Fabiano Ribeiro
Sentada em casa com um órtese velha e quebrada, semblante triste e sem perspectivas para o futuro. Assim era a vida da jovem Erika Cristina dos Santos, de 18 anos, moradora em uma pequena casa na zona rural de Batatais (SP). Tudo mudou quando a professora Fabiana Souza passava pelo local e ficou curiosa. Incomodada com o que viu, a professora tentou ajudar. Hoje, Érica é outra pessoa. O rosto exibe sorrisos e a cabeça planos para o futuro.
Quando nossa reportagem foi procurada, era pra contar uma história e pedir ajuda e colaboração de outras pessoas. Não foi necessário. Uma corrente do bem foi formada e os problemas resolvidos aos poucos, mas a matéria se tornou necessária para relatar como vidas podem ser transformadas por meio de boas ações.
A professora Fabiana Souza conta que conheceu Erika quando fazia uma caminhada por uma estrada marginal em Batatais (rodovia Ariovaldo Mariano Gera que liga o perímetro urbano ao Horto Florestal e propriedades rurais). “Eu passava com frequência e via uma casinha simples, pequena e um monte de recicláveis no quintal. Tinha uma placa escrita ‘aceito doação de reciclável’. Isso começou a me incomodar, a mexer comigo. Fui lá conversar e entregar alguns recicláveis e uma cesta básica. Uma moça com duas crianças pequenas me atendeu”, conta.
A moça citada pela professora era Erika e as crianças seus irmãos menores, de 5 e 8 anos. “A casa fica uns 30 metros do portão. Vi aquela mocinha de cabeça baixa, retraída e uma prótese sem condições, quebrada e costurada a mão. Ela demorou uns 15 minutos para andar os 30 metros”. Fabiana lembra que foi embora “fragilizada”. “Cheguei em casa perturbada”.
Dois dias depois fez “um limpa” no guarda roupas, conversou com parentes e levou vestuários para a menina. Mas dessa vez quem atendeu foi a mãe, Keila dos Santos. Ela contou que Erika nascera com deficiência e que a prótese era bem antiga, quebrada, inapropriada, que provocava feridas nas pernas da filha, mas que não tinha condições financeiras para trocá-la.
“Fui embora quase morrendo. Fiquei emocionada. E na minha cabeça ficou martelando que precisava ajudar. Não podia me omitir”, lembra Fabiana. A professora pediu ajuda a uma pessoa próxima ligada a uma entidade (a pessoa e a entidade pediram para não serem identificadas) que conseguiu prontamente a troca da órtese.
Missão cumprida? Não. Algo mais poderia ser feito. Fabiana procurou a direção da universidade onde trabalha, a Unip. “Conversei com o mantenedor, o Miguel Dib Antônio. Contei a história toda. Ele prontamente ofereceu uma bolsa de estudos”.
Feliz com a bolsa, a professora se deparou com outro problema: mesmo com a prótese nova, Erika não teria condições de se locomover e nem de estudar as aulas online, pois não possuía computador.
Fabiana foi às emissoras de rádio e TV da cidade e disse que iria iniciar uma ação para a aquisição de uma bicicleta motoriza e um notebook. A professora também procurou a Abadef, Associação Batataense dos Deficientes Físicos, que desde 1989, realiza atendimentos nos setores de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, equoterapia, psicologia, aulas de informática, artesanato, Serviço Social, Programa de Inclusão ao Trabalho (PIT) entre outros. Atualmente são quase 36 mil atendimentos ao ano.
Na entidade foi atendida pela assistente social, Camila Paula Dí Lello Segato, de quem era amiga. Conseguiu sessões de fisioterapia para adequação à nova órtese e mais tarde recebeu a informação que a associação iria doar um triciclo para a locomoção da menina.
Ficou faltando o notebook, mas quatro horas após as entrevistas e de enviar mensagens em grupos de amigos do whatsapp, recebeu a informação de uma doação do aparelho, de uma pessoa que ficara sensibilizada com a notícia. “Fui contar pra Erika as boas notícias. Ela chorou emocionada, eu também não me segurei”.
Há cerca de dez dias Erika recebeu a órtese nova e já começou a andar. A Abadef conseguiu um trabalho para ela. “Não acreditava que teria essa mudança na minha vida, porque por mais que eu lutasse, eu não teria condições, sem apoio”, conta Erika, cuja família sobrevive das pequenas plantações e da renda de um salário mínimo oriundo do trabalho com recicláveis.
Apesar das dificuldades, Fabiana ressalta o exemplo da mãe. “Você vê as condições da família e a mãe dizendo que os filhos teriam e têm que estudar. Ela fez a Erika completar o ensino médio, mesmo a menina sofrendo discriminação e preconceito no ambiente escolar. E garantiu que os outros dois terão que estudar. É perseverança da mãe”.
“Se todo mundo fizesse um pouquinho… Às vezes somos omissos, enxergamos os problemas e não nos envolvemos minimamente. No final vi que foi tão fácil. Tomara que essa história inspire outras pessoas a ajudarem e a outras pessoas que passam pela situação da Erika a não desistirem e que elas possam sonhar com perspectivas melhores”, finaliza Fabiana.