Durante a Segunda Grande Guerra (1939-1945) os Estados Unidos tornaram-se a mais poderosa nação do globo ao lançar uma bomba atômica sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
Durante este período, passou a manter relações próximas com o Brasil, tanto que conseguiu levar nossos soldados para lutar contra as tropas nazifascistas na Itália, como também se ocupou em financiar a grande indústria de ferro em Volta Redonda. Até mesmo no estilo de urbanização da cidade era americana. Imediatamente sugiram ao seu em torno uma estanífera, a Barbará, a Edimetal, a Estrutural, White-Martins e a Dupont.
Os nossos aviões voavam em francês que foram substituídos aos poucos para o inglês. Não havia TV. Os rádios eram os reis da comunicação. Em Ribeirão Preto foi instalada uma das mais antigas estações, a PRA-7, portanto, mais velha do que a mais poderosa de todas que, como se vê, era a PRE-8, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
Tínhamos várias revistas, bem brasileiras. Para os adultos eram publicadas “O Cruzeiro”, a “Vida Moderna”, a “Careta”. E para as crianças tínhamos o “Tico-Tico”.
Após, a guerra, os costumes também foram alterados. As mulheres lavavam os cabelos, ficando loiras como as estrelas do cinema. Mais ainda, não só passaram a raspar os pelos do corpo, como a usar blusas sem manga, denominadas “manga japonesa”. Passaram a fumar cigarros em público.
Uma delas, a dona Elza atropelou a tradição local ao subir a General Osório dirigindo um automóvel, atraindo a atenção de todos, mas, principalmente, dos espantadíssimos frequentadores do Pinguim e da Paulicéia. Os homens abandonaram seu chapéu, mas continuavam com as gravatas. Os pouquíssimos automóveis deixaram de lado o econômico gasogênio e voltaram a usar a gasolina.
Havia um refrigerante preto denominado Guará, que não era guaraná. A Emilinha Borba ainda cantava na Rádio Nacional um “jingle”: “Guará, guará, guará, melhor refrescante não há”. Foi logo substituído por outros que tinham e têm sobrenome de “cola”. Mas não só aqui as coisas passaram a mudar.
Um dos principais autores infanto-juvenis era Monteiro Lobato que acabou preso pois insistia em dizer que no Brasil havia petróleo. Na época, a sua insistência era crime contra a segurança nacional, especialmente os que defendiam a criação de uma Petrobras. Hoje o Brasil é um dos maiores produtores de petróleo do mundo…
As crianças estudavam pela “Cartilha Sodré” e, quando podiam, liam a revista “Tico-Tico”, que tinham como personagens principais Reco-Reco, Bolão e Azeitona. No final dos anos, os bons alunos ganhavam dos pais, como homenagem ao esforço, o “Almanaque do Tico-Tico”. Grande prêmio.
Um dos mais lidos cronistas do “Tico-Tico” era o vovô Felício, na vida real João Batista Guimarães, primo do médico e diplomata Guimarães Rosa, de família de Cordisburgo, cidadezinha mineira ao lado da maravilhosa Gruta de Maquiné, terra de gênios.
Surgiu então a Revista do Pato Donald. Tinha uma configuração muito diferente. Os seus principais personagens não se casavam, como o Donald que era e é até hoje tio perpétuo dos sobrinhos. O pato era amigo do Disney que mantinha também um namoro perpétuo com a sua namorada. Até hoje. O único casado era o Pateta que, segundo as más línguas, era casado porque era pateta. O Tio Patinhas era rico, mas não trabalhava porque sua fortuna derivava da “moeda milagrosa” que os Irmãos Metralha levavam a vida querendo roubá-la.
Muita coisa mudou daquela época. Muita coisa morreu. O Pato Donald matou o Tico-Tico. Que pena!