Em decorrência de compromissos profissionais e como turista, estive várias vezes na cidade de Dresden, na Alemanha. Nos dias 13 a 15 de fevereiro de 1945, a metrópole foi devastada por bombardeiros ingleses e americanos, que derramaram bombas explosivas e incendiárias, causando a morte de 25 mil pessoas e a destruição total da cidade. Era o início da tática de terra arrasada. Terminada a guerra, Dresden permaneceu na Alemanha comunista e sua reconstrução foi feita nos moldes da fria arquitetura soviética, exceto a cidade velha, que foi totalmente reconstruída como era antes.
Cidade histórica e de grande valor cultural, era chamada de Florença do Elba, em razão das inúmeras construções barrocas nas margens do rio que a banha. Hoje é a capital do Estado Alemão da Saxônia. Sua história tem mais de mil anos. Ela já foi principado, ducado e reino, atingindo seu auge no começo do século XVIII, com Augusto, o Forte (Augustus, der Starke), Rei da Saxônia e da Polônia, e príncipe eleitor do Império Germânico. Foi ele quem dotou a cidade com inúmeras construções renascentistas, fontes maravilhosas e palácios opulentos, fazendo de Dresden rival das grandes cidades europeias.
O ponto alto da cidade é o Zwinger, um conjunto de prédios ao redor de um grande jardim, onde Augusto mandou construir inicialmente pavilhões para o cultivo de plantas cítricas e depois seu Palácio Real. Erguido entre 1710 e 1719, o palácio foi o primeiro a abrir suas portas para mostrar ao povo suas riquezas, que eram imensas. Na Segunda Guerra Mundial, este acervo foi transportado para outro local seguro, levado para a União Soviética quando cessaram as hostilidades e devolvido à Alemanha depois da reconstrução. Hoje, é Patrimônio da Humanidade. Sua coleção de quadros é muito valiosa, com obras de pintores que fizeram a história da arte europeia. Mas, duas exposições arrebatam o visitante: o Acervo de Porcelana de Dresden e seu Tesouro.
No final do século XVII, somente a China conseguia fabricar porcelana que tivesse a cor branca imaculada, produto caríssimo e grande aceitação nas cortes europeias. Em 1689, Luís XIV, o Rei Sol francês, inaugura uma coleção de trezentas e oitenta e uma peças de porcelana chinesa no seu Palácio de Versalhes e em seguida constrói o Pavilhão de Porcelana, onde recebia sua amante, Madame de Montespan, numa cama chinesa, sob um teto decorado com pássaros da China e paredes cobertas com motivos daquele país.
Queria decorá-lo com porcelana francesa, mas os franceses não sabiam fazê-la branca. Também Augusto se interessa por porcelana e despacha seus agentes para comprá-la em qualquer lugar do mundo. De repente, tem uma ideia: por que não fazê-la na Saxônia? Contrata um alquimista, Johann Frederich Bottger, que lhe propunha transformar chumbo em ouro e o transforma em ceramista. Prende-o no castelo de Meissen até que consiga seu intento, o que ocorreu treze anos depois. A porcelana alvíssima de Meissen enche os cofres do Reino, permitindo mais obras na cidade.
Já o Tesouro está exposto sob a Abóboda Verde do Palácio Real e parece a caverna de Ali Babá. Distribuídos em 10 salas, ali estão incrustados em roupas, cintos, espadas, joias, objetos de uso pessoal e de decoração 4.999 diamantes,160 rubis, 164 esmeraldas, uma safira gigante, 16 pérolas e 319 outras pedras preciosas. O ponto alto da mostra, entretanto, é a sala dedicada a Johann Melchior Dingdinger, ourives oficial da corte, que entre outras obras fez em sete anos de trabalho uma plataforma de prata de um metro quadrado, comemorativa do aniversário do grão mogol indiano Aurangzeb, com 132 figuras de 5cm representando pessoas, animais e presentes, todos em ouro esmaltado e cravejadas de pedras preciosas.
Outras obras fantásticas do Renascimento estão na simpática cidade, que merece ser visitada.