Ribeirão Preto ia receber a visita do presidente da República. Não era o primeiro. Muitos já haviam estado por aqui, caminhado pelas ruas principais e até inaugurado loja de sapato, cortado fita etc. Mas esta visita tinha algo diferente.
Já se aproximava a data da chegada do presidente e da sua comitiva. O cerimonial do Planalto cobrava, a todo instante, informações detalhadas sobre o evento, onde as autoridades seriam reunidas, quem falaria, assuntos em pauta, perguntas apresentadas pela imprensa, credenciamentos etc.
Tudo parecia organizado, até que na ante véspera do grande dia Brasília informou que talvez o presidente nem viesse porque não andava satisfeito (sem dar maiores explicações).
Nesse momento, o gabinete do Prefeito “ruiu”. Sua assessoria entrou em pane, ninguém tinha o que esclarecer ou informações a dar ao chefe, que resolveu tomar o telefone e falar direto com o cerimonial da Presidência (ainda não era a época dos e-mails).
O prefeito, como bom médico plantonista do Pronto Socorro, diagnosticou logo o mal estar do presidente. A questão era a ausência de um nome na lista dos convidados para o almoço banquete na Usina Santo Antônio (dos Balbos), em Sertãozinho.
O presidente, militar exigente, violento, rigoroso nas coisas pessoais, não admitia não ter o “convidado ilustre”. Forneceu o nome e mandou que fosse localizado em Ribeirão. “Absurdo não ser conhecido naquela cidadezinha do interior”, arrematou o Planalto, considerando que Ribeirão não era São Paulo!
Em poucas horas, o “Campeão” (como era chamado o “braço direito” do prefeito) já descobria que o nosso desconhecido morava numa “casinha” nos altos do bairro Santa Cruz, era discreto e ninguém o conhecia, nem se sabia o que fazia (alguém arriscou que era olheiro do SNI, polícia do exército). Incluído na lista dos convidados o avião presidencial levantou voo e trouxe o visitante.
No banquete, o prefeito policiava com os olhos o nosso o desconhecido. Até que, inesperadamente, em dado momento, o presidente chamou o “tal” convidado para uma conversa, em particular, fora daquele ambiente do evento. Falaram, a sós, quase meia hora.
Aquilo inquietava os seguranças do presidente e, muito mais, o próprio prefeito da cidade. Se despediram e o presidente retornou a Brasília sem revelar quem era o seu convidado, nem o que haviam conversado.
Dias depois, o prefeito estava com “mente fixa”, queria saber quem era o tal morador de Santa Cruz, amigo pessoal do presidente João Batista Figueiredo, único por ele atendido em separado, entre centenas de autoridades (de tantas estrelas).
Até que conseguiu descobrir o enigma: era um ex-professor do filho de Figueiredo, na GV, que se mudara para Ribeirão e que era amizade pessoal (familiar) do presidente.
Foi assim que, a partir daquele momento, o prefeito achou novas portas em Brasília, que se abriam no BNH principalmente. Ribeirão parecia ter ficado mais próxima da Capital Federal (para tudo, sem as amarras da burocracia).
E o prefeito Duarte Nogueira, o pai, conservou até o fim a amizade “particular” trazida por um presidente.