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Terras altas, o vinho de Ribeirão

O homem é do tamanho de seus sonhos, nos ensina a sabedo­ria milenar. Pois bem: dois bons amigos, José Renato Magdalena e Fernando Pagliuchi de Lima Horta, meu colega de Otoniel Mota, visionários no bom sentido da palavra, ousaram desafiar a terra e o clima de nossa cidade e plantaram ali pelos lados de Bonfim Paulis­ta, mudas de uva Syrah, com o objetivo de produzirem vinho. Estava criada a Vinícola Terras Altas. O que a princípio parecia temerida­de já produziu duas colheitas, a última delas realizada há poucas semanas e uma safra de bom vinho, ainda jovem, mas com ótimo potencial de amadurecimento. Chama-se Entre Rios, em homena­gem ao antigo nome de nossa cidade.

Seguem tendência de outras regiões do Estado de São Paulo que também produzem vinho de qualidade, desmentindo a nossa ima­gem de que só café, laranja e cana se desenvolveriam bem em nosso território coberto por terras férteis. Utilizam-se da técnica de dupla poda, que adia a vindima para os meses de inverno.

A uva Syrah é uma das mais conhecidas no mundo, ocupando hoje o quarto lugar entre as mais plantadas. Várias lendas cercam seu surgimento, sempre tendo a cidade persa de Shiraz como sua origem. Teria sido um cruzado, depois de várias lutas em defesa do cristianismo, que a trouxe para a região do Rhone, na França, onde se expandiu. Teriam sido os gregos de Foceia que, em sua expan­são mediterrânea, a teriam trazido da Sicilia e plantado na mesma região francesa. Pesquisas recentes de DNA, entretanto, mostram que a uva é nativa do Rhone e surgiu da hibridação natural de duas outras espécies.

Na Europa, recebe o nome de Syrah. Com o boom dos vinhos do Novo Mundo adaptou-se muito bem na Austrália, o que ajudou a popularizá-la. É chamada ali de Shiraz, mesmo nome com que é produzida na África do Sul, onde se pronuncia xiréz. Dá um vinho potente, cheio de aromas de fruta, evoluindo com o tempo para sabores terrosos e de carne. Parece que se adapta melhor a climas mais quentes.

Podar as uvas é atividade imprescindível, desde que, reza a lenda, um frei (teria sido São Lourenço?) inadvertidamente amarrou sua montaria numa videira, cujas folhas foram comidas por ela. Para seu espanto, a videiras brotou mais vigorosa e produziu melhores frutos. A prática usual no hemisfério norte, é podar as videiras no final do inverno para que brotem na primavera e produzam no outono, ou seja entre fins de agosto a outubro. Nas regiões do hemisfério sul, o ciclo é outro, pois a colheita é feita no final do verão, durante época de chuvas, que desidratam os bagos, também mais susceptíveis a fungos da umidade.

Os mineiros, com seu jeitinho típico, acharam um meio de “enganar” a videira, realizando não só a tradicional poda de fim de inverno, mas acrescendo uma segundas poda no verão, o que desloca o momento da colheita para o inverno, quando chove muito pouco e a amplitude térmica dia-noite é benéfica para o amadurecimento das uvas. É este método que se usa em Ribeirão Preto. Obviamente que as novas tecnologias de produção são aliadas potentes para melhorar o produto da videira, técnicas estas amplamente usadas na Terras Altas.

As uvas de Ribeirão Preto são um desafio que nos encantam e nos orgulham. Com a repetição das colheitas, a experiência irá acrescentando novas conquistas e maneiras de conduzir o parreiral, um dos pontos fundamentais do processo de produção de vinho. Mais um adjetivo para caracterizar esta nossa cidade: Terra do Café, da Cana, do Chope e, agora, Terra do Vinho. Parabéns e sucesso aos empreendedores pioneiros.

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