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Três vinícolas

Nós, os apreciadores de vinhos, gostamos muito de visitar viníco­las, para ver, in loco, como as uvas vão se transformando até produzir nossa bebida preferida, bem como conhecer processos de cultivo e processamento sendo aperfeiçoados continuamente. Já tive oportuni­dade de visitar várias vinícolas pelo mundo, momento de grande pra­zer. A instalação mais impressionante que eu conheço é a da ClosA­palta, em Santa Cruz, no Chile, que produz o vinho de mesmo nome e que é o único sul americano a receber a honraria de Vinho do Ano pela respeitável bíblia do setor, a WineSpectator. Para construí-la, foi cortado ao meio um morro de pedras no sentido vertical e ali inserida a vinícola, depois recoberta pela terra da montanha. A iluminação e ventilação se dão por um grande poço de granito, circundado por enorme escadaria. O seu topo reproduz um ninho de condor, com as ânforas de concreto em forma ovalóide, onde descansa inicialmente o mosto, representando os ovos do maior pássaro da América do Sul. O sistema usado é o de queda natural por gravidade. As uvas são separadas no alto do morro, o mosto vai sendo enviado para os quatro andares inferiores e processado até chegar ao térreo, um salão em forma de barril gigante cortado pela metade, no sentido vertical.

No meio da grande quantidade de barricas de envelhecimento, enorme mesa de vidro transparente suporta as taças de degustação, que parecem flutuar no espaço, iluminadas por pequenas lâmpadas de led. Quando nos aproximamos da mesa, podemos observar que em sua base se encontra uma escada, também de vidro, que conduz à adega particular subterrânea da Família Lapostolle, proprietária da vinícola. Um excelente restaurante estrelado, sob a sombra de uma pérgula de videiras, fecha a visita de maneira memorável. Seu hotel participa da rede Relais et Chateaux.

Na região catalã de Penedés, próximo a Barcelona, localiza-se a Codorníu, mais antiga empresa da Espanha e a primeira vinícola a produzir industrialmente a cava, como é chamado o champanhe na­quele país. A família proprietária faz vinho desde 1551 e, no começo do século XX, inaugurou sua sede atual, obra do extraordinário arquiteto catalão JosepPuig i Cadafalch, contemporâneo de Gaudi, com várias ampliações do mesmo estilo, e tombada como Patrimônio Histórico e Cultural da Espanha. Suas arcadas em tijolo aparente, seus torreões com decoração geométrica, encantam o visitante. Amplos salões são abertos para eventos e a sede abriga finíssimo restaurante e o Museu Codorníu. Debaixo do solo, em quatro andares subterrâneos, são produzidas 40 mil garrafas de cava por hora e 25 quilômetros de túneis abrigam 100 milhões de recipientes, que envelhecem na penumbra, numa temperatura fresca e constante. Tão grande é esta instalação que é preciso um trenzinho elétrico para percorrer parte dela.

A França tem uma infinidade de vinícolas em propriedades his­tóricas. Na região de Bordeaux, no distrito de Sauternes, o elegante Chateau D’Yquem produz o vinho do mesmo nome, que disputa com o húngaro Tokajio título de melhor vinho de sobremesa do mundo. As parreiras da região são agraciadas com a existência de um fungo microscópico, o BotrytisCinerea, que perfura a casa da uva, chupando a água e deixando somente açúcar concentrado, o que dá notável sabor ao produto. Vinho caro, uma das razões é a forma de colher as uvas: normalmente, na época da vindima, são colhidos os cachos das videiras. No Chateau D’Yquem, a colheita é feita bago a bago do cacho, logo de manhã e no começo da noite. As­sim, as equipes colhem frutos do mesmo cacho em momentos e dias diferentes. O castelo, construído numa antiga propriedade medieval do Rei da Inglaterra é de um elegância rara, não só na sua arquitetu­ra como na forma como seus funcionários recebem as visitas, sem­pre no grande estilo clássico francês. A vinícola produz ainda outro vinho, este seco, denominado Y (ípsilon é lido em francês i grec, i grego e tem sempre o som de i), muito apreciado pelos entendidos.

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