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BISPO DO POVO, dom Pedro Casaldáliga morre em Batatais

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Um dos mais importantes nomes da Teologia da Liber­tação no Brasil e reconhecido pelo grande trabalho social, o bispo dom Pedro Casaldáliga, 92 anos, faleceu na manhã deste sábado (08), em Batatais. Ele ha­via dado entrada na quarta-feira na UTI – Unidade de Terapia Intensiva da Santa Casa de Ba­tatais. No início foi levantada a hipótese dele ter contraído co­vid-19, mas os testes descarta­ram a doença. A idade avança­da preocupava os médicos. Até sexta-feira, dom Pedro reagia ao tratamento, mas não resistiu.

O bispo emérito da Prela­zia de São Félix do Araguaia começou a passar mal no final de semana e foi transferido do Mato Grosso para Batatais. Na quarta-feira, na Santa Casa de Batatais, o religioso passou por uma drenagem no pulmão de­vido a um derrame. Foram re­tirados 600 mililitros de líquido do pulmão esquerdo.

Segundo o médico Antônio Marcos, que acompanhou a si­tuação clínica do bispo, no início foi observada uma estabilidade, não ocorrendo piora no qua­dro respiratório. Marcos, ainda assim, considerava o estado do bispo grave por ter havido “re­percussão no sistema respirató­rio e necessitar de altas frações de oxigênio por meio de máscara”.

Dom Pedro recebeu trata­mento com medicação e fisio­terapia ostensiva, no início não houve a necessidade de ser entu­bado. “É um paciente frágil, uma doença pulmonar grave”.

Marcos ressaltou que o co­ração do religioso estava bom. “Uma boa função cardíaca, mas com sofrimento por conta do quadro respiratório, os dois (coração e pulmão) trabalham em conjunto, quando um sofre o outro acaba sendo incomo­dado”, explicou. Mas às 9h40 deste sábado, ele não resistiu.

Batatais foi escolhida pelo fato da Ordem dos Claretianos manter uma estrutura clínica de alto padrão. Os Claretianos mantêm também uma estrutura educacional na cidade.

Velório
O velório de dom Pedro está programado para diferentes locais. No sábado, em Batatais, houve uma missa na capela do Claretiano – Centro Universi­tário de Batatais. Neste domin­go (9) haverá uma missa, às 15 horas no mesmo local. A cele­bração será transmitida ao vivo (https://youtu.be/spto8rbKye0).

Em Ribeirão Cascalheira (MT), o velório será no Santuá­rio dos Mártires, a partir do dia 10 de agosto, sem previsão de horário de chegada do corpo. E em São Félix do Araguaia (MT) o corpo de dom Pedro Casaldá­liga, CMF, será velado no Centro Comunitário Tia Irene. O sepul­tamento será em São Félix do Araguaia, sem previsão de dia.

O ‘Bispo do Povo’
Filho de camponeses, dom Pedro Casaldáliga é reconhecido no Brasil pelo grande trabalho social. O apelido de “bispo do povo” veio da sua luta contra a violência no campo e pela luta pelos direitos e defesa da população indígena.

Nascido em Balsareny, na pro­víncia de Barcelona, na Espanha em 1928, recebeu o nome de Pere Casaldàliga i Pla. Ingressou na Con­gregação Claretiana (Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria) em 1943, sendo ordenado sacerdote em Montjuïc, Bar­celona, no dia 31 de maio de 1952. Depois de ordenado, foi professor de um colégio claretiano em Barbastro, assessor dos Cursilhos de Cristanda­de e diretor da Revista Iris.

Em 1968, mudou-se para o Brasil para fundar uma missão Claretiana no estado do Mato Grosso, uma região com um alto grau de analfabetismo, marginalização social e concentra­ção fundiária (latifúndios), onde eram comuns os assassinatos.

Foi nomeado administrador apostó­lico da Prelazia de São Félix do Ara­guaia (Mato Grosso) no dia 27 de abril de 1970. O Papa Paulo VI o nomeou bispo prelado de São Félix do Araguaia, no dia 27 de agosto de 1971.

Uma característica marcante de sua atuação como bispo foi o fato de preferir não utilizar os tradicionais tra­jes eclesiásticos, em vez da mitra, um chapéu de palha, no lugar do báculo um cajado indígena, em vez de um anel de ouro, utilizava um anel de tucum.

Na década de 1970, ajudou a fundar o Conselho Indigenista Missio­nário (Cimi). Adepto da Teologia da Libertação, adotou como lema para sua atividade pastoral: “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar”.

Ameaças de morte
Dom Pedro já foi alvo de inúmeras ameaças de morte. A mais grave, em 12 de outubro de 1976, ocorreu em Ribeirão Cascalheira (Mato Grosso). Ao ser informado que duas mulheres es­tavam sendo torturadas na delegacia local, dirigiu-se até lá acompanhado do padre jesuíta João Bosco Penido Burnier. Após forte discussão com os policiais, o padre Burnier ameaçou denunciá-los às autoridades, sendo então agredido e, em seguida, alvejado com um tiro na nuca.

Após a missa de sétimo dia, a população seguiu em procissão até a porta da delegacia, libertando os presos e destruindo o prédio. Naquele lugar foi erguida uma igreja.

Por cinco vezes, durante a dita­dura militar, foi alvo de processos de expulsão do Brasil, tendo saído em sua defesa o arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns.

Em 1994 apoiou a revolta de Chiapas, no México, afirmando que quando o povo pega em armas deve ser respeitado e compreendido.

Em 1999 publicou a “Declaração de Amor à Revolução Total de Cuba”. No ano 2000, foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Campinas. Em 13 de setembro de 2012, recebeu honraria idêntica da Pontifícia Uni­versidade Católica de Goiás.

Seu amor à liberdade inspirou sua luta contra a centralização do governo da Igreja, pois considera que a visão de Roma é apenas uma entre as várias possíveis, e que a Igreja deveria ser uma comunhão de igrejas. Acha que se deve falar da Igreja que está em São Félix do Araguaia, assim como se fala da Igreja que está em Roma, pois unidade não tem que ser sinônimo de centralização e sim de descentralização.

Dom Pedro, que sofre do mal de Parkinson, apresentou sua renúncia à Prelazia em 2005. No dia 2 de fevereiro de 2005 o Papa João Paulo II aceitou sua renúncia ao governo pastoral de São Félix. Mesmo depois da renúncia, não perdeu a combatividade e a fran­queza. (Saiba mais em www.casaldali­ga-causas.org/pt-br/)

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