João Camargo
A pandemia do novo coronavírus gerou grande instabilidade em diversas empresas de inúmeros seguimentos por todo o mundo. No Brasil e em Ribeirão Preto não foi diferente. Algumas empresas e empreendedores não conseguiram superar o baque e fecharam, mas outros estão se reinventando e se renovando para tentar driblar as adversidades.
O Tribuna entrou em contato com algumas empresas de Ribeirão Preto que contaram quais têm sido as estratégias seguidas e desenvolvidas para combater uma possível crise.
Wilson de Campos Júnior é diretor comercial da Flytour Serviços de Viagens, cujo principal mercado é o de viagens de negócios, um dos mais afetados. A empresa gera para os contratantes passagens aéreas, hospedagem, locação de veículos, seguro viagem, entre outros. Ele revela que entre as principais dificuldades enfrentadas estão: suspensão dos voos; o fechamento temporário de hotéis e o cancelamento de serviços de viagens a lazer pelas operadoras de turismo.
“Nossos principais clientes suspenderam todo e qualquer deslocamento de seus colaboradores. Tudo isso, somado a insegurança que todos sentem em se deslocar, fez com que o mercado de turismo parasse praticamente por completo”, declarou.
No entanto, o diretor da Flytour disse que a solução encontrada para driblar os empecilhos foi a possibilidade de remarcar as viagens para outro momento, sem nenhuma cobrança das multas que o contrato firmava.
Quem também atua no ramo de viagens, nos segmentos corporativo e turismo de lazer, e teve de se reinventar, foi a Mobai Viagens.
A análise de Guilherme Busch Rocha, diretor executivo da Mobai Viagens, vai de encontro com a de Wilson: “a covid-19 afetou o turismo com muita força”.
“As vendas de pacotes de lazer praticamente cessaram e a emissão de bilhetes aéreos e hospedagem para empresas caíram aproximadamente 85%. Ao mesmo tempo, muitos clientes corporativos deixaram de honrar seus pagamentos e tornaram-se inadimplentes”, disse Guilherme.
O diretor executivo da Mobai Viagens estima que cerca de 100 viagens de clientes foram afetadas pela pandemia. Para tentar minimizar os prejuízos, Guilherme explicou que toda a equipe foi remanejada para home office e houve a redução de jornada.
“O foco da estratégia comercial da Mobai foi direcionado ao setor de locações de veículos, que foi impactado com menos força do que os demais segmentos em que atuamos, e onde possuímos know-how e bons acordos comerciais com as locadoras. Paralelamente, estamos tentando nos manter próximos dos clientes, melhorando os processos internos e aumentando nossa presença online”, relatou.
Migrando de ramo, mas seguindo para outro que também foi severamente impactado, chegamos ao Lona Branca, que atua no segmento de festas, realizando eventos de 15 anos, casamentos e formaturas e corporativas.
O gestor da empresa, Guilherme Collos Nogueira, explica que as principais dificuldades encontradas têm sido as demissões e a descrença de potenciais clientes.
“Hoje, as contratações de festas estão muito fracas. Por conta disso, não estamos conseguindo manter nem o custo fixo da empresa. Estamos totalmente sem entrada. O dinheiro para a realização de festas nós pegamos vinte dias antes da realização da mesma”, explicou.
Collos salienta que a solução tem sido a criação de uma rede de vantagens para clientes. “Nossa ideia de solução para tentar amenizar os prejuízos tem sido reunir um grupo de parceiros, que chamamos de clube de vantagens. Por conta dele, os noivos têm benefícios reais quando contratam esses parceiros indicados por nós”, disse.
Cervejaria
Marcelo Carvalho de Oliveira é proprietário da Cervejaria Maltesa que teve que ser reestruturada um novo modelo de negócio. “Tivemos que estruturar um novo modelo de negócio que não existia, a venda para o consumidor direto. Antes da pandemia, apenas 5% das vendas eram direcionadas ao consumidor final. Hoje, esse tipo de venda equivale a 95% do faturamento da empresa”, comentou.
Além disso, Marcelo ressalta que foi necessário oferecer inovações para os consumidores. Uma delas foi o investimento em um equipamento do sistema Crowler (nome derivado do inglês e significa envase da bebida em lata).
