No próximo 15 de novembro, vamos eleger o próximo prefeito e renovar (será?) a Câmara de Vereadores. Os candidatos já se apresentam e a pré-campanha vai tomando os seus contornos. Mas o que se ouve muito pouco até agora é sobre o futuro próximo da cidade em termos de sua vida econômica. Ribeirão Preto sempre foi “uma cidade rica com uma população pobre”. Eu acrescentaria “e também com uma administração pobre”. Isso já nos vem desde a época do café, quando muito pouco de sua arrecadação dependia daquele grande produto de exportação e o prefeito sempre recorria aos empréstimos bancários para financiar as obras públicas. A realidade hoje não é diferente.
Sabemos que a pandemia da covid-19 só veio agravar toda esta situação. A queda brutal da arrecadação fiscal e a pesada recessão que se avizinha são provas disso. Vamos pagar muito caro, não só pelos seus impactos na economia local, mas pelo desgoverno dos últimos 12 anos. É o que eu chamo aqui de “herança maldita”. Uma administração marcada pela corrupção e malversação do dinheiro público foi sucedida por uma outra que só vê nos ditames do neoliberalismo a solução pra todos os nossos problemas. Uma não passava de um condomínio de bufões e comensais. A outra é o exemplo de gestão entre amigos, elitista, ineficaz e antipopular. E ainda é premiada…
O que não se ouviu falar nos últimos anos foi de políticas públicas. E se elas foram discutidas em alguma instância ou em algum momento, não vimos nenhuma mobilização popular que deveria precedê-las. O servidor público foi alçado ao inimigo público número 1. A deterioração dos serviços está aí aos olhos vistos. Sequer a zeladoria urbana a prefeitura consegue fazer. Galhadas espalhadas há meses por toda a cidade são o retrato do descalabro e do abandono. A pandemia só veio escancarar uma gestão que não consegue dar um rumo, apontar um caminho. Atingimos aquele estágio do desalento. Triste. O rei está nu.
As campanhas eleitorais se sucedem, mas parece que as pessoas se esquecem delas muito rapidamente. O atual prefeito, cuja campanha foi regada pelas notinhas de dois reais do Gaeco e da PF, nunca teve empatia pela sua cidade, nunca teve aptidão por cargos executivos. Só circulou pelas altas esferas. Nunca pôs os pés no barro. Tanto que sempre foi chamado de visitante e turista. E todos sabiam disso muito bem. Prometeu “fazer mais com o menos” e hoje o vemos fazer menos com o menos. Não lidera, não agrega, não converge. Uma administração que, quando deveria demonstrar força, autonomia e determinação como agora, passa a imagem de desnorteada.
Não adianta os candidatos terem um bom projeto de seus próprios sonhos. Vai demorar muito para termos sonhos. Temos de ter, mais do que nunca, os pés no chão. O que vem pela frente é uma crise nunca vista pela nossa geração. A pandemia ainda vai continuar impactando a economia por anos e qualquer projeto político para a nossa cidade, minimente responsável e promissor, terá de agregar todas as forças, movimentos e entidades em torno de prioridades absolutas que garantam uma vida digna para todas as pessoas, com atenção especial para aqueles que mais sofrem. Saúde, educação e moradia popular em primeiro lugar. Terá de ser uma gestão que resgate os sonhos e as conquistas que se perderam pelo caminho.
Na minha opinião, uma próxima administração deverá se comprometer com os interesses populares e, para isso, deverá redistribuir as quotas de sacrifício com o abandono da cartilha neoliberal que só agrava a vida da grande maioria das pessoas. Quem pode dar mais que dê. Gestão fiscal eficaz com o recolhimento das dívidas milionárias dos bancos e grandes corporações. Diálogo permanente com a sociedade civil organizada para discussão e efetivação das políticas públicas. Transparência, controle social, reativação dos conselhos, dinheiro público para o que for de interesse público… Para voltarmos a ter sonhos e superar esta herança maldita de 12 anos.