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Conhecendo a ‘Capital da Seresta’

Faz alguns anos, vi uma foto da cidade de Conservatória (RJ). Como sou ligado em música, procurei saber o porquê de o municí­pio fluminense carregar a alcunha de “Capital da Seresta”. Li tudo a respeito e passei a alimentar o desejo de conhecê-la.

O nosso Sesc Ribeirão Preto sempre programa viagens culturais que valem a pena. Um belo dia, recebi a programação e lá constava um passeio de quatro dias em Conservatória, com saída em 15 de junho – foi em 2015. Reservei dois lugares, para mim e minha primeira-dama e levei meu inseparável violão. Afinal, no nosso novo destino com certeza eu queria tê-lo em meus braços, dedilhando suas cordas.

Marta, nossa guia durante a viagem, ia nos colocando a par dos lugares que íamos visitar, como a Serra da Beleza, Museu do Vicente Celestino, Museu do Guilherme de Brito, Túnel das Lágrimas, fazendas seculares e fábrica de chocolate, sem contar a tão esperada serenata que é a razão de a pequena cidade “bombar” de turistas de quinta-feira a domingo.

E lá foi nosso maravilhoso ônibus de dois andares pelas rodovias Anhanguera, Dom Pedro I e Presidente Dutra. No tímido trevo de Volta Redonda, já no Estado do Rio de Janeiro, saímos da Dutra e começamos a subir uma serra com curvas tipo cotovelo. Nosso pi­loto era de primeira, e depois de mais de uma hora, já anoitecendo, chegamos ao hotel fazenda, a dois quilômetros de Conservatória.

Dia seguinte, sexta-feira, saímos para conhecer antigas fazendas que produziam cachaças em alambiques artesanais. A até eu que não sou chegado em destilados provei e gostei. Numa das fazendas, para nos receber, a dona se vestiu à moda antiga: vestido longo, chapéu e sombrinha, ela mesmo nos conduziu casarão adentro e nos explica­va cada cômodo, cada parte do lugar.

Foi ali que descobri o significado da palavra “alcova”. Conhecia por ouvi-la em letras de músicas, mas nunca tive a curiosidade de saber. A fa­zendeira disse que a fazenda ficava no caminho dos cavaleiros viajantes e no casarão havia várias moças. Como os donos não sabiam quem estava pedindo pouso, colocavam o visitante na alcova, um quarto sem janela cuja porta era fechada por fora, com trava e tudo mais.

Pô, bicho, era uma cadeia (hehehe). De manhã libertavam o caboclo que tomava seu café e caía na estrada. Dei uma geral na al­cova e vi que até o penico estava lá, ilustrando o que ela nos contava. Conhecemos a Serra da Beleza, lugar muito alto. Reza a lenda que dali é possível observar discos voadores,

Fomos ao Túnel das Lágrimas, inteiro feito de pedras. A água pinga água sem parar na parte de dentro, e dizem ser lágrimas de escravos que morreram para construí-lo, abrindo caminho para a maria-fumaça. Os museus são interessantes e as casas têm nomes de músicas. A farmácia, por exemplo, foi batizada de Drogaria Melodia, e a estrada que liga a cidade à vizinha Valença chama-se Rodovia do Amor. Enfim, tudo na cidade transpira romantismo.

A tão esperada serenata foi transferida para o sábado porque a chuva não dava trégua na sexta-feira. Amanheceu o sábado e dá-lhe atividades. Nosso dia foi preenchido com inúmeros afazeres cul­turais. Enfim, a noite chegou e fomos pra seresta. Fiquei abismado com tanta gente. A concentração acontece numa praça, e a moça que coordena convidou-me pra me juntar a eles com meu violão.

Ela disse que apenas violões são permitidos porque eles valo­rizam a voz dos cantores e também do trovador. Aquela multidão, no maior respeito, caminhava dois quarteirões em silêncio, só se ouvia o som dos violões e as vozes dos cantores. De repente, a dama de uma casa abre a janela, o violonista faz um solo de “Carinhoso” e o trovador declama versos como antigamente. Arrepiava, eu me emocionei várias vezes.
A serenata é encerrada sempre com uma música. A moça
que comanda a seresta pediu-me que cantasse uma, me senti honrado e pedi pra minha primeira-dama cantar “Gente nova,” música minha e do Sócrates. Foi demais aquela multidão aplaudindo nossa música ao final da serenata.

Sexta conto mais.

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