“Esta proposta está sendo utilizada pela primeira vez em Ribeirão Preto e está em funcionamento na fábrica da Maltesa. Com o crowler, o consumidor pode levar as cervejas produzidas pela Maltesa para onde desejar, mantendo o seu frescor e a alta qualidade”, informou Marcelo.
Após a crise, pequenos negócios terão que adotar novas medidas para se adaptar
O planejamento, a gestão e a digitalização são os principais caminhos que os pequenos negócios terão que trilhar nos próximos meses para enfrentar a crise econômica causada pelo novo coronavírus, que afeta o país desde março. Essa foi a conclusão de especialistas durante o debate sobre como gerenciar as finanças do negócio em meio às incertezas, promovido pela revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios (PEGN).O objetivo do evento, realizado de forma virtual, foi definir estratégias para vencer as dificuldades que os pequenos negócios atravessam.
Para o presidente do Sebrae, Carlos Melles, que participou do debate, é importante que a população se conscientize sobre a importância dos pequenos negócios para o país, principalmente em momentos de crise, como agora. Para Melles, os caminhos para o segmento são a digitalização, investimentos em educação empreendedora e melhoria da gestão. “Tenho muita preocupação, pois as micro e pequenas empresas são as que mais empregam e as que menos desempregam. São os salões de beleza, os mercadinhos dos bairros, as pequenas lojas que têm encontrado bastante dificuldade no acesso a crédito. No momento em que elas mais precisam, batem com a cara na porta”, afirma o presidente do Sebrae.
A mesma opinião é de Kelly Carvalho, assessora econômica da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio- SP). “O varejista tem que passar a vender em plataformas, por marketplace, pelas redes sociais, usar influenciadores, além do WhatsApp, onde o vendedor pode estreitar relacionamentos e fazer negócios”, explica Kelly. “Além disso, é importante fazer a integração entre o comércio físico e eletrônico”, observa a assessora da Fecomercio.
Para Márcio Lavelberg, CEO da consultoria financeira Blue Numbers, a falta de gestão é um dos maiores problemas de muitos empresários. “Não há planejamento, só olham para o caixa. É importante ter uma reserva para as emergências e não olhar só os resultados”, diz o CEO, ressaltando que é necessário observar o fluxo de caixa, fazer balanços, controlar os estoques e os preços, entre outras medidas. O debate foi mediado pela editora-executiva da revista, Mariana Iwakura, que ressaltou que a crise está causando uma mudança nos negócios no país. Ela cita o trabalho home office, o e-commerce e o crescimento dos deliveries.
Ribeirão: mais de 8 mil postos de trabalho foram extintos na pandemia
Um dos efeitos negativos mais evidentes da pandemia de Covid-19 na economia brasileira é o aumento do desemprego generalizado, decorrente do fechamento do comércio de bens e serviços somado à falta de políticas públicas de apoio ao setor produtivo, principalmente no acesso a linhas de crédito para folha pagamento.
De acordo com um levantamento realizado pela Acirp, baseado nos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e do Ministério da Economia, entre março e maio de 2020, a cidade de Ribeirão Preto perdeu 8.552 mil postos de trabalho. No mesmo período em 2019, houve um aumento de 701 vagas. Na Região Metropolitana, foram extintos 13.755 postos de trabalho, sendo que no mesmo período do ano anterior houve um aumento de 3.485 vagas.
“Os empregos perdidos poderiam ter sido amenizados se os poderes municipal, estadual e federal estivessem unidos na elaboração de políticas públicas para resguardar empresas e empregos, a exemplo do que ocorreu em outros países. Falta atenção para a política de isenção de impostos e acesso à linhas de crédito”, avalia o presidente da Acirp, Dorival Balbino.
Segundo o economista da Acirp, Gabriel Couto, boa parte das empresas tem enfrentado dificuldades em manter o faturamento neste período, o que afeta diretamente o nível de emprego.
“Houve queda substancial de novas contratações em comparação a igual período de 2019, reflexo do momento de dificuldades e elevada a incerteza vivido pelos empresários. Estes resultados negativos já estão apresentando impacto significativo no desempenho da economia regional, assim como tem sido observado no restante do País e em praticamente todo o mundo”, comenta.