Marcelo Junior Torres Alves, mais conhecido como PP do Corte, é barbeiro há oito anos. Proprietário de uma barbearia no bairro Ipiranga, zona Norte da cidade, ele está habituado a realizar cortes digamos, ousados, em sua clientela. Os mais comuns entre os adolescentes e jovens, principalmente os da periferia de todo país, são os de estilo fade ou freestyle.
O fade é o corte masculino em degrade e nos últimos anos ganhou popularidade no Brasil, sendo um dos mais procurados nos salões e barbearias. Com inspiração no cabelo usado pelos militares americanos nas décadas de 40 e 50, esse tipo de corte apresenta os fios das laterais raspados gradualmente por navalha. Já o freestyle é com desenhos, também feito a navalha.
Conhecidos graças às redes sociais, há dois meses, PP e o amigo, também barbeiro, Yuri Ceryno Ferreira decidiram que estava na hora de realizar em Ribeirão Preto um campeonato de corte de cabelos como os realizados em várias cidades brasileiras, principalmente nas comunidades do Rio de Janeiro.
Para isso reuniu amigos e profissionais em um grupo de Facebook denominado “Batalha de Cortes 016”. O Instagram também foi utilizado para viabilizar a ideia.
A disputa reuniu dezesseis barbeiros e foi dividida em fases eliminatórias semelhantes à de um campeonato de futebol. Os dezesseis concorrentes foram sorteados e divididos em oito duplas que disputaram os votos dos participantes do grupo pelo Facebook ou pelo Instragram.
Os vencedores passavam de fase e disputavam com outro barbeiro classificado em outra chave. O processo classificou dois barbeiros para a final. No total, 2.100 pessoas participaram como jurados do campeonato que teve como vencedor Marcos Vinicius Turati, de 19 anos.
O vencedor
Atuando há três anos com barbeiro Turati, que também cursa Educação Física em uma faculdade da cidade, venceu com um corte estilo fade. Durante a disputa e ao avançar de fase o candidato podia trocar o corte com o qual havia vencido a etapa. Marcos participou, ao longo da competição, com três cortes.
Profissionalização
Criado de forma artesanal e com poucos recursos, o Campeonato de Barbeiros está se profissionalizando e pretende ser realizado várias vezes ao ano. Além do mundo virtual, quer ainda passar a ser feito de forma presencial. A primeira disputa não foi presencial por causa da pandemia do coronavírus.
Com a adesão de profissionais de outros setores o projeto promete crescer. O grupo já está viabilizando apoios institucionais e comerciais para a segunda edição prevista para este mês e que deverá ser novamente online, por conta da pandemia. Entre eles, o apoio logístico da Secretaria Municipal Turismo de Ribeirão Preto para ampliar o evento. Eles também estão criando um site e pretendem incluir o evento no calendário de Eventos Oficiais da cidade.
Na próxima edição também haverá a inclusão da categoria “barbeiro feminino” e os participantes – no ato da inscrição – poderão doar alimentos que serão repassados para o Fundo Social de Solidariedade de Ribeirão Preto.
Para PP além de valorizar os barbeiros, uma categoria profissional que tem se renovado e ganhado novos espaços, o campeonato também serve para dar visibilidade para muitos profissionais da periferia, que diariamente usam a cabeça de seus clientes, com a permissão deles, para fazer arte.
Cabelo é considerado sinônimo de força
Ao longo da história uma das tradições do homem é ir ao barbeiro. Apesar do ar de antiguidade que o termo barbeiro carrega, existe algo que tem evoluído: a forma como estes profissionais estão transformando seus salões.
No Brasil eles ganharam modernidade, muito ligado à cultura norte-americana no setor. Atualmente grande parte dos salões alia o tradicional “barba, cabelo e bigode” das barbearias com cerveja, rock’n’roll e modelos clássicos de motos.
Os salões de barbeiro surgiram na Grécia antiga. Neles, os gregos, mais do que apenas cortar o cabelo e cuidar das longas barbas conversavam sobre política e os fatos do cotidiano da sociedade grega.
Vale lembrar que na antiguidade a imagem de cabelos longos ou barbas volumosas era relacionada a figuras de destaque na sociedade. Os nobres ostentavam cabelos longos, com faixas e correntes. Para transmitir a imagem de uma sociedade gladiadora e de guerreiros. Os primeiros cortes de barbas e bigodes eram feitos com a ponta de uma lança.
Um exemplo de que os cabelos e barbas longas eram sinônimos de força e coragem era uma das práticas dos espartanos, que raspavam a barba dos guerreiros considerados covardes.
Algumas culturas antigas consideravam o ato de pegar nos cabelos ou na barba de alguém um atentado à honra, passível de sérias punições. Com isso, o barbeiro se tornou uma figura de confiança, pois era responsável por manter a saúde física de todos os homens.
No Egito antigo, por exemplo, madeixas longas eram exclusividade dos homens de posição social superior. Quando não tinham cabeleiras, faraós e guerreiros simulavam o visual com mantos ou perucas, o que ajudava a distingui-los dos sacerdotes, que usavam corpo e cabeça raspados.