pesquisado­res liderados por um brasileiro descobriu uma estrela do tipo anã branca que precisa de ape­nas 29,6 segundos para com­pletar um giro ao redor de si, o que a Terra demora 24 horas para fazer. Até então, o período de rotação mais curto já identi­ficado entre estrelas do tipo era de 33 segundos.

A estrela tem uma mas­sa similar a do Sol e volume equivalente ao da Terra, o que faz dela uma estrela “extrema­mente densa”. Ela tem, como vizinha, uma outra estrela, de massa ligeiramente maior, da qual captura matéria. Juntas, formam o sistema binário CT­CVJ2056-3014, movendo-se uma ao redor da outra, em for­mato e distância similares ao da Lua em relação à Terra.

Para se ter uma ideia do quão rápido é o giro dessa estre­la, basta compará-lo ao do nosso planeta, que em sua região cen­tral (linha do Equador) move­-se a uma velocidade de 1.670 quilômetros por hora (km/h). “Essa estrela gira a uma veloci­dade próxima a cinco milhões km/h”, disse à Agência Brasil, o professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e do Observa­tório Nacional (ON), Raimundo Lopes de Oliveira, líder da pes­quisa que foi publicada este mês na revista The Astrophysical Journal Letters.

Além de Lopes de Oliveira, participaram do estudo Albert Bruch, do Laboratório Na­cional de Astrofísica (LNA); Claudia Vilega Rodrigues, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); Alexandre Soares de Oliveira, da Universi­dade do Vale do Paraíba (Uni­vap); e Koji Mukai, da Nasa (a agência espacial norte-ame­ricana) e da Universidade de Maryland Baltimore County, nos Estados Unidos.

“Enquanto a Terra dá um giro completo em 24 horas, que é o que chamamos de dia, essa estrela dá quase três mil giros”, explica o físico da UFS e do ON. Segundo ele, poucas estrelas do tipo anã branca já identificadas têm um período de rotação inferior a 100 se­gundos. “Geralmente a rotação dura de minutos a horas quan­do em sistemas binários. No caso de estrelas isoladas, costu­ma levar dias para completar a volta ao redor do próprio eixo”, acrescenta.

Além do giro em alta ve­locidade, a estrela anã branca possui outras peculiaridades. Seu campo magnético é mais baixo do que estrelas em siste­mas similares, ainda que seja um milhão de vezes maior do que o campo magnético da Terra. É também interessante o fato de ter luminosidade em raio-x mais baixa do que o nor­mal para esse tipo de sistema.

“Essa descoberta nos permite estudar a Física em seu extremo porque esse sistema nos possibi­lita ter um laboratório de estudo sob condições que não temos aqui em nosso planeta”, explica Lopes de Oliveira referindo-se às pesquisas que virão a partir do estudo sobre a interação de matéria com campo magnético em grande velocidade.

Segundo ele, tais estudos po­derão avançar os conhecimentos humanos em áreas básicas como interação de partículas com car­ga e campos magnéticos, além de processos que envolvem fu­são nuclear. “Poderemos ver como a matéria reage em deter­minadas situações, e o que é pro­duzido a partir de determinadas circunstâncias”, explica o físico. “Além disso, ao estudar uma estrela anã branca, estamos es­tudando o futuro do nosso Sol. Estudando o fim, podemos en­tender melhor a evolução como um todo”, complementa.

Apesar de estar localizada a apenas 850 anos luz de nosso sistema solar – distância con­siderada pequena nas escalas astronômicas – nenhum teles­cópio atual consegue ver as duas estrelas deste sistema separadas, apenas o brilho combinado de ambas. A descoberta só foi pos­sível por meio de observações em raio-x, feitas com a ajuda do telescópio espacial XMM-New­ton, da Agência Espacial Euro­peia (ESA), complementado por observações feitas a partir do te­lescópio Zeiss do Observatório do Pico dos Dias (OPD), locali­zado em Minas Gerais e geren­ciado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica.

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