No comando da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp) pela segunda vez, o empresário Dorival Luiz Balbino de Souza tem posições contundentes em relação à condução da poder público na crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, na cidade. Para ele, o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) é mal assessorado e isso teria contribuído para o fechamento das portas da prefeitura aos empresários.
O presidente da mais importante entidade de classe empresarial de Ribeirão Preto, também afirma que a pandemia esta sendo usada como palanque antecipado para as eleições de governadores e presidente da República em 2022 em detrimento a saúde da população.
Entre os que estariam fazendo esse uso político ele cita o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a quem ele também atribui acertos. Dorival Balbino comandará a Acirp até 2023. A entidade tem mais de 5,3 mil associados.
Tribuna Ribeirão – O senhor tem feito duras críticas à postura do prefeito Duarte Nogueira em relação à condução da pandemia na cidade. No que ele errou?
Dorival Balbino – O que já falamos mais de uma vez é que o comércio de Ribeirão Preto sofre até hoje as consequências de uma decisão unilateral e prematura do poder público, que proibiu diversas atividades na cidade quando contabilizávamos apenas cinco casos de covid-19. Hoje, com mais de 13 mil casos, é consenso que precisamos começar a reabrir. Claro que essa reabertura deve ser cuidadosa e seguindo todos os protocolos epidemiológicos, mas certamente vamos reabrir com muito mais casos ativos da doença do que tínhamos quando fechamos. Estamos em uma situação pior hoje, mas estamos fechados e isso prova que as restrições não deveriam ter sido feitas da forma que foram.
Existe o argumento de que era preciso tempo para conseguir preparar o sistema de saúde. Porém, o que vimos foi uma inação do poder público, que teve, desde o início de março, tempo para preparar uma estrutura de saúde adequada. No entanto, só agora, quase cinco meses depois, está oferecendo este suporte à população. Veja que não é apenas uma falha do município, pois a estrutura de saúde é regionalizada e coordenada pelo governo estadual. As verbas, que demoraram vários meses para chegar, são responsabilidade do Sistema Único de Saúde e do Governo Federal. Mas, na ponta, estão nossos representantes políticos locais, que precisam defender os interesses de nossa cidade e, no caso do prefeito, executar e realizar as medidas necessárias.
Ao longo destes meses vimos que faltou, por parte de todas as esferas de governo, uma comunicação clara sobre como conviver com a pandemia e não fugir dela. E a politização da pandemia apenas piorou a situação. Aqui no município e no Estado de São Paulo as regras de horários restritos, redução de frota e horários de ônibus conseguiram prejudicar ao mesmo tempo o combate à doença e a economia da cidade. Finalmente, podemos apontar ainda a falta de adoção de protocolos de tratamento preventivo.
Tribuna Ribeirão – Em sua opinião o prefeito precisa ser responsabilizado criminalmente pelo aumento de casos da doença e das mortes na cidade?
Dorival Balbino – Assumir uma função pública, em especial um cargo eletivo, traz consigo uma série de responsabilidades. E quem se dispõe a representar e liderar a população precisa ter isso bem claro, seja ele um representante do Executivo ou do Legislativo, nas esferas federal, estadual e municipal.
Digo que é em especial para os cargos eletivos, mas não podemos esquecer que outras funções públicas de relevância como as do Judiciário e do Ministério Público também carregam muita responsabilidade. Até por isso, existe uma legislação específica, criminal inclusive, para os agentes públicos. Cabe à sociedade cobrar que eles trabalhem. A Acirp como representante dos empresários, tem obrigação de pressionar neste sentido.
Tribuna Ribeirão – O senhor e o prefeito eram considerados muitos próximos, amigos mesmo. A pandemia mudou isso?
Dorival Balbino – Não tenho nada contra a pessoa do prefeito. Acredito nas boas intenções que ele tem para com a população e nossa cidade e acredito também em sua integridade, mas percebo que não está sendo devidamente assessorado.
Ao longo destes meses, a prefeitura deixou de ouvir os empresários para tomar as medidas impostas pelo governo estadual que têm um claro interesse eleitoral. Sentimos que houve uma ruptura por parte da prefeitura com os autênticos representantes da sociedade civil.
Tribuna Ribeirão – O prefeito e o senhor têm conversado sobre essas diferenças de postura na condução da pandemia?
Dorival Balbino – A prefeitura, infelizmente, fechou suas portas para os empresários. Não existe um caminho de mão dupla. A Acirp está absolutamente aberta para o diálogo com o Executivo, como historicamente esteve. Sempre fomos parceiros do poder público para propor soluções que sejam boas para nossa cidade, pois é aqui que vivemos com nossas famílias e entendemos que uma cidade melhor, gera ambientes de negócios melhores, com mais riqueza, emprego e renda para toda a população.
Tribuna Ribeirão – Em relação a ações de apoio ao setor produtivo qual foi o principal erro do prefeito?
Dorival Balbino – Vou te dar um exemplo. A proibição da retirada de produtos, o chamado Takeout, nos pequenos comércios foi responsável pela falência de centenas de empresas e pela demissão de milhares de pessoas. Enquanto os grandes hipermercados e supermercados puderam trabalhar, e o setor até ampliou o faturamento no período, uma pequena loja de tecido não pôde nem atender as pessoas na calçada. Uma papelaria não pode atender para retirada. Já falamos sobre outros problemas como restrição de horários e a questão do transporte público. Mais uma vez, não quero acreditar que seja má vontade do prefeito, mas uma questão de falta de assessoramento.
