Pesquisa realizada pela Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp) junto a seus associados revela que 51,3% das empresas demitiram ao menos um funcionário durante o período da quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus, com várias restrições ao atendimento presencial. Dentre as que ainda não encerraram as atividades, 11% afirmaram que devem fechar definitivamente nos próximos dias.
A pesquisa ouviu 154 empresários entre os dias 20 e 27 de julho. Além do alto nível de demissões, a pesquisa aponta outras medidas já tomadas ou em vias de serem tomadas pelas empresas, e que ilustram o impacto das medidas de restrição à economia sobre os negócios e sobre a economia em geral. Entre os entrevistados, 48,7% já recorreram à concessão de férias e 46,1%, utilizaram redução da jornada e salário proporcional.
Segundo o presidente da entidade, Dorival Balbino, esse é o resultado da má gestão da crise e do combate à covid-19 em Ribeirão Preto. “Matou-se mais empresas e empregos do que pessoas por conta das falhas de gestão desde que tínhamos cinco casos em Ribeirão Preto. Mais vidas, empregos e empresas poderiam ser preservadas se houvesse equilíbrio e coragem nas ações do Executivo, mas o que vimos foi o contrário, uma tentativa de jogar a culpa do crescimento dos casos no comércio”, afirma Balbino.
Na pesquisa anterior realizada pela Acirp, nos dias 15 e 16 de maio, os dados apontaram que 39,5% das empresas já haviam demitido, 48,4% haviam concedido férias e 35,9% haviam reduzido jornadas e salários. Ou seja, entre meados de maio e o final de julho, houve um aumento de 10 pontos percentuais no índice de demissões.
Caged
Já de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia, o mercado de trabalho se estabilizou em junho. Em Ribeirão Preto, foram 5.420 demissões e 5.175 admissões, indicando um saldo negativo de 245 vagas, valor inferior aos meses anteriores.
De acordo com Gabriel Couto, economista da Acirp, os dados do Caged mostram uma desaceleração no ritmo de perda de empregos em Ribeirão Preto, que mesmo negativo, fica longe da queda observadas em março, abril e maio. “Caso haja evolução mais positiva da situação, o mais provável é que haja estabilização do mercado de trabalho ao longo dos próximos meses, com um processo de retomada mais consistente ainda condicionado a uma solução mais definitiva da pandemia, como o desenvolvimento e implementação de uma vacina, por exemplo”, comenta.
Fechamento de empresas
Um cenário preocupante apontado pela pesquisa realizada pela Acirp é sobre a expectativa de fechamento de mais empresas na cidade. Mais de 11% dos empresários informaram que encerrarão suas atividades ou já estão encerrando nos próximos dias. Sobre o fôlego das empresas para enfrentar a crise, caso o faturamento atual perdure, 15,6% delas responderam que aguentam mais 30 dias abertas, 21,4% de 31 até 60 dias, 13,6% de 61 até 90 dias e 16,2% de 91 até 180 dias, enquanto apenas 22,1% delas declararam que o faturamento atual lhes permite manter indefinidamente a atividade.
“Esses números apontam que na hipótese de não haver alguma retomada que dê fôlego as empresas ou medidas de apoio, ao final de seis meses 66,8% das empresas fecharão suas portas ou estarão em uma situação de difícil recuperação. Esta situação se mostra ainda mais grave na medida em que estamos analisando justamente as empresas que tiveram condições de sobreviver durante quatro meses de quarentena”, completa Couto.
A pesquisa foi realizada pelo Núcleo de Inteligência da Acirp. Cabe destacar que a base ativa de relacionamento da associação se constitui majoritariamente de empresas mais maduras com ao menos cinco anos de funcionamento e dois ou mais empregados, ou seja, o segmento de microempreendedor individual (MEI) não está significativamente representado na amostra.
Nesta terça-feira, 28 de julho, a Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia divulgou os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). De acordo com a pasta, a pandemia do novo coronavírus obrigou a economia de Ribeirão Preto a encerrar mais 245 vagas de emprego com carteira assinada em junho. Foram 5.175 admissões e 5.420 demissões no mês passado.
Ainda segundo o Caged, no primeiro semestre deste ano, o déficit recorde de empregos formais na cidade é de 8.124 vagas, fruto de 39.645 contratações e 47.769 rescisões. É o pior resultado semestral em 24 anos, desde o início da série do Caged. Na comparação entre os quatro meses da pandemia – de março a junho – com o mesmo período do ano passado, a cidade perdeu 10.307 empregos. O saldo do quadrimestre de 2019 foi de 416 novas carteiras assinadas, contra o déficit de 9.891 da quarentena, uma retração de 2.477%, com um rombo quase 25 vezes superior em 2020.