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Saudade da Base Operacional 330/7

Pode parecer estranho o título de minha crônica de hoje, prin­cipalmente para quem não transita no meio. Vou esclarecer: SP-330 é o código da Rodovia Anhanguera e a “barra 7” indica ser a sétima base da Polícia Militar Rodoviária de São Paulo. No nosso grupo de WhatsApp, de policiais rodoviários da companhia de Ribeirão Preto, foi postado que a base 330/7 havia sido desativada.

Foi aquele sururu de comentários e de lamentos saudosos sem fim. Lógico que fui pego de surpresa, pois aquela base, no km 250 da SP-330, era estratégica. Ficava após três quilômetros e meio de serra e os caminhoneiros, motoristas de ônibus e usuários, sempre tiveram nossa base como proteção, uma espécie de porto seguro.

Foi construída quando a rodovia era de pista simples. Todas as emoções que se pode imaginar eu vivi naquela base. Muitos anos de minha carreira nas estradas foram naquele pedaço de chão. Ao me aposentar, inclsuive, meu último serviço foi lá.

Fica no município de Santa Rita do Passa Quatro, um lugar mui­to alto. Naquela época, nas madrugadas quentes de verão, aproveita­va que o trânsito era quase zero e apagava as luzes da pista e da base. Aquilo tudo ficava a maior escuridão, eu olhava aquele céu forrado de estrelas, parecia estar tão próximo que me sentia junto delas.

Como sempre fui apaixonado por discos voadores e suas histó­rias, trazia comigo a esperança de que dali pudesse ver algum, mas nunca tive este prazer. Meu violão, velho companheiro, estava sem­pre no alojamento de onde eu trabalhava. Nas madrugadas silencio­sas, era excelente companhia. Grandes artistas tocaram nele.

O último foi o saudoso Zé Rico que, numa madrugada da vida, vindo de Ribeirão Preto após um show, sentiu sono, parou na base e pediu um café para o Célio, que colocou meu violão em suas mãos e sugeriu que ele cantasse. E ele cantou, até disse que as cordas do meu pinho estavam velhas, o que era verdade (rsrsrsrsr).

Não vi disco voador, mas, vou contar um causo que vivi. Era comecinho de noite de uma terça-feira, realizávamos a Operação Vagalume (farol queimado) meus companheiros abordavam infra­tores e eu dentro da base preenchia as multas. A fila era de uns dez carros, e entre eles um jovem se mostrava aflito.

Ele pediu licença aos demais, e dirigindo-se a mim com uma educação de se admirar, disse: “Seu guarda, com todo respeito, estu­do na Unaerp, em Ribeirão Preto, e hoje tenho uma prova muito im­portante, se os demais concordarem, será que o senhor poderia fazer a minha multa primeiro? Quero justificar meu pedido: sou tenente da Aeronáutica, piloto da Esquadrilha da Fumaça, tive problemas com meu avião e me atrasei”.

Todos concordaram, fiz a multa e ele seguiu. Passava da meia­-noite, parou um carro atrás da base, fui checar e vi que era o jovem piloto. Ele disse: “Vim agradecer ao senhor, cheguei em cima da hora, fiz a prova, fui muito bem, graças a Deus, depois procurei uma autoelétrica, consertei o farol e vim lhe mostrar”.

Fiquei de cara com o jovem oficial, lhe ofereci um café e, durante o bate-papo, disse ser do Rio de Janeiro e estava realizando o sonho de ser piloto como o pai – pilotava caças. Ao se despedir, perguntou­-me quando estaria de serviço durante o dia, e eu disse sexta-feira o dia todo. Ele completou: às 10 horas em ponto, virei com meu avião dar um show para o senhor.

No dia marcado, às 10h em ponto, ouvi o ronco do motor e olhei para o lado da serra. Era ele! Tirei o quepe da cabeça, acenei, ele balançou as asas do avião respondendo e o meu pedacinho de céu virou seu palco. Durante quase meia hora fez tudo que a Esquadri­lha da Fumaça faz, muitos veículos pararam pra ver. Final do show: eu estava no meio da pista, quase não acreditando no que via, ele deu um rasante rente ao canavial, soltou um tucho enorme de fu­maça como despedida e seguiu rumo à Base Aérea de Pirassununga. Nunca mais o vi.

Saudade imensa de um lugar onde fui muito feliz… a Base Ope­racional 330/7.

Sexta conto mais.

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