Por Mariane Morisawa, especial para O Estado
Assim que foi convidada por uma marca de produtos de higiene pessoal para dirigir o documentário Dads (“Pais”, na tradução livre do inglês), sobre os desafios da paternidade hoje, Bryce Dallas Howard, mais conhecida como atriz da série Jurassic World e de filmes como A Vila, ficou surpresa com uma informação. “A maior parte dos homens que têm direito à licença-paternidade não usufrui porque pais que cuidam dos filhos são estigmatizados”, disse a diretora em entrevista ao Estadão. “A imagem é que eles não estão priorizando o trabalho. E isso é absurdo e completamente retrógrado.”
O documentário, já disponível no serviço de streaming Apple TV+, quer mostrar que os pais podem e devem participar ativamente na criação dos filhos. “O que não me surpreendeu foi que há toneladas de pais maravilhosos por aí”, disse Bryce Dallas.
O filme entrevista pais famosos – sempre apresentadores ou atores de comédia como Will Smith, Jimmy Kimmel, Conan O’Brien, Neil Patrick Harris e Jimmy Fallon. “Todos me disseram que nunca tinham respondido a tantas perguntas sobre a paternidade”, contou ela. “E achei estranho, porque sempre me perguntam sobre maternidade. Então como mãe eu sou respeitada. Há uma pressão que vem com essa consideração, mas os pais não têm reconhecimento, o que coloca sobre eles toda a pressão para mostrar resultados. Que tal se equilibrássemos um pouco isso?” Sua preferência por comediantes se deu porque os considera os filósofos modernos. “E, claro, eles veem tudo por uma ótica engraçada.”
O pai de Bryce Dallas, o também ator e diretor Ron Howard, vencedor do Oscar por Uma Mente Brilhante (2002), relutou um pouco em participar, o que é compreensível, na opinião da diretora. “Mas sempre quis incluir um homem que estava esperando ser pai pela primeira vez, para mostrar o antes e o depois. E, durante o processo, minha cunhada, mulher do meu irmão Reed, ficou grávida. Isso abriu caminho para minha família participar, inclusive meu pai.” Além de depoimentos de Ron Howard e do pai dele, Rance, morto em 2017, há imagens de arquivo familiares.
No entanto, os verdadeiros astros do documentário são pais comuns de diversas partes do mundo, que Bryce Dallas Howard chama de “pais heróis”. Um dos personagens é o carioca Thiago Queiroz, que faz um podcast e tem um canal no YouTube chamado Paizinho, Vírgula!. “Thiago foi um dos últimos que filmamos e, logo na primeira conversa por telefone, eu fiquei tocada, porque ele estava preocupado que as câmeras podiam atrapalhar o ritmo da família”, contou Bryce Dallas Howard. “E adorei ouvir sua mulher, Annie, dizendo que a licença para os pais precisa existir não apenas para que eles criem laços com os bebês, mas para que sejam parceiros de suas companheiras num momento de reconstrução da identidade. Eu achei isso muito bonito.”
Bryce Dallas Howard afirmou também que, para ela, era importante incluir pais de diversas origens, culturas, etnias, classes sociais e orientações sexuais, para derrubar mitos associados a esse ou aquele grupo. O primeiro escolhido foi Glen “Beleaf” Henry, que também é YouTuber e fez uma TED Talk sobre paternidade. Robert Selby assumiu parte dos cuidados com o filho, que tem problemas de saúde, mesmo sem estar casado com a mãe do menino. Ambos são afro-americanos. O japonês Shuichi Sakuma parou de trabalhar e assumiu o dia a dia com o filho. Rob Scheer e seu marido, Reece Scheer, falam da experiência de serem pais adotivos de quatro crianças e adolescentes.
Com o documentário, a diretora espera que homens enxerguem possibilidades, ainda mais nesse período em que muitos estão sendo obrigados a trabalhar de casa. “É difícil ser algo que não vemos no mundo”, disse Bryce. “A maneira como os pais têm sido retratados na televisão, no cinema e na literatura é negativa, com pais ausentes, incompetentes. Espero que o filme ajude os pais a se sentirem reconhecidos e verem na tela pais cuidando de seus filhos, seja ensinando a andar de bicicleta ou lavando a louça ou fazendo o café da manhã. Espero que os homens que queiram ser bons pais se enxerguem no filme e, quem sabe, se sintam inspirados a fazer ainda mais.”