Tribuna – Se o senhor fosse prefeito o que faria para fazer a cidade avançar no Plano São Paulo?
Dorival Balbino – A cidade está parada na fase vermelha desde o dia 3 de julho por falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e assim ficaremos pelo menos até 10 de agosto. E antes disso, em 26 de junho, já estávamos chegando no limite de 80% de ocupação de leitos de UTI Covid, o que nos tem deixado na pior fase deste Plano. Está claro que a falta de leitos é um problema.
Esta semana o prefeito divulgou pelo menos mais 43 novos leitos no sistema público e privado. Se esses leitos se concretizarem, subiremos de 212 para 255 leitos. Se esses leitos estivessem operando 10 dias antes, com os 186 pacientes internados que tínhamos, já não estaríamos mais na fase vermelha. Mais uma vez, destaco que entendemos que essa estrutura de saúde depende de uma articulação entre os poderes, com verba federal e a gestão estadual e municipal. Mas a verba federal, embora tenha demorado, chegou. E os leitos, por que não vieram antes?
Tribuna Ribeirão – Para parte da população o coronavírus está sendo usado politicamente. O senhor concorda com essa afirmação?
Dorival Balbino – Sim, sem dúvida. Os agentes políticos têm utilizado a pandemia como instrumento político, antecipando a disputa eleitoral de 2022. E aí entendo que, além de uma grande crueldade com a população de modo geral, há um erro até de estratégia. Os políticos não deveriam usar a pandemia como instrumento político, mas usar as melhores práticas, as melhores estratégias contra a pandemia como um atestado de sua competência política e administrativa.
Tribuna Ribeirão – Está havendo uma demonização do comércio?
Dorival Balbino – Eu entendo que o comércio deve ser visto como o parceiro da cidade que sempre fomos. Os comerciantes têm todo o interesse em viabilizar ao mesmo tempo os instrumentos de prevenção à saúde e preservar empregos e empresas. É um falso dilema colocar o funcionamento do comércio, de forma segura e responsável, sendo oposto à preservação da vida. Não existe comida na mesa das pessoas se não houver trabalho e renda.
Tribuna Ribeirão – Em relação ao uso da hidroxicloroquina o senhor é favorável ao seu uso?
Dorival Balbino – Não existe um remédio que comprovadamente cure a covid-19. Essa é uma verdade. Mas também não há consenso se alguns protocolos médicos de fato não curam ou previnem a doença. Até por ela ser muito nova, seu tratamento é tema de milhares de estudos em andamento. Existem estudos que apontam benefícios de remédios como o realizado no The Henry Ford Health System, em Michigan, nos Estados Unidos, e o realizado em Nova York, no Hospital Mount Sinai, com quase 6.500 pacientes. Até por isso, os sistemas público e privado têm utilizado protocolos em cidades como Belém do Pará e muitos gestores públicos de todo o mundo têm disponibilizado os medicamentos.
Tribuna Ribeirão – Que avaliação o senhor faz do governador João Dória em relação à condução desta crise sanitária?
Dorival Balbino – Me parece que o governador é um dos políticos que mais tem utilizado a covid-19 como palanque e isso naturalmente gera conflitos com outros interessados na disputa eleitoral. Há acertos, pois o estado de São Paulo possui uma sólida estrutura de saúde pública e privada, mas a antecipação da disputa eleitoral de 2022 tem sido claramente prejudicial ao combate da pandemia.
Tribuna Ribeirão – Nacionalmente fala-se agora em um pacto político pelo emprego no pós-pandemia. Como isso seria viável?
Dorival Balbino – As medidas do governo federal pela preservação dos empregos, como redução de jornada e a flexibilização de férias e suspensão de contratos de trabalho conseguiram conter um grande volume de demissões. Mas certamente será necessária uma articulação entre o poder público e os setores produtivos para acelerar a recuperação da economia.
Isso passa pelo acesso ao crédito ao pequeno empreendedor, incentivo à produção, desoneração da folha de pagamentos e por uma reforma tributária eficiente que reduza o peso da carga tributária. Não será, por exemplo, recriando a CPMF que isso vai acontecer.
Tribuna Ribeirão – Essas posições divergentes e criticas podem inviabilizar as parcerias a programas que a Acirp e a prefeitura realizam em conjunto?
Dorival Balbino – De forma alguma. Somos parceiros de Ribeirão Preto e temos interesse em fazer uma cidade melhor. E essa é, sem dúvida, a intenção da prefeitura. Como disse, estamos de portas abertas para dialogar e fortalecer a parceria de mão dupla com o poder público.
Tribuna Ribeirão – Especula-se nos meios políticos que o senhor está criticando o prefeito porque já teria fechado apoio nas eleições municipais a outro candidato. Isso é verdade?
Dorival Balbino – A Acirp nunca apoiou candidato e isso é muito claro para toda nossa diretoria. Pessoalmente, todos podem ter suas preferências políticas e ideológicas, mas não existe possibilidade de qualquer apoio eleitoral.