Tribuna Ribeirão
Política

Renda Brasil – Programa terá R$ 51,7 bi e vai pagar R$ 232

MARCOS CORRÊA/PR

Um desenho preliminar do Renda Brasil, o novo progra­ma do governo que vai substi­tuir o Bolsa Família, prevê um orçamento anual de R$ 51,7 bilhões e 57,3 milhões de pes­soas beneficiadas (18,6 milhões de famílias), segundo proposta em discussão no Ministério da Economia. O redesenho do programa propõe elevação do benefício médio de R$ 190,16 para R$ 232,31.

Hoje, o Bolsa Família in­clui 13,2 milhões de famílias, o que alcança 41 milhões de pessoas a um custo de cer­ca de R$ 32 bilhões ao ano. Poderão entrar no programa famílias com renda per capita mensal até R$ 250, a chamada linha de pobreza para acesso ao benefício. Atualmente, esse limite é de R$ 178.

Preocupado em criar uma marca própria de apelo social e, ao mesmo tempo, suplantar programas de governos an­teriores, o Palácio do Planal­to trabalha para que o Renda Brasil se torne uma alternati­va para parte das famílias que passaram a receber o auxílio emergencial de R$ 600 durante a pandemia da covid-19.

A ideia em análise, segundo técnicos da área econômica, é redesenhar o Fundo de Com­bate de Erradicação da Pobreza e Fundo Social para a transfe­rência de patrimônio (ativos) e atender ao financiamento do Renda Brasil. O ministro da Economia, Paulo Guedes, quer desonerar empresas que contratarem trabalhadores que estarão no Renda Brasil com a nova Carteira Verde Amarela.

A medida é vista como uma forma de facilitar as chamadas “portas de saída” do programa de transferência de renda. O desenho discutido por técni­cos da Economia é parecido com a proposta de ampliação do Bolsa Família elaborada pela Câmara em 2019. O go­verno também quer eliminar o déficit de creches no País com a concessão de uma espécie de “voucher” para o pagamento do serviço.

Especialistas alertam, po­rém, que mesmo com o in­cremento dos recursos, cerca de 60 milhões de brasileiros, hoje atendidos com o auxílio emergencial pago por causa da pandemia da covid-19, ficarão de fora do Renda Brasil e sem renda de uma hora para outra. Eles defendem a prorrogação até o fim do ano do auxílio, que beneficia cerca de 120 milhões.

Para a economista Monica de Bolle, professora da Univer­sidade Johns Hopkins, nos Es­tados Unidos, esse contingente de pessoas ficará desassistido daqui a dois meses, quando se sabe que a pandemia não terá passado. “É um tiro n’água. É terrível o que vai acontecer com essas pessoas e a economia.”

Segundo Monica, o fim do auxílio tirará uma rede de sus­tentação que tem sido muito importante neste momento. Ela destacou que os R$ 600 tem ajudado o financiamento dos municípios e capacidade de serviços essenciais, como coleta de lixo e rede pública de ensino. A pesquisadora critica o programa de voucher, que não funciona, nem mesmo nos EUA, pelas distorções e proble­mas de acesso.

O governo quer pôr o Ren­da Brasil em funcionamento já no segundo semestre. Para isso, precisará aprovar medidas no Congresso Nacional, inclusive uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para alte­rar o abono salarial.

Parlamentares que defen­dem a prorrogação do auxílio devem lançar nos próximos dias a Frente Parlamentar em Defesa da Renda Básica Para o diretor executivo da Insti­tuição Fiscal Independente (IFI) do Senado, Felipe Salto, é preciso mostrar claramente quais serão as fontes para a ampliação do programa.

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