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Esportes Coluna – Sem contato, mas com foco

© Patrícia Santos/CPB/Direitos reservados

Fechado nos últimos meses em virtude da pandemia do novo coronavírus (covid-19), o CTP foi autorizado a reabrir, com restrições. No primeiro momento, atletas medalhistas em Paralimpíadas, ou em Mundiais no ano passado – nas modalidades atletismo, natação e tênis de mesa – poderão reiniciar as atividades no local após realização de testes. Segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), os demais esportes serão avaliados em uma próxima etapa da reabertura, ainda sem previsão.

Atletas da natação e do atletismo, com deficiência visual – que se enquadrem no perfil definido pelo CPB -, estão liberados neste momento. No entanto, o  protocolo definido pela entidade e anunciado no último dia 11 indica que as modalidades específicas para quem tem a visão comprometida estão entre as de alto risco de contágio, pela necessidade natural de contato. Por enquanto, as seleções de judô, goalball e futebol de cinco seguem a preparação à distância, mas sem perder o foco.

Medalhista de prata em 2012 nas Paralimpíadas de Londres (Reino Unido) e na Rio 2016, a judoca Lúcia Teixeira transformou a garagem em uma espécie de academia. “Como agora moro em casa, tenho mais espaço. Comprei tatames, consegui anilhas e barras, então dá para fazer a parte física e o treino de potência”, conta à Agência Brasil. “Claro, não é igual a um treino normal, mas, ajuda. Antes [de ter os tatames], fazia os exercícios de tênis e era incômodo”, completa a atleta, que tem baixa visão devido à toxoplasmose congênita.

O contato com os demais atletas da seleção e com a comissão técnica se dá por meio do aplicativo Whatsapp. “Tem um grupo dos treinos à tarde, outro dos treinos da manhã, outro do feminino…”, enumera Lúcia. Segundo ela, a “marcação” à distância é mais intensa que se as atividades fossem presenciais. “Com a comissão, o contato é quase diário, porque tem que passar os vídeos dos exercícios, passar para a nutrição o que comeu e informar ao preparador físico sobre a percepção de esforço”, descreve a medalhista da categoria até 57 quilos, que vive em São Paulo.

Cerca de 1.100 quilômetros de distância da capital paulista, no Rio Grande do Sul, Ricardinho também dá um jeito de se manter ativo, mesmo longe das quadras de futebol de cinco. O ala, considerado o melhor jogador do mundo na modalidade, até teve o gostinho de treinar fora de casa por alguns dias, mas a redução na flexibilização da quarentena gaúcha, após o aumento de casos locais de covid-19, mudou os planos.

Rio de Janeiro, Brasil, 13 de Setembro de 2016. Ricardinho (10) no jogo Brasil x Irã Futebol 5 - Jogos Paralímpicos Rio 2016.
Ricardinho vem recebendo acompanhamento da comissão técnica da seleção, e da Agafuc, equipe que defende em Canoas (RS) – Heusi Action/Gabriel Heusi/Direitos reservados

 

“Fiquei, inicialmente, fazendo treinos físicos em casa, trabalhos funcionais, outros específicos e alguma coisa com bola, para não perder a intimidade com ela (risos). De uns 40 dias para cá, Porto Alegre liberou a abertura de academias com restrições. Consegui fazer alguns trabalhos de mais qualidade na musculação. Mas, na última semana, saiu um novo decreto e as academias fecharam de novo. Voltei à rotina em casa”, diz o camisa 10 da seleção de futebol de cinco.

Assim como Lúcia, Ricardinho é acompanhado à distância – no caso dele, tanto pela comissão técnica da seleção brasileira, como pela da Associação Gaúcha de Futebol para Cegos (Agafuc), time que o jogador defende. “A nutricionista conversa conosco, monitora, tem o fisiologista, preparador físico… Todos sempre em contato para sairmos dessa fase com o prejuízo minimizado. Porque todos terão algum prejuízo. Embora já tenha tido uma flexibilização, como fechou um pouco de novo, não temos previsão de voltar às atividades [em quadra]”, explica o ala tricampeão paralímpico, que perdeu completamente a visão aos oito anos, devido a um deslocamento de retina.

Momento e expectativa

Com a Paralimpíada de Tóquio (Japão) adiada para 2021, devido à pandemia de covid-19,  e a continuidade do período de isolamento social, Lúcia e Ricardinho aproveitam para curtir o que nem sempre é possível em meio à rotina de treinos e competições. No caso da judoca, é a oportunidade de ficar mais tempo com a filha. “Tenho verificado as atividades escolares, jogado videogame com ela, enfim, ficado mais com a família”, revela a atleta. “Uma coisa que eu não fazia era cuidar da casa, mas com a quarentena, eu que estou cuidando, cozinhando. Antes, só cozinhava no fim de semana. Dispensei a menina que ajuda aqui porque ela é do grupo de risco. Ela está recebendo normalmente, mas é pela segurança dela. Quando passar tudo, ela volta”, completa.

 

 

Já o camisa 10 do futebol de cinco curte os momentos de lazer acompanhado de um chimarrão – “é cultural do nosso estado” –  e de um violão. Ricardinho também passa tempo com os três parceiros caninos: um casal da raça pastor alemão e uma fêmea de pastor belga. “São as raças mais utilizadas no serviço policial e isso é algo que estudo muito, o adestramento. Os cães são meus companheiros e seguranças. Quando saio, levo um deles junto. São maravilhosos, confiáveis. E é assim que passo os dias, treinando, mas também exercitando a mente”, afirma o atleta gaúcho.

Os Jogos de Tóquio foram remarcados para o período de 24 de agosto a 5 de setembro do ano que vem. A nova data proporcionou, ao menos, um direcionamento aos atletas após eventos diversos – incluindo etapas classificatórias – serem suspensos. “Quando iniciou a quarentena, foi uma ansiedade grande, porque tínhamos competições grandes pela frente e uma incerteza de quanto tempo demoraria [a quarentena]. Quando adiaram foi um alívio. Dará tempo de passar a pandemia e chegarmos de igual para igual. Tóquio é uma realidade que vivo há quatro anos, então, agora, o preparo será de cinco anos, fazendo cada dia melhor que o anterior”, prevê Lúcia.

Ricardinho compartilha do mesmo pensamento. “[O adiamento] foi um balde de água fria para nós, que tínhamos a expectativa de jogar agora, mas, foi muito necessário. Então, é manter o foco e se virar nos 30 em casa. É a motivação. A gente sabe que, se relaxar, não conseguirá voltar em um nível legal. Então, disciplina em primeiro lugar”, analisa o atleta. “Os mais jovens terão um ano a mais para amadurecer, adquirir mais bagagem para uma competição de grosso calibre, como se diz (risos). Eu digo para eles que não podemos fazer terra arrasada. Depende da gente”, encerra.

Edição: Cláudia Soares Rodrigues

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