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Ao ar livre estamos mais seguros

O trabalho e o emprego possuem uma centralidade em nossa socie­dade e isso já faz algumas boas décadas. O valor que atribuímos ao traba­lho e ao emprego em nossas vidas é muito grande, pois além da obtenção de uma renda, também almejamos um lugar na sociedade e queremos nos realizar. A socióloga Dominique Méda, pesquisadora do Centro de Estudos do Emprego na França, identifica um caráter destruidor do desenvolvimento atual, tanto do capital humano, como do natural. Segundo ela, são necessárias políticas fundadas no trabalho decente e no emprego de qualidade.A vida dos trabalhadores, importa!

Estudos recentes realizados por infectologistas deixam poucas dúvidas quanto aos principais riscos de contágio da covid-19 em relação ao nosso dia a dia. Se estamos em ambientes fechados, com ar-condicionado, com muita gente e por muito tempo de exposição, as chances de contágio são enormes. Exemplos: shoppings, super­mercados, aeroportos, salas de trabalho compartilhadas, ônibus, metrôs, elevadores, cinemas, salões de festa, igrejas e reuniões familiares. Ao contrário, se estivermos em ambientes abertos para o céu, com ventilação natural, pouca gente e distanciamento físico recomendável, os riscos de contágio são quase nulos.

O Estado de São Paulo possui várias unidades de conservação: áreas públicas naturais preservadas. Elas são pouco visitadas e neste momen­to estão todas fechadas. Ribeirão Preto e a grande maioria das cidades paulistas possuem parques urbanos que permitem o desenvolvimento de atividades ao ar livre. Eles se encontram fechados neste momento. De modo similar, a maioria das praias ainda se encontra interditada.

Quero acreditar que o que fazemos de melhor neste estado e nesta cidade não seja consumir, acumular e descartar. E que para a grande maioria das pessoas o consumo não tenha ocupado um espa­ço e um patamar que tenha lhes afetado a autenticidade, a vontade de ser livre, de se interessar pelo outro e ser solidário.

O Plano Paulista de controle da covid-19 ao ter como único foco o escalonamento de 5 faixas para o retorno das atividades econô­micas, desconsidera outras atividades sociais que possuem relação direta com o problema sanitário instalado. Uma delas é o lazer e as atividades físicas ao ar livre. Neste sentido, sugiro que ocorra uma atualização do Plano.

Para que parques naturais estejam em pleno funcionamento são necessários muitos empregos e muito trabalho: cuidar dos espaços de visitação, dar segurança a toda a área preservada, efetuar os ma­nejos da flora e da fauna, monitorar estudantes e o público em geral, desenvolver e dar suporte a atividades de pesquisa, evitar incêndios e outros riscos de degradação, comunicar os benefícios da preserva­ção daquele espaço, entre muitos outros.

Quantos de nossos entregadores por aplicativos não poderiam estar sendo formados e direcionados para ter um emprego decente e um trabalho seguro e digno? Se nos preocupamos com as empresas neste momento, e isso é muito justo, há que se dar também a devida atenção à manutenção e estruturação das nossas áreas protegidas e espaços de lazer. Na condição de calamidade pública com as características conhe­cidas me parece sensato abrirmos os parques e mantermos os shoppings fechados até que atinjamos uma situação mais segura.

Essa cadeia de valor social e econômica é válida também para nossas praças e áreas verdes. Os espaços livres das nossas cidades podem ser cuidados de um modo muito diferente do atual. Eles po­dem ser produtivos como emprego de técnicas agroecológicas para gerar frentes de trabalho e muito alimento. Nós podemos cuidar e curar a terra, fortalecendo assim nossa saúde. Percebam que uma parte da solução para a quarentena que se estende, para a doença que ainda não tem cura e para o desenvolvimento excludente, está no fato de invertermos perspectivas.

Nossos gestores públicos e empresários devem permanecer me­nos nos gabinetes – locais mais arriscados para infectar-se – e tomar um ar renovado com ventilação natural. Se não aprenderem com uma pandemia dessa magnitude, passem o bastão.

“Para onde nos atrai o azul?” (Guimarães Rosa).

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