João Camargo
Quando paramos para olhar as paredes e muros da cidade somos tomados, cada vez mais, pela diversidade de cores e obras de arte que estão expostas ao ar livre. Obras estas feitas por artistas plásticos de rua que, na maioria das vezes, acabam permanecendo no anonimato.
No último aniversário de Ribeirão Preto, artistas como Kall, Lola, Higor, Tesk, Tango, Pixa, Marcela, Deivão, Lelin, Bboy, Bro, Nanie, Bíu, Robin e Leser realizaram, em uma ação conjunta, diversos desenhos no Viaduto Jandyra de Camargo Moquenco, que corta as avenidas Independência e Meira Júnior.
Mesmo durante toda a crise que a cidade e o mundo enfrentam por conta da pandemia do novo coronavírus, estes artistas doaram o material, a inspiração, o trabalho e o tempo para a produção de suas obras no viaduto.
Para Isabella Carvalho Pessoti, secretária da Cultura de Ribeirão Preto, estes desenhos são “um presente que foi dado ao município”. “Os grafites do viaduto são presentes, dos melhores artistas plásticos de rua, que a cidade ganhou em seu aniversário deste ano. Cada um tem uma identidade, são super diferentes um dos outros, são vertentes diferentes de uma mesma arte”, comentou.
No aniversário da cidade, em 2019, também foi realizada uma ação similar. Foram desenhados grafites na lateral do Teatro Municipal, no Morro do São Bento, em uma parceria com o Sesc Ribeirão Preto que, na oportunidade, arcou com as despesas de tintas.
Quem esteve presente nas ações foi o artista Elieser Pereira, conhecido como Leser. Em entrevista ao Tribuna, ele contou que é envolvido com a cultura hip-hop desde 1999 e foi assim que se inseriu no meio do grafite.
“Eu tive uma convivência muito grande com os caras que são do grafite. Por sempre estar na rua e dar rolê com eles, comecei a pintar também”.
Ele explica que os desenhos, geralmente, são feitos pelos artistas individualmente. Porém, em algumas ocasiões, eles se saem em grupos e realizam encontros para pintar. Leser diz que na rua é natural cada um ter sua linguagem.
“Eu faço mais letras. Aquelas mais culturais de origem hip-hop. Quando eu localizo um muro, eu preparo e penso nos formatos das minhas letras, no meu estilo e acabo criando minha parada ali”, explicou.
Preconceito
Apesar de ser cada vez mais comum nos depararmos com muros repletos de grafites e desenhos ainda existe preconceito com essa manifestação cultural e acaba sendo vista com maus olhos, como uma poluição visual.
No entanto, Leser acredita que existem pessoas de todos os tipos e que o preconceito não é só voltado para essa parte artística. “Atualmente há uma marginalização do artista em si. Esse discurso existe até pelo governo que temos e como ele trata os artistas. Isso acaba refletindo na nossa população”.
A Prefeitura de Ribeirão Preto informou ao Tribuna, por meio de nota, que apoia e incentiva os grafites que colorem a cidade. Na nota diz que entende que os grafites “são uma arte de rua, portanto, uma expressão identitária, que está para as artes plásticas como os quadros expostos em uma galeria, tendo o diferencial de ser acessível para toda a população, de forma gratuita, em espaços públicos ou privados. Democratizando o acesso à arte”.
Por meio da Secretaria da Cultura, diz que, ao levar a arte até as ruas, os grafites dialogam com os ribeirão-pretanos. Afirma ainda que valorizam os artistas locais e apoiam suas ações. “Os grafites tornaram-se pontos turísticos de Ribeirão Preto”.