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Neuropsicometria Cognitiva (24): Covid-19 e Teorias Conspiratórias

Invariavelmente, espera-se o surgimento de várias teorias conspiratórias sobre as origens, ou cau­sas, dos agentes infecciosos e sobre as vacinas, se disponíveis, usadas para tratá-las. Similar às inúmeras teorias conspiratórias, aquelas conectadas ou ligadas às pandemias tentam explicar as causas dos eventos significativos afirmando que estes são “casos secretos” controlados por atores ou governos muito impor­tantes. As crenças conspiratórias referem-se à credulidade em teorias específicas, das quais é interessante destacar a amplitude de sua disseminação quando conspiratórias. Citemos dois exemplos: 1º) aproxi­madamente, 60% dos americanos ainda acreditam que o presidente John Kennedy foi assassinado numa conspiração envolvendo a Máfia, a CIA e o governo; 2º) muitos brasileiros, incluindo políticos e leigos, acreditam que a facada recebida pelo presidente Jair Bolsonaro tenha sido um complô de origem política. Importante é ficar claro que as teorias conspiratórias parecem ser um fenômeno culturalmente universal.

O que são teorias conspiratórias médicas? O professor Taylor (2019), de Psychology of Pandemics, entende que trata-se de um conjunto de crenças sobre as origens, razões e motivações que justificam o surgimento de um dado vírus ou doença infecciosa de caráter pandêmico ou endêmico, especialmente quando a natureza da doença é pobremente entendida. Vinculadas intensamente durante a infecção HIV-AIDS, bem como, da peste bubônica (1576), da zica vírus, do surto de SARS, da gripe suína (2009) e do ebola, entre outros, também a pandemia da covid-19 não é exceção.

As teorias conspiratórias provavelmente surgem durante períodos de incerteza que circundam eventos importantes, especialmente se estes são ameaçadores e pessoalmente relevantes, bem como, em frontal oposição às explicações veiculadas pelas autoridades sanitárias. Podem fornecer uma explicação simples e inteligível de um evento ameaçador pessoalmente relevante, causando situações incertas em determinado contexto. São resistentes à falsificação, no sentido de postularem que os conspiradores usam, além da desinformação, apelos, os mais diversos, para justificar suas ações, implicando, com isso, que as pessoas que tentam refutá-las sejam, elas próprias, parte da conspiração. Um exemplo? Ter sido veiculado que o vírus da covid-19 ter surgido na China por razões essencialmente políticas e dominado­ras. Outro? O benemérito Bill Gates ter interesse genuíno na fabricação de vacinas devido a estar visando benefícios financeiros acerca de.

As pessoas diferem não apenas no grau no qual elas acreditam nas teorias da conspiração, como, também, na sua susceptibilidade a tais teorias em geral. Pessoas que acreditam numa teoria conspiratória tendem a acreditar em inúmeras outras. As teorias conspiratórias, como propagadas nas mídias sociais, e em outros veículos de comunicação, têm vários aspectos comuns. Primeiro, seus proponentes usualmen­te citam fontes de autoridades para suportarem suas afirmações, mesmo que tais afirmações sejam vagas. Um exemplo é “pesquisa feita em Harvard ou na USP tem mostrado que…”. Segundo, as teorias, elas próprias, são geralmente vagas. Terceiro, os proponentes usam, frequentemente, questões chamativas, como “Se as vacinas são seguras, como você explica o aumento da doença X num país quando as pessoas já receberam a vacina Z?”.

Pesquisas mostram que a tendência para acreditar em teorias conspiratórias está correlacionada com as seguintes dimensões psicológicas: a) desconfiança, pensamento mágico e tendência para acredita no paranormal; b) narcisismo e a necessidade de sentir-se único, que pode ser completada acreditando que alguém tenha um conhecimento especial sobre conspirações; c) preocupação sobre a própria saúde e mortalidade, para as pessoas que acreditam nas teorias conspiratórias médicas; d) credulidade, pobre ha­bilidade para analisar criticamente as origens e os conteúdos de novos acontecimentos, como a tendên­cia, por exemplo, para acreditar nas fake news; baixa inteligência, baixa educação e pobres habilidades e pensamentos analíticos; e) rejeição dos achados e teorias científicas convencionais (teoria da evolução, por exemplo) em favor da pseudociência (crença, por exemplo, de que a oração, por si só, eficiente para curar doenças terminais).

Pesquisas recentes sugerem que as teorias conspiratórias apelam às pessoas que buscam acurácia ou significado sobre aspectos pessoalmente importantes, mas às quais faltam recursos cognitivos ou apre­sentam problemas em acharem respostas para as questões através de meios mais racionais. Muitos outros traços de personalidade podem estar relacionados ao pensamento conspiratório, incluindo estresse relacionado à pandemia, vulnerabilidade emocional, ansiedade e intolerância à incerteza. Estamos, atual­mente, investigando todos esses traços ao longo da atual pandemia por covid-19.

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