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Fernanda Takai retrata questionamentos e recorre à memória afetiva em novo disco

Por Renato Vieira

Se a pandemia adiou os planos de muita gente, no caso de Fernanda Takai, eles foram antecipados. O coronavírus ainda nem era notícia no Brasil quando ela decidiu fazer um álbum após o carnaval, entre uma apresentação e outra. Mas a agenda foi paralisada em março, e Fernanda se concentrou em gravar no estúdio montado em casa o álbum Será que Você Vai Acreditar?, disponível nas plataformas digitais a partir desta sexta, 10.

É o primeiro álbum solo de Fernanda em seis anos – período em que fez dois discos com o Pato Fu e o projeto O Tom da Takai, em que interpretava Tom Jobim – com canções inéditas e autorais. Há também releituras de músicas relacionadas à memória afetiva dela

O marido de Fernanda e também integrante do Pato Fu, John Ulhoa, tocou todos os instrumentos das dez faixas do álbum. Para Fernanda, gravar o disco em meio à pandemia foi uma boa maneira de manter a rotina de trabalho sem sentir que estava presa em casa.

O repertório já estava quase todo fechado há algum tempo. Terra Plana, cuja letra tem o verso que dá nome ao álbum, foi feita por John como um presente para a filha do casal. “Foi a primeira das inéditas que apareceu e ganhou um sentido mais amplo com o que está acontecendo hoje. É um jeito de falar do assunto sem brigar, desse absurdo que é dar ré na ciência”, explica Fernanda sobre a letra que fala sobre o envelhecimento dos pais e tem versos como “Se alguém te contar/Que a Terra é plana/E não dá pro espaço viajar/Será que você vai acreditar?”.

Terra Plana ganhou um lyric vídeo com imagens da Terra captadas pela Estação Espacial Internacional. “A gente precisava de um vídeo bem didático. Os comentários são bem engraçados. Os ‘terraplanistas’ falam que isso é fácil de simular, mas muitos gostam da música e acham que ela é a favor deles”, conta a artista.

Outra canção que ganhou lyric vídeo foi Não Esqueça, do gaúcho Nico Nicolaiewsky, morto em 2014. O próprio autor nunca registrou oficialmente a música, que também é um recado de pai, recomendando não esquecer de lavar as mãos, algo tão necessário nos dias de hoje.

Duas inéditas contam com participação de cantoras que são referência para Fernanda. Virginie Boutaud, do grupo Metrô, é parceira dela na delicada O Amor em Tempos de Cólera. “Eu tocava músicas do Metrô na faculdade e a gente se falava pela internet. Tê-la no disco é um momento de aconchego”, ressalta Fernanda. Já Maki Nomiya, que fez parte da banda japonesa Pizzicato Five, colocou voz na alegre Love Song.

Com apreço pela canção popular, Fernanda regravou Não Creio em Mais Nada, sucesso de 1970 de Paulo Sérgio. Para Fernanda, é uma música que dialoga com os questionamentos do disco e a desesperança dos tempos atuais. “Ela estava anotada no meu caderninho há muito tempo, falava com o John que era possível atualizá-la. Tenho memória de rádio AM e me permito misturar essas canções no meu repertório, porque, no fim, tudo é canção popular”, diz Fernanda. A releitura é repleta de timbres eletrônicos e tem a voz de uma assistente virtual repetindo o título da música.

Fernanda regravou duas canções do pop internacional. One Day In Your Life foi hit de Michael Jackson em 1975. “Quando eu estava aprendendo a tocar violão, queria tocar essa música, mas era difícil”, relembra a artista, que homenageou Amy Winehouse com a regravação de Love Is a Losing Game.

A parceria de Fernanda com o letrista Climério Ferreira é ampliada em O Que Ninguém Diz, que surgiu de maneira curiosa. Ela juntou vários versos dele sobre o amor publicados em um livro. “Eu não falei nada com ele. Mandei para ele e falei: Climério, você reconhece seu filho?”, afirma Fernanda com bom humor. Sozinha, ela assina Who Are You?, feita para o espetáculo As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, do Grupo Giramundo

Não há planos de fazer uma live com as músicas do disco. “Gostaria de lançar de uma forma legal, com minha banda. Quis soltar o disco, porque não fazia sentido guardar. Deixar ele solto já é uma forma de fazer a nossa parte em trazer coisas para as pessoas ouvirem.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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