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Arte e mistério na pandemia

Felipe Ricotta em Ribeirão - Foto: Alfredo Risk

Artista solitário e mascarado chama a atenção em performances em avenidas de cidades pelo país

Por Maybí Ohana/Especial para o Tribuna – Fotos: Alfredo Risk

Em uma performance única e inusitada e que vem despertando a curiosidade das pessoas por onde passa, o artista Felipe Ricotta, criou o que ele mesmo está chamando de “Turnê Verde 2020”. Único artista em turnê durante a pandemia – ele já passou por oito cidades -, Ricotta chegou esta semana em Ribeirão Preto. Com máscara – principal característica de sua personagem desde os tempos da TV, ele chama a atenção nas movimentadas avenidas da cidade, com uma atuação solitária, mas cheia de significados.

A escolha por locais incomuns e sempre rodeados de áreas verdes é uma característica das suas apresentações. Outra curiosidade são as obras visuais abstratas coladas e deixadas em pontos da cidade (que são vendidas e estão disponíveis em versões menores). O artista também, está produzindo um diário com os relatos das pessoas e curiosidades das situações inusitadas que já aconteceram, por onde passou.

Felipe Ricotta ficou conhecido inicialmente por sua participação na MTV, mas seu trabalho possui uma essência que vai além desse passado na televisão. Um exemplo é o projeto “70 canções 70 cidades” desenvolvido desde 2014, onde são produzidas e registradas, novas canções dentro de hotéis. Em Ribeirão, o Hotel Araucária Plaza foi o escolhido para sua missão artística.

Nos últimos anos pós MTV, Felipe viajou pela América Latina (Argentina, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia), fazendo, como ele mesmo diz, a última turnê ‘normal’, tocando em lugares ‘comuns’.

Conversamos com Felipe Ricotta e, claro, o enchemos de perguntas:

Tribuna Ribeirão – Como é ser o único artista nessa quarentena em turnê no Brasil? Como surgiu essa ideia?

Felipe Ricotta – Na verdade, essa maneira de fazer turnê com shows em lugares absurdos começou em 2017 com a ‘QualquerLugarDaRuaTour’, que passou por 31 cidades do país. Fui percebendo que estava conseguindo dar mais visibilidade pro meu trabalho dessa maneira, do que pelo esquema tradicional. Sacrifiquei a experiência do show ao vivo real, mas consigo fazer com que o público me consuma mais em suas casas. Foram dois anos direto em turnê. Em 2019 parei no Rio e me desafiei a compor 100 canções em um ano. Pretendia começar a gravar essas 100 canções em 2020, mas veio a pandemia e achei que seria importante voltar a esse conceito da Turnê Verde.

Tribuna – Qual sua intenção com suas performances? E porque você usa a máscara?

Ricotta – Arte nesse momento é serviço essencial. Tá todo mundo tão triste e deprimido dentro dos seus carros, nos ônibus, os pedestres… Aí vejo que a pessoa está ali, de cara emburrada. De repente do nada, ela vê um mascarado dançando e tocando violão, fazendo show num lugar inacreditável e abre um sorriso, sabe? Às vezes basta pra salvar o dia de alguém. Essa virou a intenção maior do projeto nesse momento de ‘luto’ coletivo. Não é mais só chamar atenção pra música, literatura e pra arte visual abstrata que crio. E claro, o fato de me apresentar sempre próximo de áreas verdes da cidade é um gatilho pra estimular o debate ecológico. Precisamos conscientizar as pessoas de que o surgimento do vírus é uma resposta de um planeta maltratado e sobrecarregado pra nós e que devemos repensar nossa relação com a natureza. Esquecemos de que o planeta é uma entidade viva. Ele criou o vírus. Não é culpa da China; a culpa é de nós mesmos.

Tribuna – Qual o futuro desse projeto pós pandemia? Você vai continuar com a turnê?

Ricotta – Não. Nunca mais vou fazer turnês desse tipo quando isso tudo passar. Quero voltar a fazer shows normais outra vez.

Tribuna – Qual foi a situação mais inusitada que você passou até agora desde que saiu em turnê?

Ricotta – Todo dia sempre acontece muita coisa inusitada. Aqui em Ribeirão, ligaram pra polícia, porque acharam que eu estava querendo me jogar do viaduto Jandyra De Camargo. E eu só estava ali fazendo uma performance para quem passava de carros lá embaixo, na Francisco Junqueira. Isso aconteceu em Taubaté também.

Tribuna – E quais são as perspectivas para o futuro, já que você não vai continuar com a Turnê Verde 2020?

Ricotta – Quero voltar com um projeto que gostei muito chamado “Me Abre Ela Diss”, que eu parei em 2010 e estipulei dez anos pra voltar. Guardei esse projeto propositadamente por 10 anos pois é bem ousado. É uma série de ficção, com a trilha sonora toda pronta. São seis discos de música eletrônica e também documentário que filmamos no Rio na época. Agora eu vou começar a gravar essas 100 canções que escrevi ano passado… Mas sempre pinta algo novo, então nunca sei exatamente se mantenho o tenho planejado ou pego a ideia nova que passa na minha frente!

Felipe Ricotta, o artista mascarado - Foto: Alfredo Risk

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