O furo de reportagem na morte de Castelo Branco
No dia 18 de julho de 1967 fomos à casa do José Luiz Zorzenon, proprietário da loja A Instaladora, para tentarmos um contato com Manaus, onde alguns fatos estavam ocorrendo e tinham ligações com Ribeirão Preto. Naquele tempo não havia como falar na Amazônia a não ser com espera de muitas horas, no aguardo da transmissão ponto a ponto do telefone magneto. A única forma de tentar um contato era através do rádio amadorismo, o PY que José Luiz operava e ajudava a muitas pessoas que necessitavam dos préstimos para conseguir remédios no exterior e contatos com o Brasil nas mais distantes comunas.
Conexão complexa
No rádio amadorismo havia de se aguardar abertura da propagação de acordo com as manchas solares que ajudavam a que se conversasse no exterior e até próximo de sua localidade, sempre dependendo da tal propagação. José Luiz era paciente e ficava chamando aos colegas por prefixos e por códigos que só eles entendiam. Quando tudo estava facilitando a conexão com Manaus, eis que entra no meio da conversa um cearense dizendo para que todos os que operavam os rádios ficassem em silêncio que ele tinha um “QTC” (comunicado) de urgência. Havia ocorrido um acidente aviatório próximo do bairro Mandubim, perto do aeroporto de Fortaleza, onde ele estava vendo dentre os mortos, o general Humberto de Alencar Castelo Branco, que havia deixado a presidência do Brasil.
Avião da FAB bateu
O assustado cearense descrevia o que estava a sua frente depois de dizer que um jato de uma esquadrilha da FAB havia batido no avião bimotor em que se achava Castelo Branco, derrubando-o e matando seus ocupantes. Castelo Branco retornava de Quixadá, onde havia visitado a escritora Raquel de Queiroz. Toda a transmissão do rádio amador do Ceará foi gravada pelo nosso gravador Phillips que era o mais moderno que havia na época e que substituiu o italiano Geloso. Ao mesmo tempo seguíamos com a narrativa e com a transmissão do que recebíamos do aeroporto de Fortaleza para a nossa 79 – Rádio Ribeirão Preto, em edição extraordinária. Em seguida chegaram bombeiros, policiais, socorristas com ambulâncias etc.
Repercussão nacional
Imediatamente ligamos para a Rádio e TV Tupi onde éramos correspondentes no “Grande Jornal Falado Tupi”, dos Diários Associados. Gonçalo Parada era o diretor de jornalismo e quase sem voz procuramos colocá-lo a par do que estávamos acompanhando direto pelo rádio amador. Com toda a calma com que fazia o jornal falado com Corifeu de Azevedo Marques afirmava que os Diários Associados possuíam uma rede de correspondentes com teletipos (após o telegrafo e antes do fax) e nada havia chegado. Acreditava que era notícia falsa. Ainda falava com seus botões: – “Onde já se viu, colega de Ribeirão Preto afirmando que Castelo Branco morreu. Só pode ser notícia falsa”. Ato contínuo, telefonamos para a Rádio Bandeirantes onde possuíamos amigos que haviam passado por nossas emissoras e a resposta era a mesma, também aconteceu o mesmo na Rádio Nacional. Nós continuamos acreditando no cearense e transmitindo a notícia com gravações pela Rádio Ribeirão Preto, a 79.
Corrida atrás da matéria
Passadas algumas horas o nosso telefone da redação da Rádio começou a tocar insistentemente. Era o pessoal da Tupi, da Bandeirantes, da Nacional e de outras mais buscando as gravações que havíamos feito pelo PY, rádio amadorismo do José Luiz Zorzenon, que nos lembrou o fato em uma comemoração do aniversário do Larga Brasa há alguns anos.
Interrogação
A morte do general Castelo Branco foi cercada de interrogações, principalmente porque um grupo de linha dura iria sucedê-lo na presidência do país. Todas as investigações realizadas pelo pessoal da Aeronáutica não apontaram para qualquer tipo de dúvida. O caso foi encerrado. Persistem as perguntas até hoje. No entanto, ninguém fala mais nada. Em 18 de julho o fato completará 53 anos.